Publicado 06/09/2025 05:00 | Atualizado 06/09/2025 07:15
Rio - Com 50 anos de carreira, Beth Goulart protagoniza o monólogo "Simplesmente eu, Clarice Lispector", em cartaz no Teatro Fashion Mall, com sessões de sexta-feira a domingo, até o dia 8 de outubro. No espetáculo, a atriz interpreta a escritora ucraniana do século XX e quatro personagens dela: Joana, da obra "Perto do Coração Selvagem"; Ana, do conto "Amor"; Lori, de "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"; e uma sem nome do livro "Perdoando Deus". Ela ainda é a diretora e idealizadora da produção.
Publicidade"Clarice nos surpreende em todos os momentos, porque tem uma literatura muito potente e nos faz ter novos olhares todos os dias... A passagem da escrita para o palco aconteceu quando deixei suas palavras ganharem corpo, forma, movimento e isso aconteceu dentro de mim, misturando meus sentimentos aos dela, minhas sensações as que ela propõe, minhas memórias junto as dela. Foi preciso um mergulho interno em mim mesma e, depois, nos personagens do espetáculo", comenta a artista de 64 anos.
A autora ucraniana é a figura central do monólogo, que explora assuntos como amor, silêncio, solidão e o mistério da existência. "Ela foi construída através de suas próprias palavras, de suas opiniões, declarações, e manifestações de sua alma. Todo o texto foi construído assim, na medida em que Clarice é uma autora que se revela em sua obra. O mergulho que fiz em sua obra foi um mergulho na alma dela e tentei traduzir com minha própria alma tudo o que vi e senti sobre ela", afirma a atriz.
Para Beth, o amor é o grande tema dos livros de Lispector, que morreu aos 56 anos, em 1977, no Rio, em decorrência de um câncer de ovário. "É através do amor que ela se apresenta como criadora diante do mundo, acreditando, realmente, que esse sentimento é a única salvação da humanidade e isso revela muito de sua personalidade, de quem ela gostaria de ser e como conseguiu conquistar seu propósito de vida".
As facetas de Clarice são representadas no monólogo através de personagens icônicas dela. "A primeira delas, Joana, que conheci do livro 'Perto do coração selvagem' - o primeiro livro que Clarice escreveu. Depois a Ana, do conto 'Amor', que representa a fase de vida em que Clarice se dedicou totalmente ao marido e aos filhos, essa personagem reflete muito bem essa vivência feminina e maternal. A Lori, do livro 'Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres', uma mulher que se prepara para viver um encontro amoroso e para isso precisa entender o real significado desse sentimento em sua vida", explica Goulart.
"A última mulher que passeia por Copacabana representa o humor e a inteligência de Clarice, é uma personagem que vai de Deus ao rato num passeio por Copacabana. Quase não se fala do humor na obra de Clarice Lispector, mas ela possuía um humor fino, rascante, cheio de compaixão por seus personagens, revelando seu ridículo e o patético da condição humana", acrescenta.
Idealizadora da produção, Beth conta que foram dois anos de pesquisa e seis de preparação até a estreia da peça, em 2019. Ao longo dos anos, o espetáculo percorreu 289 cidades no Brasil, alcançou cerca de 1,4 milhão de pessoas e conquistou prêmios. "Sinto que foi Clarice Lispector quem me impulsionou à ousadia de assumir meu olhar em todos os segmentos, assumir minhas escolhas e minha linguagem, minha estética e minha voz. Me revelo no espetáculo tanto quanto ela e nossa irmandade de almas aparece em cada detalhe. O tempo veio aprimorar essa conexão que se fortaleceu em cada temporada e aumenta em cada apresentação", avalia.
Inspiração
A artista participou da estreia do programa "A(u)tores", no Canal Futura, em abril deste ano, lendo Clarice com outros artistas. Para ela, a experiência foi maravilhosa. "É um programa importante, que estimula a leitura na vida das pessoas e de como a leitura é fundamental para a construção de quem somos. Falar de Clarice para mim é sempre uma alegria, porque falo com meu coração sobre como ela foi importante e significativa na descoberta de mim mesma, como encontrei em suas palavras uma forma de expressar meus estados de alma, de valorizar o silêncio, de observar os pequenos detalhes da vida que fazem toda a diferença na trajetória de cada um, e, como pude agradecer por tudo isso através de meu trabalho".
'Tudo me atrai para voltar às telas'
Com papéis marcantes em novelas como "Marina" (1980), "Selva de Pedra" (1986), "Perigosas Peruas" (1992), "O Clone" (2001), "Paraíso Tropical (2007) e "Três Irmãs (2008)", Beth está afastada dos folhetins desde "Gênesis" (2020). Ela, então, analisa o atual momento da televisão e das plataformas de streaming, e revela o que poderia lhe trazer de volta às telinhas.
"Tudo me atrai para voltar às telas. Minha arte vive da comunicação, da capacidade de tocar as pessoas e para isso todo instrumento é bem vindo, toda forma de comunicação interage e provoca questionamentos, essa é a função primordial da arte. Sigo meu caminho contribuindo da maneira que posso a esse propósito de servir a arte de todas as maneiras possíveis, na interpretação, na direção, na escrita, nas dramaturgias, nas palestras, nas entrevistas, na produção de conteúdos significativos para meu tempo e para meus valores diante da vida", destaca.
Participação em filme
Beth faz uma participação especial como Maria Júlia no filme "O Advogado de Deus", dirigido por Wagner de Assis e protagonizado por Nicolas Prattes. A produção é uma adaptação do livro de Zíbia Gasparetto. "Minha personagem é muito bonita. É um resgate de vidas passadas e ela assume com toda abnegação e amor, compreendemos através dela a escolher o caminho do bem, a aceitar os limites, a amar incondicionalmente. O público vai descobrindo a história no decorrer do filme e vai se surpreendendo com as revelações que vão aos poucos sendo mostradas. O que é mais importante na evolução do ser humano, a justiça dos homens ou a justiça de Deus? Esse é o questionamento que o filme nos leva a fazer", diz.
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