Canal de Suez ficou obstruído durante quase uma semana por um navio cargueiro giganteAFP PHOTO / SATELLITE IMAGE ©2021 MAXAR TECHNOLOGIES
Por iG
Publicado 31/03/2021 18:49
São Paulo - Responsável por cerca de 13% do comércio marítimo global, o Canal de Suez ficou em evidência nos últimos dias por um bloqueio de seis dias provocado pelo navio Ever Given, de 400 metros de comprimento, que gerou engarrafamento de outros navios e atrasos, que devem gerar um efeito dominó na cadeia produtiva e aumentar preços de diversos produtos, inclusive no Brasil.
Desencalhado nesta segunda-feira (29), após seis dias de bloqueio, o Ever Given ficou preso na diagonal, em um dos pontos do Canal de Suez sem via auxiliar, o que interrompeu a rota que liga Ásia e Europa e provocou a enorme fila de navios nas pontas do canal. A expectativa é que o fluxo do comércio marítimo demore cerca de uma semana para voltar ao normal.
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Como o Brasil vai ser afetado?
Para Lorena Bastianetto, advogada especialista em direito internacional, o efeito nos preços deve ser imediato. "No Brasil e no mundo, os impactos são muitos: já tivemos falta de café solúvel na África, falta de entrega de peças automotivas na Europa, e os atrasos devem gerar perda de US$ 400 milhões por dia no comércio internacional", diz.
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Por mais que o Brasil não seja tão afetado quanto outras regiões mais dependentes do Canal de Suez, como África, Europa e Ásia, a expectativa é que o setor secundário da economia seja muito afetado e isso ocorra a curto prazo. "Produtos do segundo setor, manufaturados em geral, setor automotivo" devem ser muito afetados, segundo a advogada.
"Não vai ter nenhum impacto em relação a produtos do setor primário, no agrícola, o Brasil é um grande produtor, mas também é muito dependente no secundário, e, sobretudo pela globalização, produtos, peças de linhas de montagem, peças automotivas, de eletrodomésticos, do mercado tecnológico, como para produzir computadores, todos esses insumos do setor secundário serão afetados sim [com os atrasos]. Além de todos os atrasos já provocados pela pandemia, haverá maiores ainda agora em função do encalhe no canal", garante.
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Impactos demorarão a serem sentidos?
Esses atrasos provocarão aumentos de preços no Brasil e no mundo, e, segundo a advogada, isso não deve demorar. "O nosso mercado se regula muito pela demanda, então, por exemplo, na falta de algum produto que está para chegar, obviamente o impacto econômico é imediato. Os produtos já disponíveis devem aumentar [de preço] e no recebimento também o efeito será imediato, o que será repassado ao consumidor final".
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Lorena explica a cadeia que levará aos preços mais altos no Brasil: "Chega mais caro para quem está transportando, ou seja, importando o produto, então será repassado ao consumidor final, que suporta tanto a carga tributária como os efeitos decorrentes dos atrasos. A inflação desses produtos [principalmente os do setor secundário] deve subir. No momento que você tem um evento dessa magnitude, com vários adicionais, o impacto será direto e rápido para o consumidor", pontua.
papel higiênico, por exemplo, é um produto que poderá subir de preço. Atrasos de contêineres de café robusta, usado no Nescafé, podem provocar também encarecimento ou até mesmo escassez por determinado período de café instantâneo.
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Alguns produtos, como cita a advogada, já vinham enfrentando atrasos em função da pandemia, que reduziu a circulação no comércio marítimo, e o bloqueio de quase uma semana no Canal de Suez tende a agravar isso, provocando atrasos de produtos específicos ao redor do mundo e, principalmente, preços mais altos.
Lorena Bastianetto lembra, no entanto, que tudo isso deve ser passageiro. "É uma situação temporária, já se estabilizou, o navio foi desencalhado, então o impacto é imediato, mas pode não ser duradouro".
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