Com relação a confiança na economia nacional, cerca de 35,2% dos consumidores entrevistados se mostraram confiantes ou muito confiantes, índice superior ao constatado em abril (25,9%).
Com relação a confiança na economia nacional, cerca de 35,2% dos consumidores entrevistados se mostraram confiantes ou muito confiantes, índice superior ao constatado em abril (25,9%).Divulgação/Sérgio Lima
Por Maria Clara Matturo
Desde o início da pandemia no Brasil, muito tem se falado sobre o cenário de desemprego ao qual os cidadãos estão submetidos, mas pouco se questiona quem são esses brasileiros desocupados. Um levantamento da Comissão de Trabalho Legislação Social e Seguridade Social da Alerj, obtido com exclusividade pelo O DIA, mostrou que, atualmente, o quadro de desemprego no município do Rio está cercado pela desigualdade racial e de gênero. Segundo a pesquisa, homens tinham uma média de ocupação 19,7% maior do que as mulheres, antes da pandemia. Após a covid-19, esse indicativo passou a ser de 23,9%.
Dentro dessa estatística, está a vida da camareira Kenia Bezerra da Silva, de 52 anos. Moradora do Rio das Pedras, ela tem passado parte dos seus dias em um sinal no Leblon, Zona Sul da cidade, segurando uma placa com seu número de telefone, em busca de um emprego. "Eu sempre trabalhei de camareira, mas fui mandada embora no ano passado, junto com uma leva de outras funcionárias. Estou desde o final do ano parada e tá difícil, já tentei distribuir currículos, já fiz entrevista, mas não me chamam. Eu preciso trabalhar, pagas as contas", desabafou.
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Em busca de uma oportunidade como camareira ou na área de serviços gerais, a mulher contou que foi inspirada pela história de um enfermeiro. "Há muito tempo atrás soube de um enfermeiro que estava desempregado, saiu com uma placa e conseguiu emprego dois dias depois. Então pensei "por que não vou conseguir também? Não estou aqui para pedir dinheiro, quero um emprego para pagar minhas contas".
"É escandaloso que a cidade do Rio de Janeiro esteja com a taxa de desemprego tão alta. O levantamento feito pelos nossos economistas escancara uma realidade sentida nas ruas. O trabalhador e a trabalhadora carioca pedem socorro, o governo do estado e a prefeitura do Rio precisam ouvir. O governador e o prefeito precisam reagir”, afirmou a presidente da Comissão do Trabalho da Alerj, Mônica Francisco.
A realidade dos negros no mercado de trabalho carioca
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Quando se trata do recorte racial, o retrato da desigualdade vai além. No primeiro trimestre de 2020, mulheres negras representavam 26,4% da força de trabalho na cidade, enquanto no último trimestre esse percentual caiu para 24,1%. A quantidade de homens negros também caiu de 28,7% para 26,5%. Em contrapartida, homens brancos, que representavam 23,4%, passaram a representar 25,9% da força de trabalho. A ocupação de mulheres brancas também cresceu, de 21,5% para 23,6%, conforme apontou o levantamento.
Apesar da queda, homens negros ainda representam a maior parcela da força de trabalho na capital fluminense. De acordo com os pesquisadores, eles ainda ocupam essa posição porque, em média, existem 8,5% mais pessoas negras do que brancas no Rio. O economista Emmanuel Tsallis, envolvido no estudo, reforçou que a exatidão dos números pode deixar de fora fatores cruciais para a manutenção do trabalho de pessoas negras.
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"A população branca ocupada tende a estar em postos de trabalho mais bem remunerados e, diante de uma necessidade de caixa em tempos críticos como estes, as empresas preferem demitir aqueles que farão uma diferença no fluxo de caixa, ou seja, os próprios brancos. Enquanto isso, a população negra, tem uma proporção menor de número de demissões, pois possuem uma remuneração bastante inferior", explicou.
Quando se é mulher e negra, as estatísticas são ainda mais cruéis. No final de 2019, antes da pandemia, homens brancos representavam 7,7% das pessoas desocupadas no Rio. Já no final de 2020, esse percentual passou a ser de 9,6%. Para mulheres negras, o impacto foi consideravelmente maior. Elas, que representavam 17% dos desocupados da cidade, no final de 2019, passaram a representar 30,5% desse indicativo.
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Longe de se recuperar
Quando se trata de recuperação, o Rio é um dos municípios com pior resultado de geração de empregos de 2020, com uma perda de 95.445 postos de trabalho. De janeiro a março deste ano, a capital fluminense atingiu um saldo positivo de 6.300 novos postos de trabalho, mas ainda ocupa o 72º lugar entre os 92 municípios do estado em postos de trabalho.
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Para o presidente da Comissão de Trabalho e Emprego da Câmara do Rio, vereador Willian Siri, falta atitude das autoridades. "O mercado de trabalho carioca passa por uma das situações mais difíceis do país. Foram 95 mil vagas formais perdidas em 2020. A população se vê obrigada a migrar para informalidade, principalmente os mais jovens. O Estado precisa atuar gerando mais empregos e investimentos para fortalecer a economia na cidade".
O cenário para uma mudança efetiva
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Para o economista Emmanuel Tsallis, algumas medidas poderiam resultar em mudanças efetivas na realidade da desigualdade do desemprego na cidade. "Precisamos de uma maior regulamentação nas oportunidades de trabalho, além de garantia de melhores condições trabalhistas, garantindo equiparação de gênero nos ambientes de trabalho, cotas raciais em concursos públicos e entrevistas e dinâmicas de trabalho", reforçou.
Tsallis afirmou, ainda, que a pesquisa deve servir de instrumento para futuras mudanças. "Esse observatório terá a função de instrumentalizar a Comissão de Trabalho com dados estatísticos e indicadores socioeconômicos federais, estaduais e municipais, a fim de subsidiar a formulação de políticas públicas voltadas para a geração de emprego e renda, que é o principal combustível para o desenvolvimento econômico (social, ecológico, solidário entre outros, tendo em vista que não existe um desenvolvimento separado do outro)".