Publicado 08/07/2021 17:30 | Atualizado 09/07/2021 14:05
Rio - Em nova ação da campanha “Combustíveis a Preço Justo”, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e os Sindicatos dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) e de Duque de Caxias (Sindipetro-Caxias) ofertaram 350 botijões de gás de cozinha de 13 quilos a R$ 50 para moradores do conjunto habitacional Dom Jaime Câmara, entre Padre Miguel e Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Foi a sétima ação de venda de gás a preço justo no Rio de Janeiro neste ano. O valor é metade dos cerca de R$ 100 que vêm sendo cobrados pelo produto em revendas da região.
A oferta de gás a preço justo é um alívio para o bolso dos consumidores, sobretudo para os mais pobres, que vêm sentindo bastante os efeitos da política de reajustes dos combustíveis da Petrobrás. Na última terça-feira (6/7), a companhia aumentou em 6% o valor do gás de cozinha em suas refinarias – o sexto aumento somente em 2021. Com isso, o produto já acumula alta de 37,9% desde 1º de janeiro. Enquanto isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 3,7% de janeiro a junho, como divulgou nesta quinta (8/7) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, o gás de cozinha nas refinarias já aumentou 10 vezes a inflação oficial do país.
Segundo o economista Cloviomar Cararine, da seção FUP do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o gás de botijão já acumula alta de 16,05% na revenda nos primeiros seis meses do ano, e de 24,25% em 12 meses. Enquanto isso, o IPCA atingiu 8,35% nos últimos 12 meses.
Além do benefício financeiro, a campanha “Combustíveis a Preço Justo” visa dialogar com a população sobre os prejuízos da política de reajustes dos combustíveis baseada no Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobrás desde outubro de 2016, que considera o preço do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar. Essa política impacta não apenas o valor dos derivados de petróleo, como gás de cozinha, óleo diesel e gasolina, mas também os preços dos alimentos, transportes e demais itens, num efeito cascata com forte impacto sobre a inflação.
O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, esteve na ação desta manhã e lembrou que os reajustes quase mensais promovidos pela gestão da Petrobrás nos preços do botijão de gás estão fazendo com que a população mais pobre não tenha como pagar pelo produto. E a pandemia de Covid-19 vem tornando a situação ainda mais desesperadora.
“Com desemprego recorde, sem trabalho por causa da pandemia e com um auxílio emergencial pífio, de 150 reais por mês, como alguém pode pagar 80, 100, até 130 reais em algumas regiões do país, por um botijão de gás? É cada vez mais difícil. Tem gente usando lenha e até álcool para cozinhar. Esta semana um homem morreu em Goiânia após cozinhar com álcool, por não ter dinheiro para o gás. E o pior: esses reajustes que a gestão da Petrobrás vem aplicando não apenas no gás de cozinha, mas também no óleo diesel e na gasolina podem ser evitados. Basta a empresa parar de usar somente a cotação do petróleo e do dólar e considerar também os custos nacionais de produção. Afinal, 90% dos derivados de petróleo que a gente consome são produzidos no Brasil, em refinarias da Petrobrás. E a empresa utiliza majoritariamente petróleo nacional, que ela mesma produz aqui”.
O Diretor do Sindipetro-NF, Alessandro Trindade reforça que a ação desta quinta, assim como outras realizadas pela FUP e seus sindicatos em todo o país, é também uma forma de se solidarizar com a população nesta grave crise socioeconômica. Mas, infelizmente, essa solidariedade custou seu emprego: a gestão da Petrobrás demitiu Trindade por justa causa por ele levar doações para os refugiados da Ocupação 1º de Maio, em Itaguaí, região metropolitana do Rio. Cerca de 400 famílias ocuparam parte de um terreno da petroleira naquela cidade, e a reintegração de posse foi feita com violência pela Polícia Militar na semana passada.
“Neste momento, a solidariedade é fundamental. A FUP e seus sindicatos entendem que, em meio à pandemia, são necessárias ações solidárias e contra a política implementada pelo governo Bolsonaro, que reduziu o auxílio emergencial para 150 reais, tornando inviável a comprar do gás de cozinha. Mal dá para comprar comida!".
Rosemari Carvalho da Silva, de 65 anos, destaca a importância da campanha para os moradores da região. “Sou viúva, meu apartamento está caindo aos pedaços, quando chove molha tudo dentro. Sou cuidadora de idosos, tenho diploma, mas estou desempregada agora, tô passando uma fase muito ruim. Na minha família também tem muita gente desempregada, o pessoal tá vivendo de ‘bico’. Um ajuda o outro, mas é muito ruim. Estou há dois anos sem fazer um preventivo. O povo está às traças. Fui arrumar dinheiro emprestado para comprar o botijão, porque não tinha. Já é um alívio, ajuda bastante o gás a esse preço”.
Aos 21 anos, Ingrid Cordeiro, desabafa sobre a dificuldade de conseguir fazer compras com o preço atual dos produtos, em especial, os botijões: “Moro com a minha avó, mas às vezes minha tia vai lá para casa com os filhos dela. O gás a esse preço, a 50 reais, vai nos ajudar muito, por aí o gás tá 90, 100. Bolsonaro falou que o gás ia ficar barato, e olha quanto tá custando hoje... Eu tô desempregada desde janeiro. Um emprego ia ajudar, mas minha carteira (de trabalho) só tem uma assinatura, e de um mês. Bolsonaro não tá dando emprego, o que eu vou fazer com um mês de carteira assinada? Tá tudo caro, os alimentos estão caros, o gás... com esses 50 reais que a gente economiza aqui já dá pra comprar outra coisa”.
O objetivo principal da campanha é conscientizar a população sobre como a política de preços adotada pela Petrobrás desde outubro de 2016, baseada no Preço de Paridade de Importação (PPI), afeta diretamente a vida de todos. A consequência do aumento dos combustíveis pode ser sentida em outros setores, como o de alimentos. E impacta diretamente toda a cadeia produtiva, pressionando a inflação.
Os preços justos de gasolina, diesel e gás de cozinha ofertados nas ações foram definidos a partir de estudos elaborados por técnicos e economistas, levando em consideração os preços e custos da Petrobrás e a garantia de lucratividade de empresas produtoras, distribuidoras e revendedores. O que prova que o consumidor não precisa e não deve pagar essa conta.
A campanha “Combustível a Preço Justo” foi iniciada em fevereiro de 2020 em diversas cidades do país, durante a greve dos petroleiros, que durou 20 dias – a maior desde 1995. Em 2021, A FUP e seus sindicatos já promoveram ações da campanha em 1º de fevereiro, em apoio à greve dos caminhoneiros, em março, em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), e também em abril e maio.
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