Publicado 10/01/2022 08:00
Rio - Na crise muitos consumidores acabam recorrendo ao cheque especial ou o cartão de crédito para quitarem dívidas ou terem mais poder de compra. Entretanto, especialistas em Educação Financeira alertam que essa atitude pode levar ao endividamento se não for feita com prudência, já que como mostram os números, atualmente, o Brasil possui cerca de 12 milhões de famílias com dívidas, conforme apontou a pesquisa da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo o Analista de Mercado da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor Proteste, Rodrigo Alexandre, quase sempre o endividamento começa sem ser percebido. Por esse motivo, a atenção deve ser redobrada. “No primeiro mês, o consumidor não consegue pagar o total da fatura do cartão de crédito, sendo obrigado a entrar no rotativo. No segundo mês, o valor da fatura já começa a comprometer uma parte grande do salário. Em consequência disso, a pessoa se vê obrigada a utilizar o limite do cheque especial, até que chega um ponto que ela precisa buscar outras linhas de crédito e, com o desespero de resolver a situação, acaba aceitando a primeira oferta de crédito oferecida, pegando um empréstimo para quitar outro empréstimo, e o efeito bola de neve começa”, exemplifica ele ao citar como funciona o ciclo da formação das dívidas.
Ainda de acordo com Alexandre, o consumidor precisa ter cuidado na hora de contratar crédito, pois a facilidade dada pelas financeiras aumenta as chances de endividamento. “Quanto mais fácil o crédito, mais altas são as taxas de juros cobradas, e quando o consumidor se vê sem saída, a tendência é que, ao tentar resolver o problema, se enrole em mais dívidas”, frisa.
Como antídoto, Alexandre cita o planejamento e a criação de uma reserva financeira para evitar apertos no orçamento. “Sem um dinheiro guardado, qualquer emergência ou situação que saia do ‘script’ diário (compra de remédios, conserto de um aparelho, obras emergenciais em casa, acidente de trânsito, entre outros) pode destruir o seu orçamento. Por isso a importância de organizar os gastos mensais e, se possível, reservar 30% do seu salário para despesas extras. Afinal, ninguém está livre delas”, ressaltou.
O especialista também alerta para o cuidado com as compras parceladas, que podem causar um caos no orçamento. “O problema é que é fácil, e também comum, perder a visão do conjunto todo. Resultado: várias pequenas parcelas viram uma grande dívida no final do mês, a ponto de não ter como quitá-la”, analisa.
Os pequenos gastos também são outro fator que Rodrigo destaca como algo para ficar de olho. “Muitas vezes, as pessoas se preocupam com contas maiores, como aluguel e prestação do carro, entre outras, mas se esquecem de pequenas despesas do dia a dia. É uma água para matar a sede, um lanchinho, um cafezinho. Gastos que, quando somados, no final do mês, representam uma boa parte dos ganhos. Por isso é importante ter um controle das pequenas despesas também”, finaliza.
IPTU e IPVA: parcelar ou pagar à vista?
O mês de janeiro é conhecido por suas diversas despesas, entre elas gastos com o IPTU ou IPVA. O pagamento desses impostos impacta na já apertada renda das famílias e traz a dúvida de qual é a melhor forma de quitá-los: à vista ou parcelado?
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, antes de ter essa resposta, é preciso saber em que situação financeira você se encontra: endividado, equilibrado financeiramente ou investidor.
“Se for a primeira ou segunda opção, dificilmente conseguirá fazer o pagamento à vista, restando o caminho do parcelamento. Lembrando que se deve evitar ao máximo recorrer a empréstimos, limites do cheque especial ou qualquer outra maneira de crédito do mercado financeiro, pois isso apenas se tornaria uma bola de neve, devido aos juros altíssimos cobrados. Caso a situação financeira esteja mais confortável, tendo uma reserva financeira, recomendo, sem dúvida nenhuma, que o pagamento seja feito à vista. Cada estado pratica o próprio desconto, mas, em média, o contribuinte obterá 3% de desconto no IPVA e 4% no IPTU. Contudo, existem casos que podem chegar a 10%”, diz.
Entretanto, Domingos ressalta que antes de efetuar o pagamento é preciso se atentar a compromissos futuros. “Muitas pessoas se deixam levar pelo bom desconto e acabam esquecendo que haverá outras contas a serem pagas naquele mesmo mês ou nos próximos. Portanto fique atento: não adianta pagar à vista e conseguir desconto em uma despesa e não ter dinheiro suficiente para quitar as outras”.
Domingos também destaca a importância da elaboração de um bom planejamento e diz que o grande erro das famílias está em não programar seu pagamento com antecedência. "Está certo que 2021 foi um ano difícil, mas isso só mostra como é necessário um planejamento para 2022 para que a situação não piore. Como a maioria das pessoas não traçam um planejamento anual, acabam começando um ano novo com dificuldades financeiras, já que no período há também gastos com matrícula e material escolar, entre outros”, pontua.
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