Paola CarvalhoDivulgação
Por MARTHA IMENES
Publicado 18/03/2021 08:00
O fim do auxílio emergencial em dezembro deixou 68 milhões de pessoas, que perderam a fonte de renda por causa da pandemia de coronavírus, que receberam o 'seiscentão' e o 'trezentão' a ver navios. Com uma demora de três meses, e sem a pandemia de coronavírus dar uma trégua, o Congresso aprovou o retorno do benefício, mas muito menor que o necessário para sobreviver: o valor vai de R$ 150 a R$ 375.
Parlamentares e organizações têm defendido o retorno dos R$ 600, já vetado pelo governo Bolsonaro.
Levantamento do movimento Renda Básica Que Queremos, responsável pela campanha #auxilioateofimdapandemia, mostra que o teto de R$ 44 bilhões definido pela PEC Emergencial deixará um em cada quatro beneficiários fora do auxílio emergencial deste ano - algo em torno de 17 milhões de brasileiros. Para reivindicar o 'seiscentão', movimentos sociais vão fazer uma grande manifestação virtual, em todo o país, pela volta do auxílio até o fim da pandemia.
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Para comprovar que os valores aprovados para as parcelas são insuficientes para manter uma família com três ou quatro pessoas. Paola Carvalho, diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, uma das organizações que participa da campanha, foi ao supermercado em Porto Alegre (RS) no início de março, enquanto a PEC era discutida, para checar o que é possível comprar com esse dinheiro. Resultado: ela gastou R$ 254,48 para adquirir apenas duas caixas de leite, cinco quilos de arroz, dois pães para sanduíche, dois quilos de café, duas garrafas de óleo, três quilos de feijão, três quilos de farinha, três quilos de açúcar, um pote de margarina, e dois quilos de carne moída.
"Legumes, verduras e frutas ficaram de fora da lista. Para cozinhar, é necessário gás e um botijão não custa menos de R$ 90", diz Paola. O vídeo mostrando as compras pode ver visto em https://fb.watch/4i5b3aSEF3/.

Sem o auxílio
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Mãe de 4 filhos, Paula Castro dos Reis, de 37 anos, moradora da Pavuna, perdeu a fonte de renda por conta da pandemia. Ela era vendedora e trabalhava na rua e vendia em casa. Mas com o coronavírus perdeu sua única fonte de renda. "Para não faltar comida na mesa faço faxina, passo roupa, dou um jeito", diz. 
Paula conta que só conseguiu receber uma parcela da primeira leva do auxílio emergencial no ano passado. As demais foram conseguidas judicialmente. "Esse novo auxílio vai ajudar com o básico do básico, mas nem sei se vou receber porque eles já disseram que vão usar o cadastro antigo e meu benefício veio por meio judicial", lamenta.  
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Manifestações
O dia 18 será marcado por várias manifestações mostrando aos governantes que o valor proposto como auxílio emergencial é insuficiente para manter uma família com condições minimamente dignas. Serão espalhados lambes, ilustrações e projeções pelas principais capitais do país chamando a atenção para o agravamento da fome e da miséria no Brasil.

Como afirma Douglas Belchior, professor da Uneafro Brasil e membro da Coalizão Negra por Direitos, tem gente com fome e morrendo. "Vivemos um estado de guerra, de barbárie. É desolador ver governos que não se importam com a vida dos mais pobres e não possuem políticas de combate à doença", afirma. Para ele, o auxílio de ao menos R$ 600/mês até o fim da pandemia seria o básico. "Mas a maioria do Congresso e o governo federal prefere manter políticas de morte e não de vida. Ou damos um fim no governo Bolsonaro ou ele dará fim ao Brasil", finaliza.
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Pesquisas
Dados do IBGE mostram que os alimentos subiram 15%, praticamente três vezes a taxa oficial da inflação, que foi de 5,20% em um ano. Os itens com maior alta foram óleo de soja (87%), arroz (70%), batata (50%), e carne (30%).
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O indicador de inflação por faixa de renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem consistentemente provado que a inflação de alimentos é mais perversa para os mais pobres. Pesquisa DataFolha mostrou que mais da metade (53%) daqueles que receberam ao menos uma parcela do auxílio emergencial em 2020 usou os recursos para a compra de alimentos. Por isso, a luta pela volta do patamar de R$ 600/mês para o auxílio emergencial pode ser comparada a uma luta contra a fome no Brasil.

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