Publicado 21/05/2023 07:00
Rio - A atriz Regiane Alves está feliz da vida com o sucesso de sua personagem, Clara, na novela "Vai na Fé", que ocupa a faixa das 19h, na TV Globo. Aos 44 anos, Regiane tem uma trajetória de sucesso, que começou com "Fascinação", no SBT, em 1998. De lá para cá, já são mais de 45 trabalhos entre cinema, televisão e teatro.
Vítima de um relacionamento abusivo, com grande rejeição por parte do marido, a personagem Clara tem encontrado na personal trainer, Helena (Priscila Sztejnman), o carinho que precisa e a motivação para se conectar consigo mesma. Regiane abre o coração e fala sobre a importância de falar sobre relacionamentos abusivos.
"A gente sempre teve muito a referência de que o relacionamento abusivo só acontecia em classes mais baixas. E essa novela está aqui para mostrar que não, isso realmente acontece em todos os níveis sociais, não é só uma matéria de jornal. É uma coisa que acontece. O resgate que a Helena traz para ela (Clara), a forma que ela vem se descobrindo, com uma força muito feminina, é muito bonito de ver", afirma a atriz.
O sucesso de Clara e Helena é tanto, que elas já têm até um fã-clube. "Clarena", junção do nome das duas personagens, vira e mexe está entre os tópicos mais comentados do Twitter, principalmente nas cenas mais românticas. Regiane acredita que tamanha repercussão tem a ver com a identificação dos telespectadores com a história dessas mulheres, que estão prestes a se tornar um casal.
"Acho que tem uma coisa do público se ver representado no meio de uma trama e não no final da novela, isso dá uma expectativa muito grande, com um retorno que é maravilhoso. Fazer um papel desse tem uma importância tamanha e as cenas do primeiro beijo tiveram uma forma de ser conduzida muito bonita, com uma delicadeza, sabe? Acho que estamos acertando. Vejo que a população LGBTQIA+ tem se identificado, querem ser vistos, representados... E acho que esse é o segredo de 'Vai na Fé', quando você coloca os evangélicos, os negros, os gays, as pessoas, a vida como ela é", afirma a atriz.
De vilã para a mocinha
Acostumada a fazer vilãs, como a Dóris, de "Mulheres Apaixonadas", que batia nos avós idosos, Regiane Alves conta que está sendo uma experiência muito diferente lidar com o público agora que faz uma personagem que conquistou o carinho dos telespectadores.
"Eu sempre fiz vilãs, mulheres malcriadas, e isso me distanciava do público. Antes de 'Vai na Fé', cheguei a receber um convite para 'Malhação', em que interpretaria uma personagem que também sofria com a rejeição do marido, mas acabou não dando certo pela pandemia, e agora me veio a Clara. É tão bom ouvir do público: 'Nossa, você me representa, você me fez dar uma virada'. É uma identificação maior de quem antes respeitava meu trabalho como atriz, mas se distanciava da personagem. É uma troca muito mais próxima", explica.
A artista revela que é comum que pessoas, quando a encontram nas ruas, peçam para ela dar uma lição em Theo (Emílio Dantas), para reagir e sair dessa situação de abuso enfrentada na trama. "Eu demorei para voltar a TV depois da pandemia e tem sido muito gostoso viver isso. Acho que há tanto tempo não tenho um personagem que caia no gosto popular e para outro público”.
Uma virada de chave
Uma virada de chave
A atriz também comemora o fato de estar "conversando" com um público diferente, a comunidade LGBTQIA+, através da Clara. Para Regiane, a personagem também prova que as pessoas precisam estar bem consigo mesmas antes de encararem um relacionamento.
"Vejo que é uma virada de chave para entender que 'você sempre é sua melhor amiga', como diz minha terapeuta. E nesse aspecto, todo tipo de amor é possível, desde que você se ame primeiro. Então é muito bom, como atriz, poder fazer esse personagem... Fico muito feliz de falar com outro público que eu nunca falei e que é tão participativo".
Sobre os próximos capítulos da trama, Regiane revela que Clara tem contado com o apoio de Helena e do filho para se livrar do casamento, já que depende financeiramente do marido. Ela fala ainda sobre a importância que o novo relacionamento tem para empoderar a ex-modelo.
“Essa personagem (Helena) também ajuda a Clara a se redescobrir. Principalmente nesse caso, onde ela fica dependente do Theo. Ela recebe uma proposta para trabalhar, relembra os tempos de modelo... E isso é muito bom, pois a vida é justamente sobre isso, encontrar o seu caminho. É muito bacana ver como tudo isso está sendo construído, como ela está tentando se achar e, ao mesmo tempo, fazer com que ela se livre desse marido”.
Longa carreira na TV
Com 24 anos de contrato ativo com a TV Globo, a atriz diz que se sente feliz por mesmo diante de tantas personagens, trabalhar com temas que caíram nas graças do público ao comunicar as relações humanas, o que, segundo ela, é um fator de extrema relevância para alcançar as pessoas.
"Quando a gente fala sobre as relações, que é uma coisa que Manoel Carlos falava muito, e eu fiz três novelas dele, eu acho que é uma identificação imediata. E isso acontece pois existe um conflito e isso é universal. 'Mulheres apaixonadas' reprisou depois de 20 anos e quando eu vi pensei 'as questões são as mesmas ainda'. Acho que é muito disso. Quando tem sentimento, relações, você toca o público", analisa.
A artista conta como fez para se consolidar na carreira e construir essa trajetória de mais de duas décadas na TV. “Como atriz eu acho que fui construindo, mas nunca acreditei tanto nem no meu sucesso e nem no meu fracasso. Acho que sempre tive esse olhar de ir caminhando, evoluindo, aprendendo com cada personagem... Sempre foi meu pensamento, oferecer o melhor do que eu pude naquele momento”.
"Meu melhor papel é ser mãe"
Mãe de João Gabriel e Antônio, Regiane Alves diz estar sempre atenta à educação dos filhos, que são frutos do extinto casamento com o direto João Gomes. “Eu faço questão de ser muito participativa. Esses dias um foi fazer um passeio, fui buscar ele na saída da escola, queria que ele me contasse como foi... Então, almoçamos juntos e vim gravar. Gosto de estar próxima, olhar agenda, fazer a lição juntos, ler um livro, colocar para dormir... Você vê o mundo através deles, com o olhar que eles têm em determinada situação".
Com um ano de diferença entre os filhos, a mãe coruja diz ter orgulho da personalidade que os dois estão construindo. "São duas crianças da mesma mãe, com personalidades muito diferentes. O melhor papel que eu tenho é ser mãe, deve ser o que de melhor sei fazer. É um cansaço muito grande, mas é um prazer que só quem é mãe sabe”, garante.
Para eternizar a relação com os filhos, Regiane lançou o livro “Uma Ilha Fora do Mapa”, em que fala da poluição nos oceanos. Os personagens da trama são Antônio e Gabriel, que em um primeiro dia de férias, são capturados pelo mar e recebem a possibilidade de voltar a terra para fazer tudo diferente.
“Eu queria deixar algo para eles, nessa infância... A gente estava em pandemia, não dava para fazer uma peça e eu não queria que passasse muito. Então nesse livro, a gente vai para a praia e eles são capturados pelo mar, onde recebem vários questionamentos do mundo marinho sobre os motivos do humano descartar tantos resíduos de forma incorreta e prejudicarem a vida dos oceanos. Eles voltam a terra e têm a oportunidade de mudar tudo. É uma forma de educar, né? E foi incluído inclusive no Plano Nacional do Livro, sendo usado em escolas”, comemora.
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