Publicado 24/05/2021 07:00 | Atualizado 25/05/2021 12:18
Dentre os 14,4 milhões de brasileiros que estavam desempregados no primeiro trimestre de 2021, segundo dados divulgados pelo IBGE, um grupo amplo de pessoas vive uma dificuldade além da desocupação: driblar os desafios de estar acima dos 40 anos no mercado de trabalho. Uma pesquisa inédita feita pelo InfoJobs mostrou que 70,4% dos profissionais nessa faixa etária revelaram já ter sofrido preconceito profissional por conta da discriminação de idade. Rosemir Lopes, de 50 anos, faz parte desse grupo e relatou suas dificuldades em conseguir uma recolocação.
"Comecei a buscar trabalho no início da pandemia e nessa fase tudo tem sido pela internet. Mandei currículos para área do comércio, que tenho experiência, mas não tive nenhuma resposta positiva. Algumas empresas questionam a sua idade e perguntam se você tem experiência na função e, quando você respondem, eles não retornam mesmo que você tenha o conhecimento necessário", contou.
Já aos 50, ela decidiu se qualificar para atuar na área da educação e fez o curso de formação de professor, mas apesar de estar atualizada, Rosemir conta que não conseguiu uma oportunidade.
Coloquei também o currículo em umas quatro escolas, já que tenho o curso de formação de professor, mas como não tenho experiência nessa área, ninguém me chamou. O que tenho percebido é que algumas funções já limitam idade e exigem que você tenha pleno conhecimento de ferramentas digitais e, acho que para minha geração, isso ainda é uma barreira bem grande que precisamos correr atrás e nos atualizar", concluiu.
Dados que refletem a realidade
Todas essas percepções não são exclusivas da Rosemir. De acordo com o levantamento, 78,5% dos respondentes acreditam que o mercado não dá as mesmas chances para profissionais com mais de 40 anos, quando comparado com os mais jovens. Outros 27,1% acreditam, ainda, que é preciso estar mais atualizado para competir com as novas gerações e 68,4% alegam que muitas vezes nem isso é suficiente para garantir um emprego.
Outro dado que chama atenção é que 61,1% dos profissionais afirmam que o principal desafio profissional é a falta de oportunidade de trabalho, enquanto outras dificuldades não chegam a 15% das respostas. "Isso realmente acontece, há menos oportunidades para profissionais mais experientes. É quase como um funil, as opções para cargos iniciais são muito numerosas, enquanto para cargos mais seniores, são cada vez menores. Fora que quanto mais experiência você tem, você é mais caro para uma empresa", afirmou Ana Paula Prado, Country Manager do InfoJobs.
Conselho de especialista
A coach de carreira Aline Saramago concordou que o preconceito com profissionais mais maduros de fato existe, mas na visão dela, o ponto principal é não desistir. "Muitas pessoas nessa faixa etária enfrentam mudanças na carreira. Uma transição de quem viveu trabalhando para uma empresa que passa a fazer consultorias, as vezes começa a dar aula, ou até mesmo empreende", contou.
"Você pode além de ser um funcionário, ter um negócio, ser consultor autônomo em alguma atividade e pode também ter investido desde cedo e ter essa veia investidora. Então, é importante as pessoas terem essa adaptação, essa flexibilidade, para que possam buscar novas opções caso não estejam conseguindo se empregar novamente, se o desejo for de seguir produzindo", acrescentou.
A coach reforçou, ainda, a importância de manter a inteligência emocional nesses momentos difíceis. "A questão do controle emocional é sempre importante porque, muitas vezes, as pessoas ficam realmente deprimidas e ansiosas com o que pode acontecer. Então, realmente, tem que cuidar da mente e do corpo porque está tudo interligado e é importante ter saúde para poder dar resultados seja em qual atividade for", aconselhou.
Busque seus direitos
Na hora de enfrentar os preconceitos no mercado de trabalho, vale buscar aconselhamento profissional e até entrar com uma ação na Justiça, conforme orientou o advogado trabalhista Ricardo Basile.
"A honra é um Direito constitucionalmente tutelado e, por contas disso, inviolável. Ninguém pode ser tratado de forma preconceituosa e, assim, ser ofendida ante a idade que possui. Entendo que nesse caso cabe ação de reparação por danos morais a ser ajuizada na Justiça do Trabalho, cabendo, por outro lado, a robustez da prova do fato alegado. Qual seja: a ofensa perpetrada pelo ofensor, no momento da entrevista de emprego", afirmou
Segundo Basile, a responsabilidade é direta da empresa que, ao negligenciar tendo em seus quadros recrutadores que não observam os princípios legais, causou dano moral ao outro.
Segundo Basile, a responsabilidade é direta da empresa que, ao negligenciar tendo em seus quadros recrutadores que não observam os princípios legais, causou dano moral ao outro.
O profissional por trás do número
Apesar de as pessoas acabarem sendo rotuladas conforme a sua idade, muitas empresas ainda reconhecem o talento por trás de pessoas maduras, como é o caso do Fabiano Gonçalves, de 50 anos, que atua no Núcleo de Relacionamento e Comunicação Interna da Assessoria de Comunicação do Departamento Nacional do Sesc.
"Ainda estou em uma idade bastante produtiva e não considero a possibilidade de me afastar do mercado de trabalho. Na organização em que atuo, há muitos profissionais sêniores, como eu. Atuamos em harmonia com profissionais mais jovens, o que de modo algum significa menos capacitados, com bastante troca de experiências", relatou.
Para Fabiano, essa interação entre as faixas etárias enrique o cotidiano de trabalho.
"Acho que a existência de profissionais com perfis diferentes enriquece o ambiente de trabalho. Entendo que isso diz respeito não apenas ao tempo de vida e/ou de trabalho de cada integrante da equipe, mas também à diversidade de gênero, raça, orientação sexual, origem, cultura... Estar aberto para vislumbrar o mundo, não somente o corporativo, do ponto de vista do outro, a partir das suas vivências e compreensões, é uma chance única de crescimento, não apenas profissional, mas também, ou mesmo principalmente, pessoal", concluiu.
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