Apesar de ser difícil sair do superendividamento, especialistas garantem que não é impossível: o primeiro passo é se organizar e buscar alternativasshutterstock
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 28/06/2021 14:33
A crise econômica trazida pela pandemia do novo coronavírus fez o endividamento das famílias bater novo recorde no Brasil. Dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central mostram que, em março, o endividamento das famílias com o sistema financeiro chegou aos 58%. Este é o maior porcentual da série histórica, iniciada em janeiro de 2005.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas bancárias dividido pela renda das famílias no período de 12 meses. Como incorpora dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE, o porcentual possui certa defasagem.
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Por isso, o resultado divulgado nesta segunda-feira é de março.
Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, que geralmente abarcam um montante considerável da renda das famílias, ainda assim o endividamento ficou em níveis elevados, de 35,7% em março. O porcentual também é recorde para a série histórica.
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Em função da pandemia, muitas famílias brasileiras têm tido dificuldades para fechar as contas. Uma consequência disso é a procura maior por crédito, com consequente aumento do endividamento. Para se ter uma ideia, em março do ano passado - no início da pandemia -, o endividamento total das famílias estava em 49,4%, um porcentual 8,6 pontos porcentuais menor que o visto em março deste ano.
Os dados do BC mostram ainda maiores dificuldades para as famílias pagarem as obrigações mensais dos empréstimos e financiamentos bancários. O comprometimento da renda mensal com essas dívidas ficou em 30,5% em março, acima dos 30,0% de março do ano passado. Se o financiamento imobiliário for excluído da conta, o comprometimento da renda ficou em 27,9% em março, ante 27,7% em março do ano passado.
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Concessões
Os dados mais gerais do BC, atualizados até maio, mostram que, no mês passado, as concessões pelos bancos no crédito livre subiram 2,2% ante abril, para R$ 347,5 bilhões. Nos 12 meses até maio, a alta foi de 2,0%. O crédito livre reúne operações em geral, com exceção das que utilizam recursos da poupança e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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Os dados não levam em conta ajustes sazonais. Eles são influenciados pelos efeitos da segunda onda da pandemia de covid-19, que voltou a colocar em isolamento social parte da população e reduziu a atividade das empresas.
Em maio, no crédito para pessoas físicas, as concessões subiram 4,3%, para R$ 178,6 bilhões. Em 12 meses até maio, há alta de 4,8%. Já no caso de pessoas jurídicas, as concessões subiram 0,2% em maio ante abril, para R$ 168,9 bilhões. Em 12 meses até maio, o recuo é de 0,9%.
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Cartão de crédito
Em meio às dificuldades das famílias para fechar as contas, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito caiu 6,5 pontos porcentuais de abril para maio, informou o BC. A taxa passou de 336,1% para 329,6% ao ano. O rotativo do cartão, juntamente com o cheque especial, é uma modalidade de crédito emergencial, muito acessada em momentos de dificuldades
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No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro passou de 165,7% para 164,4% ao ano. Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 65,5% para 62,0% ao ano.
Em abril de 2017, começou a valer a regra que obriga os bancos a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, a juros mais baixos. A intenção do governo com a nova regra era permitir que a taxa de juros para o rotativo do cartão de crédito recuasse, já que o risco de inadimplência, em tese, cai com a migração para o parcelado.
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Atualmente, porém, o risco de inadimplência aumentou, justamente porque muitas famílias estão enfrentando redução de renda, na esteira da pandemia.
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