Publicado 29/09/2024 05:00
Rio - O rapper MV Bill, de 50 anos, está de volta em novelas, na nova trama das 19h da TV Globo, "Volta por Cima". Ele interpreta Lindomar, um motorista de ônibus que infarta ao volante no último dia de trabalho, resultando em um trágico acidente que deixa sua família, composta pela mulher Doralice (Teresa Seiblitz) e as filhas Madá (Jéssica Ellen) e Tati (Bia Santana), em luto. Embora seu personagem morra logo no início da novela, ele aparecerá em flashbacks ao longo da trama. Em uma entrevista, o artista compartilhou detalhes sobre a música que compôs para o personagem, refletiu sobre a carreira e relembrou histórias de superação do passado. A estreia da novela acontece na próxima segunda-feira (30).
PublicidadeComo é retornar às novelas? Gosta desse trabalho como ator?
Voltar a atuar na TV aberta é muito prazeroso, para mim está sendo muito bom. Eu fiz algumas coisas no streaming e cinema, mas a televisão tem uma outra magia, é diferenciada. Ao mesmo tempo que é um trabalho muito árduo, é também muito prazeroso. Eu estou muito feliz de ter tido a oportunidade de dar vida pra um cara tão legal como Lindomar, de estar fazendo um personagem do qual eu me identifico bastante, tem muito do meu jeito nele. É um presentão. Esse ano eu completei 50 anos e recebi o convite para fazer "Volta por Cima", esse é o meu presente.
Me fala um pouquinho sobre o personagem?
Lindomar é um sujeito pacato, chefe de família, cidadão brasileiro, bem-humorado, sorridente, de bem com a vida, mas ao mesmo tempo, ciente da realidade que ele vive. Ele é muito preocupado com seu núcleo familiar e com o que ele vai deixar, tanto de ensinamentos, legado, e de estrutura para sua família. Ele tem um apego muito forte com a Madalena, que é a filha mais velha, e é quem vai, no futuro, acabar sendo responsável pela família.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou para fazer o Lindomar?
Cada personagem que interpreto considero desafiador, porque na maioria das vezes eu preciso sair do que sou no meu cotidiano para interpretar alguém que eu não tenho essa vivência. No caso do Lindomar, apesar de eu não ser motorista de ônibus e não ter a rotina dele, eu me identifico com as falas e com o jeito de ser, a forma com que ele trata as pessoas, o amor que ele tem pelo trabalho e com ele preza e defende a família. O maior desafio é conseguir passar a mesma doçura que esse personagem tem.
A novela se passa no subúrbio. Você se identifica com a trama central, se vê no Lindomar de alguma forma?
Tenho muita identificação com o subúrbio, apesar de ser nascido e criado na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, que é mais próximo da Barra da Tijuca e da praia. Eu frequentei muito Irajá, Marechal Hermes, Pilares, Guadalupe e Madureira, principalmente o baile Charme que tinha embaixo do viaduto. Madureira é meu time de coração. Eu passei muitos anos da minha vida pegando ônibus 701 que fazia terminal Alvorada até o terminal Madureira. Uma curiosidade: a música "A Noite", parte dos versos eu escrevi dentro do busão. Agora, eu estou tendo a felicidade dessa faixa fazer parte da trama.
Seu personagem é um dos motoristas de ônibus da Viação Formosa. Como foi mergulhar nesse universo do transporte rodoviário do Rio de Janeiro? Tinha alguma 'intimidade' com esse ambiente antes?
Minha experiência com ônibus era somente como usuário. Muito tempo da minha vida andei de ônibus. Depois de fazer as preparações para dar vida ao Lindomar, eu comecei a ver o universo que eu passava perto, mas não conhecia tanto, que é a vida de um motorista de ônibus no Rio de Janeiro. Além de dirigir com responsabilidade, ele tem que ficar atento para não deixar as pessoas se machucarem na hora de abrir e fechar a porta. Às vezes tem que dirigir e dar troco ao mesmo tempo, para quem não tem bilhete ou cartão de passagem. Ou seja, é um universo que eu achava que conhecia, mas descobri que não conheço nada. Muita coisa eu já estou levando pro meu dia a dia, se eu estiver dirigindo e vejo um ônibus tentando passar, eu sempre dou passagem, fico imaginando que pode ser um Lindomar naquele volante.
Você compôs uma música para o personagem. Conta sobre essa criação, de onde veio a inspiração?
As primeiras informações que vieram para mim sobre o Lindomar foram coisas ligadas ao trabalho dele, como motorista de ônibus. E aí, em uma dessas preparações e testes de figurino eu vi escrito 'Lindomar - roupas de samba'. E pensei: 'pô, o Lindomar é do samba também, né?'. O personagem toca bandolim e bebe cerveja de forma moderada, socialmente. Liguei para o meu amigo produtor e pedi pra ele produzir um samba rap. Saí desse teste de roupa e fui direto pro estúdio e escrevi a música na hora. Gravei despretensiosamente, queria lançar próximo da novela para movimentar minhas redes sociais. Apesar de saber que ele sofreu um acidente, acontece um monte de coisa com ele e ele precisa de ajuda, quis fazer um Lindomar de uma vida que não tem fim, um sonhador. O Lindomar que não morre, ele é eternizado, como gostaria que as filhas lembrassem dele.
Você tem uma carreira consolidada na música. Como se sente ao explorar novas formas de arte, como a atuação?
Eu tenho feito algumas coisas como ator, mas o meu principal continua sendo a música e de forma paralela eu venho fazendo outras coisas. Antes de fazer o Lindomar, fiz séries, filmes, animação e agora estou tendo esse prazer de dar vida a um trabalhador brasileiro que vive a dualidade de muitos de nós, querendo ter mais tempo para a família, porém com mais recursos. O Lindomar está feliz porque vai se aposentar mas também está muito preocupado porque sabe que vai receber menos e vai ter um orçamento menor para sustentar a família. Ele tem uma preocupação com sua filha Madá que já teve que parar de estudar para poder ajudar em casa. Eu, Bill, vivi isso na minha infância, abandonei a escola contra a minha vontade, eu gostava muito de estudar, mas a necessidade de trabalhar acabou falando mais alto. O Lindomar me faz rever coisas que já aconteceram na minha vida e histórias que eu já vi serem repetidas ao meu redor.
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