Publicado 13/05/2022 07:00
Rio - O historiador Jonathan Raymundo e o filósofo e articulador cultural Rodrigo França lançaram recentemente o livro "Pretagonismos", que chegou às livrarias pela editora Agir. Com a intenção de destacar o protagonismo de pessoas pretas e certos de que "narrativas constituem instrumentos de poder", Jonathan e Rodrigo reuniram na obra textos de diferentes formatos, entre ensaios, relatos pessoais, crônicas, contos e poemas escritos por 28 personalidades atuantes nas mais diversas áreas.
O livro conta com a participação da cantora Elisa Lucinda, da educadora Anielle Franco, do ator Érico Brás, da jornalista Flávia Oliveira, da cantora e ativista Narubia Werreria, representante da voz indígena, entre outros.
Jonathan explica como surgiu o conceito por trás do título "Pretagonismos". "A ideia é brincar com a questão do preto, da preta, e a posição de protagonismo dentro das múltiplas cenas. Eu e Rodrigo adotamos esse termo que foi criado pela multiartista Valéria Barcellos, que inclusive é uma das autoras do livro", explica o historiador.
A obra mostra a potência e a pluralidade das vozes negras, que muitas vezes são colocadas em uma posição de inferioridade. "Uma das violências que o racismo produz é a ideia de tornar todos os negros uma coisa só. A importância de trazer um livro como esse é mostrar a nossa diversidade quanto a experiência profissional, quanto a vivência, inteligência... Esse livro tem a importância de mostrar como somos diversos e assim fazer um contraponto a lógica simplista do racismo", completa.
Além de organizador do livro, Rodrigo França também assina um dos textos da coletânea. O filósofo, que também é autor do livro "O Pequeno Príncipe Preto", ressalta que homens e mulheres negros sempre contaram suas histórias. "Na verdade, negros e negras, assim como indígenas, sempre contaram a sua própria história, sempre se colocaram como protagonistas. A questão é que publicar é lugar de poder. Encenar, dirigir um filme são lugares de poder", afirma Rodrigo.
Jonathan acredita que já houve um avanço nessa questão, mas que ainda há um longo caminho a percorrer. "A comunidade negra brasileira é cerca de 56% da população e consome e movimenta um trilhão e 900 bilhões de reais por ano. Você tem um mercado consumidor óbvio, claro, latente, e que está ansioso pra ouvir as suas próprias histórias e se ver".
Rodrigo, inclusive, comemora o fato de ser referência para tantos jovens negros. "Eu fico muito emocionado em saber que a minha existência estabelece um novo paradigma de referência positiva. Construir uma história, uma imagem de exemplificação positiva não é fácil, mas é gratificante porque inspira e possibilita que se deixe algum legado".
Abolição da escravatura
No dia em que é comemorada a abolição da escravatura, Jonathan afirma que a data é importante para trazer reflexão. "Há um bom tempo que o movimento negro instituiu o dia 20 de novembro como um contraponto ao 13 de maio, sempre utilizado pela história oficial como uma saudação a princesa Isabel, sempre numa posição de salvadora, de redentora... Por conta disso, instituímos o 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, como data de comemoração e também de reflexão e de orgulho da luta negra", pontua.
"No entanto, 13 de maio é uma data importante e fundamental para a gente refletir sobre o processo histórico da abolição e o seu alcance real na produção de cidadania, acesso e direitos humanos das populações negras e indígenas no Brasil", diz o historiador.
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