Klara CastanhoWebert Belicio / Agnews
Publicado 03/11/2024 05:00
Rio - Após nove anos longe das novelas, Klara Castanho, de 24 anos, retorna às telinhas com a personagem Eugênia em "Garota do Momento", na faixa das 18h, da TV Globo, que estreia nesta segunda-feira (4). Na trama, ela interpreta Eugênia, filha de Alfredo (Eduardo Sterblitch) e Teresa (Maria Eduarda de Carvalho), que carrega profundas marcas emocionais e físicas de um acidente que deixou cicatrizes em seu braço na infância. Na entrevista, a atriz dá mais detalhes da personagem, que é amiga de Bia (Maisa), fala sobre novo desafio profissional, planos futuros e mais. Confira. 
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- Sua última novela foi "Além do tempo" (2015). É um recomeço voltar às novelas? Qual é o sentimento?

Nesses anos longe, trabalhei e aprendi muito. Estou com 24 anos, saí daqui com 16. É tudo muito diferente. O olhar é diferente, o profissionalismo é diferente. Minha mãe sempre me deu uma educação regrada para que eu pudesse me adaptar bem a qualquer situação de trabalho e na vida, claro. Mas volto com uma consciência mais adulta, de fato. De me portar bem, de respeitar horário, respeitar coleguinha de trabalho, da gente saber o nosso momento de brincar e o nosso momento de falar sério, de conseguir juntar as duas coisas. Então, de fato, essa bagagem que eu pude adquirir, com certeza, me ajuda a estar aqui mais tranquila do meu trabalho e conseguir me curtir mais.

- O que te fez aceitar fazer "Garota do Momento" após anos longe?

A gente está tratando de assuntos muito legais e relevantes, de uma forma muito maravilhosa. É uma personagem incrível que estou fazendo com todo o cuidado do mundo. Já quase trabalhei com a Natalia Grimberg há um tempo atrás, nossa diretora artística. Quando eu entrei no projeto tinha poucos nomes. Depois a Maisa me ligou pra contar, 'amiga, vou fazer uma novela das 18h'. E eu respondi 'eu também'. Ficamos muito felizes. O universo foi se alinhando para que tudo desse muito certo para gente estar aqui hoje.

- Novela de época tem um gostinho especial?

É completamente diferente, que coisa maravilhosa! Mas tenho questões com Rio de Janeiro, e novela de época, são muitas camadas de roupa, tem anágua, tem coisa para dar estrutura na saia. Mas é tão maravilhoso, você coloca o figurino e já se porta diferente. Você cria uma forma de falar diferente. Meu maior desafio são as gírias da época. A gíria que não pode mudar, é um cuidado muito minucioso. O texto, o figurino e esse corte de cabelo automaticamente me transportaram para (a década de) 50. Tudo é muito diferente. Com todo o respeito, na minha opinião, as novelas de época são as mais lindas que existem.

- Sentia falta do ritmo intenso de gravar novela?

É um momento feliz da minha carreira. Estou muito realizada. Ligo para minha mãe diariamente falando: 'não acredito que está rolando'. Gravar uma novela é uma maratona. É de segunda a sábado, na hora que precisar. Muito mais puxado que gravar série e filme, porque a gente tem que ter uma agilidade imediata. São capítulos diários, tem a expectativa de público, a gente tem que se divertir, tem que entregar um bom trabalho, tem que ter química com as pessoas que estão com a gente. É realmente uma maratona, mas é uma maratona tão gostosa que você chega no final do dia, toma um banho quente e fala 'vamos decorar o teste amanhã'. 

- Você teve que encarar um novo visual para essa personagem. Você se assustou com esse cabelo curtinho?

Jamais, sou apaixonada por cabelo curto, e cada vez mais curto. Falo que o sonho da minha vida é um personagem me botar para raspar na cabeça. Esse corte me ajudou muito a criar personagem, me colocou exatamente onde eu tinha que estar na história, me estabilizou, porque independente da roupa que eu puser, eu estou 1950. Foi um facilitador nesse processo de entender como me colocar nesse ambiente.

- Como é trabalhar com a Maisa? Vocês fizeram a série 'De Volta aos 15' juntas. Se sente mais confortável em estar em um projeto com ela?

É maravilhoso você ter uma pessoa que você conhece e que é sua confidente, nos falamos pelo olhar. Mas, principalmente, acho que viver aventuras novas com quem você ama é muito maravilhoso. Tenho um elenco maravilhoso na minha família e amigos da novela. A Debora Ozório é um grande presente e Pedro Goifman, que faz o Guto, também. São aventuras muito legais de viver com quem você ama e são pessoas que automaticamente nos conectamos. Óbvio que trabalhar com a Maisa, com quem eu tenho uma intimidade de quase oito anos, é incrível. Agregar também a essa amizade é maravilhoso.

- Eugênia tem uma queimadura e questões com a aparência e autoestima. Como você vem trabalhando isso na personagem?

Falei com uma menina que passou por uma situação onde ficou com cicatrizes em algumas partes do corpo e eu quis ver exatamente como ela me contava essa história, onde doía, onde parecia doer, onde o olhinho marejava para justamente passar isso para o público, porque ainda bem que sou uma mensageira de uma história que é muito real. Muita gente tem cicatrizes que não gostam de mostrar ou que não gostam de contar a história. Então, é maravilhoso poder ser a porta-voz disso e eu estou tomando muito cuidado para falar, para tocar, para mostrar. A gente tem cenas muito delicadas mostrando o primeiro momento que o público percebe e recebe a imagem das cicatrizes, é muito emblemático e cuidadoso. Estou fazendo com muito amor e cuidado para que as pessoas se reconheçam e se compadeçam.

- Você está em um núcleo familiar hilário. Você dá risadas nos bastidores? Como está sendo essa família?

Está sendo a maior prova de fogo da minha carreira, porque foi a primeira vez da minha vida que eu não consegui dar uma fala. Tive uma crise de riso que eu era só 'um guardanapo e cabelo'. Vocês vão rir nessa cena também porque o Edu ficou vermelho de tanto que a gente estava dando risada e eu não conseguia dar minha fala. É uma das experiências mais leves que eu já tive. A gente se conectou muito rápido. Quando gravamos com o cenário inteiro da minha casa, isso quer dizer que a vamos ficar ali muito tempo e, provavelmente, vai estourar o horário.

- Você estudou sobre a década de 50 para fazer essa novela?

Não faço nada na minha vida sem estudar. Sou muito meticulosa em tudo que crio, faço, porque nada mais justo quando te colocam no personagem, te presenteiam, te dão essa responsabilidade, de você ir atrás de cada descoberta, de cada movimento, para que você de fato esteja internalizado e habituado com aquele assunto. Como é que em 1958 as meninas corriam com esse salto? Como é que era essa mão? Sempre tive esse cuidado em todos os momentos da minha vida, mas principalmente retratando uma década e uma época tão distante, que eu não tenho ligação alguma, pois nasci muitos anos depois.
- Você também está no ar com "Viver a Vida" (2009), no Viva. Como você se vê depois de tanto tempo?

É muito maravilhoso porque agora assisto como espectadora, porque não lembro de quase nada. Estava falando com a Lilia Cabral, que é muito maravilhoso. Quando a gente estava fazendo era muito insano de novela de Manoel Carlos, era a minha primeira novela, eu não sabia direito como é que fazia, o que que não fazia. Agora eu assisto como espectadora falando: ‘meu Deus, mentira que isso acontece’.

- Você vem de atriz mirim. As pessoas te ligam à personagem Rafaela, de "Viver a Vida"?

Muito! Ainda mais de franjinha, né? Franjinha automaticamente vira Rafaela. As pessoas odeiam a Rafaela, o que acho ótimo. Vibro com isso, era exatamente o que a gente precisava. É maravilhoso estar no ar ao mesmo tempo com as duas coisas completamente distintas, em esferas completamente diferentes, em horários diferentes. Cada mensagem de carinho que eu recebo falando 'estou tão feliz de você voltar para novelas', é um acalento no coração. Que bom que eu insisti para estar aqui.

- Você costuma rever seus trabalhos e pontuar o que funcionou bem e o que poderia ter sido diferente?
Em "Viver a Vida" não porque eu era muito pequena. Estava muito no parquinho, vivendo uma vida nova e realizando um sonho diferente. Porém, de trabalhos mais recentes, com certeza. Olho e falo, 'ai, por que que piscou agora?', 'Podia ter dado uma respirada diferente'. Hoje em dia, sou muito mais autocrítica das coisas recentes. Mas, de mais novas, eu estava aprendendo e sendo a coisa mais pura que eu poderia entregar naquele momento. Só posso olhar com muito carinho.
- Você trabalha para tirar esse estigma de criancinha?

Já tive essa fase. Hoje em dia percebi que é muito mais inteligente abraçar, porque tenho cara de criança, já entendemos. Mas fui envelhecendo também nas narrativas. Tudo que é uma história que a menina tem 16 anos, e é uma história muito barra pesada, vai ser para mim. Porque essa cara de criança, esse rosto mais jovial, me permite trazer histórias mais densas, porque uma menor de idade não poderia viver. Quando você tem 18 anos, você quer parecer ter 18 anos, mas tem 5 anos que eu fiz as pazes com isso. Só estou aproveitando enquanto essa cara de jovem me permite.

- Tem vontade de fazer uma personagem mais velha?

Tenho vontade de viver tanta coisa. Tenho vontade de 'ir para mais idade' e voltar a personagens mais doentes, vilãs, mocinhas, vítimas, agressoras, o que quer que seja. Estou aberta a viver experiências no meu trabalho, que é onde eu mais me realizo. Então, onde me colocarem eu prometo que eu vou dar o meu melhor.

- O que espera de 2025?

Espero ter muitas viagens maravilhosas com a minha família, muitos trabalhos incríveis. Espero que a gente esteja num lugar melhor de sociedade, que a gente esteja cada vez mais ciente e acolhedor com o outro e que a novela esteja sendo um sucesso.
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