A capital paulista tem a cesta básica mais cara do país, custando R$ 673,45Geraldo Bubniak

Rio - O custo da cesta básica registrou aumento em setembro na comparação com agosto em 11 das 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo o levantamento divulgado nesta quarta-feira, 6, as maiores altas foram em Brasília (3,88%) Campo Grande (3,53%), São Paulo (3,53%) e Belo Horizonte (3,49%).
No estado, o valor médio da cesta básica é de R$ 643,06. No mês de setembro, a variação foi de 1,40%, mas, em 12 meses, o valor subiu 14,07%. O Rio só perde para São Paulo (R$673,45), Porto Alegre (R$ 672,39) e Florianópolis (R$ 662,85).
Em relação a setembro de 2020, o preço do conjunto de alimentos básicos subiu em todas as cidades pesquisadas. A elevação dos valores chega a 38,56%, em Brasília, 28%, em Campo Grande, 21,62%, em Porto Alegre, e 19,54%, em São Paulo.
As cestas mais baratas estão na Região Nordeste: Aracaju (R$ 454,03), João Pessoa (R$ 476,63) e Salvador (R$ 478,86).
Com base na cesta mais cara que, em setembro, foi a de São Paulo, o Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$ 5.657,66, valor que corresponde a 5,14 vezes o piso nacional vigente, de R$ 1.1 mil. O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças. Em agosto, o valor do mínimo necessário deveria ter sido de R$ 5.583,90, ou 5,08 vezes o piso em vigor.
Quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social (7,5%), o Dieese verifica que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em setembro, 56,53% (média entre as 17 capitais) do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta. Em agosto, o percentual foi de 55,93%.
Economista do Ibmec, Gilberto Braga destaca que o Brasil se lançou tardiamente no processo de imunização vacinal contra a covid e isso atrasou a retomada dos setores, que até hoje não conseguiram encontrar plenitude para a volta à normalidade.
“Com o dólar mais caro a importação de qualquer produto também fica mais cara. Especificamente no caso dos alimentos, eles ficam mais baratos para o estrangeiro comprar e então de alguma maneira o importador compete com o consumidor brasileiro, fazendo com que os preços aumentem”, disse o economista.
Braga também afirmou que a sensação de preço mais alto nos mercados é acentuada pela diminuição e/ou corte da ajuda emergencial que a população mais pobre vinha recebendo no Brasil. Segundo o economista, o cenário político conturbado que vive o país também é um fator relevante que é responsável por trazer insegurança para investimentos, mercado de trabalho e geração de vagas.
“É um cenário desalentador no sentido de que apesar de estarmos saindo de um período crítico, ainda assim a gente não ganha velocidade, não cresce muito e não gera empregos suficientes para resolver as grandes questões econômicas brasileiras”.
Variações dos produtos
O açúcar foi um dos itens que puxaram as altas. Em setembro, inclusive, o produto teve aumento de preço em todas as capitais. As maiores altas foram em Belo Horizonte (11,96%), Vitória (11%), Brasília (9,58%) e Goiânia (9,15%). De acordo com o Dieese, a falta de chuvas afetou a produção de cana-de-açúcar e reduziu a oferta do produto.
Já o café teve aumento em 16 das 17 cidades pesquisadas, com as maiores elevações de preço em Goiânia (15,69%), Campo Grande (14,79%), Brasília (10,03%) e Natal (9%). O preço do produto tem aumentado devido à alta do dólar, que favorece as exportações, e o clima desfavorável, com a geada ocorrida em julho.
O óleo de soja teve alta em 15 capitais em setembro na comparação com agosto. A maior elevação foi registrada em Campo Grande (3,4%). De acordo com o Dieese, o aumento está relacionado com crescimento das exportações, especialmente para a China, devido aos problemas de escoamento da produção dos Estados Unidos.
Entre agosto e setembro, o litro do leite integral teve acréscimo em 11 capitais e o quilo da manteiga, em 12. As maiores altas foram observadas em João Pessoa (2,55%), Fortaleza (2,45%) e Belém (2,19%). Já a manteiga teve os principais aumentos em São Paulo (5,45%), Belo Horizonte (5,24%) e Fortaleza (3,28%). A menor qualidade das pastagens, as expressivas altas nos custos de produção e a forte competição das indústrias por matéria-prima explicam a baixa oferta de leite no campo e a alta dos derivados no varejo.
O quilo da carne bovina de primeira aumentou em 11 capitais. As maiores altas ocorreram em Vitória (4,64%), Campo Grande (3,19%), Brasília (2,25%) e Natal (2,17%). As maiores reduções foram verificadas nas capitais do Sul: Florianópolis (-2,28%), Curitiba (-0,95%) e Porto Alegre (-0,79%). Apesar da suspensão da exportação da carne para a China e da menor demanda interna, consequência dos altos preços no varejo, as cotações seguem elevadas na maior parte das cidades, devido às condições ruins das pastagens, ao clima seco e aos altos custos de produção.
Gilberto Braga afirmou ser muito difícil estimar quando os preços irão parar de subir, exatamente pela imprevisibilidade a curto prazo da situação econômica no país e que a fragilidade econômica deve persistir até que se tenha uma clareza maior sobre o cenário político no país, além de resoluções para temas como a instabilidade hídrica, que afeta especialmente o setor energético.
“É muito provável que tenhamos uma inflação alta até meados do ano que vem. E não há nenhum cenário de que o preço do petróleo vá cair ou de que tenhamos uma recomposição hidrográfica para poder diminuir o custo da energia para o brasileiro e isso desautoriza qualquer projeção mais otimista com relação a preço e inflação no Brasil nos próximos seis meses pelo menos”, concluiu o economista.
*Matéria do Estagiário Gustavo Vicente sob supervisão de Mário Boechat