A previsão dos especialistas é que os preços devem continuar aumentando nos próximos mesesDivulgação
Publicado 02/08/2021 08:00
Rio - Desde o início da pandemia do coronavírus no Brasil, em março do ano passado, os brasileiros têm precisado se desdobrar para manter a comida na mesa. Nos últimos 12 meses, a alta no preço das carnes é um dos fatores pontuados por quem frequenta os supermercados. Conforme mostra o IPC-10, índice de preços calculado pela Fundação Getúlio Vargas, no estado do Rio, o valor da carne bovina sofreu um aumento de 31,64% durante o período, com cortes de carne de segunda, como o acém, chegando a ultrapassar os R$ 30 o quilo. Na prática, o aumento da carne representa quase cinco vezes mais que a elevação de 7,48% registrada pelo indicativo. 
Além da carne bovina, outras opções de alimentos deste grupo também sofreram alta no preço nos últimos 12 meses. Nos supermercados fluminenses, o valor do frango aumentou 4,47% durante o período e a carne suína teve uma elevação de 20,27% no custo. Essa elevação, segundo o economista da FGV Matheus Peçanha, vem sendo ocasionado por um aumento na exportação de carne e frango comercializados pelo Brasil.
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"Principalmente no final do ano passado a gente tinha uma conjuntura bem ruim, com uma demanda externa muito forte pela nossa carne. Fora o aumento do dólar naquele período, que incentiva muito o produtor brasileiro a exportar, já que ele consegue vender isso para fora mais caro. Esse cenário incentivou o aumento de exportação de carne para a China e Austrália, por exemplo. Quando exportamos muito, sobra menos produto para o mercado interno e isso ocasiona uma pressão no preço", explicou.
Outro fator que tem influenciado no preço final desse grupo de alimentos é o aumento no custo de produção. "Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) o custo de produção no geral subiu em 52,30%. Matérias primas como ração e milho tem uma alta, até o momento, de 62%. O aumento de preço é repassado em cadeia, custando mais para produção e infelizmente com esse aumento chegando no consumidor final", acrescentou o especialista em finanças da Impacto Consultoria Financeira, Felipe Nogueira.
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O peso no bolso do consumidor
Para as famílias brasileiras, sobretudo as mais carentes, a alta nos preços representa menos comida no prato e um orçamento ainda mais apertado. 
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"Com desemprego ainda em alta e a renda do brasileiro ainda tão apertada, reflexo de todas as paralisações e a pandemia que deixa sinais até hoje, a carne cada vez vai se tornando mais distante do plano alimentar. Ela acaba sendo substituída por outras opções como a carne suína e o ovo, que devido a demanda também sofreram aumento de preço no período", ponderou nogueira. 
"O impacto é preocupante na renda dos brasileiros. A elevada taxa de desemprego e a redução do auxílio emergencial prejudicam ainda mais a capacidade de consumo doméstico. Os efeitos dos aumentos tanto no preço das proteínas animais como na energia elétrica e combustíveis são cumulativos na renda dos menos favorecidos, pois afetam também os custos de outros bens e serviços finais", completou o economista e professor do Ibmec RJ Tiago Sayão. 
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O impacto na saúde
Além do impacto no bolso, os consumidores também podem sentir o impacto na saúde. A falta da carne e do frango na mesa pode trazer danos como edemas, perda de massa muscular e redução de hormônios importantes, conforme explicou a nutricionista especialista em comportamento alimentar Luciane Peixoto: 
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"A falta desses alimentos impacta na diminuição do consumo da proteína e, quando você reduz esse consumo, você deixa de ter matéria prima no organismo para fazer a síntese muscular, um corpo que não recebe proteína tem uma dificuldade de construir os músculos. Inclusive, a deficiência dela impacta também em edemas. Então, a falta de proteína é prejudicial sim. É importante observar o inchaço dos membros inferiores, uma baixa quantidade de massa muscular no corpo, a redução de alguns hormônios importantes, além do enfraquecimento das unhas e cabelos, ressecamento da pele e ferimentos que não cicatrizam. Tudo isso é resultado da deficiência de proteína", afirmou. 
Segundo Luciane, as proteínas animais não têm substitutos definitivos, mas alguns alimentos paliativos podem suprir essa necessidade temporariamente.
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"Como estratégia podemos utilizar o ovo, que é um dos melhores alimentos que temos disponível em termos de proteína e, que vai além, com uma série de minerais e vitaminas importantes. O ovo é o mais equivalente a carne ou ao frango, seria o primeiro substituto, mas também temos outras fontes de proteína como os derivados de leite. Outra maneira de diminuir esse impacto é usar as fontes vegetais, com a ressalva de que a quantidade de proteína presente nesses alimentos ainda é muito menor do que nas fontes animais. Mas, o feijão, grão de bico, soja e lentilha podem suprir uma necessidade temporária também", orientou.
Próximos meses
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Para os próximos meses, a previsão dos especialistas é de que os preços continuem subindo. 
"Com a migração de consumo, o valor do ovo de galinha também deve subir (7,6%). Já a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) prevê um aumento nos preços do frango entre 10% e 15% já no fim de julho e início de agosto. É preciso preparar o bolso para mais este aumento", explicou o especialista em finanças da Impacto Consultoria Financeira, Felipe Nogueira.
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Para o economista Tiago Sayão, a carne deve continuar aumentando até que se tenha uma recomposição dos bovinos no país. "A reversão dos efeitos da peste suína africana na China também é um fator, já que boa parte da produção de carne bovina do país tem como destino o mercado chinês. Para a carne de frango, a previsão também é elevação pois os aumentos dos preços do milho e da soja serão repassados ao consumidor final", concluiu. 
 
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