Em busca da reeleição, Jair Bolsonaro (PL) enfrenta uma crise em setores do funcionalismo público federal por conta da promessa de reajuste salarial não cumpridaFilipe ARAUJO / AFP
Publicado 01/06/2022 15:36
Brasília - A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) culpando servidores públicos pela falta de reajuste salarial para policiais rodoviários federais, policiais federais e agentes de segurança pública não foi bem recebida por outras categorias. Sindicatos da Receita Federal e do Banco Central criticaram as falas do presidente e ainda acusaram Bolsonaro de não cumprir as promessas de campanha.
Em pronunciamento realizado na última segunda-feira, 30, em visita ao Ceará, o presidente disse que a mobilização de outros servidores públicos federais compromete o aumento salarial da PRF, promessa feita pelo presidente no fim do ano passado. Bolsonaro ainda acusou os sindicatos de buscarem reajustes abusivos em seus vencimentos.
"E digo a vocês publicamente, PRF (servidores da Polícia Rodoviária Federal): o grande problema não é o nosso lado, são colegas, outros servidores, que não admitem reestruturar vocês sem dar aumento até abusivos para o outro lado", afirmou.
A declaração respingou em servidores do Banco Central e da Receita Federal, que se mobilizaram, desde o início do ano, para pedir reestruturação de carreiras e reajuste salarial. A pressão chegou a surtir efeito, com o Planalto recuando da proposta de favorecer profissionais da segurança pública e reajustar os salários de todos os servidores federais em 5%. No entanto, o tom de Bolsonaro mudou nesta semana.
"Pessoal da PRF, somos o primeiro governo que tem teto de gastos. Eu não posso dar um aumento para a PRF, para a PF, Receita, para quem quer que seja, sem exigir uma dotação orçamentária para tal. Nós somos escravos da lei, não vamos buscar alternativas, subterfúgios, e incorrer em crime de responsabilidade para atender quem quer que seja", disse nesta segunda-feira.
As declarações do presidente devem aumentar a pressão contra o governo federal para reajustar os salários de todas as categorias. Nesta terça-feira (31), o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) anunciou a manutenção da greve dos servidores e informou que vai pressionar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para novas rodadas de negociações.
"Os próprios servidores da Polícia Rodoviária Federal já vieram a público para dizer que a inflação impacta todos os servidores. Então, eles mesmo acham que todos merecem um reajuste", afirma Fábio Faiad, presidente do Sinal.
Faiad ressalta haver estudos de ampliar a mobilização nas próximas semanas, impactando alguns serviços do Banco Central.
"Estamos atuando para causar o maior impacto possível no Copom, começando pelas atividades preparatórias. Nós vamos deixar claro o nosso posicionamento sobre a falta de reajuste", disse.

Pedido abusivo

O presidente do Sinal criticou as falas de Bolsonaro sobre o pedido de reajuste dos servidores do Banco Central. Para Fábio Faiad, a fala do presidente da República não tem fundamento, já que o sindicato pediu um reajuste dentro da inflação medida nos últimos quatro anos.
"Simples, estamos pedindo apenas o reajuste corrigido pela inflação do governo Bolsonaro. Ou seja, pedimos o aumento de 27%, que é o índice medido entre 2019 e este ano. Não estamos querendo aumento exorbitante. Se o reajuste é abusivo é por causa da inflação causada pelo próprio governo dele", explica Faiad.
No começo de maio, Campos Neto se reuniu com membros do sindicato e chegou a enviar uma proposta de aumento de 22% ao Ministério da Economia. A solicitação, no entanto, foi retirada horas depois, após o próprio BC apontar inconsistências no pedido.
"Está tudo parado. Eles retiraram a proposta e não conversaram mais conosco. Estamos nos mobilizando contra a intrasigência do governo em negociar", ressalta.

Receita Federal

As críticas do presidente contra os servidores também repercutiu negativamente na Receita Federal. Em cinco meses, mais de mil auditores em cargos de diretoria entregam seus postos pedindo uma bonificação de eficiência, medida criada pela lei 13.464/2017.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Bolsonaro chegou a defender a medida, mas não sinalizou o pagamento aos servidores.
"A declaração dele não cabe a Receita Federal. Nunca pedidos aumento salarial. Só queremos a bonificação por produtividade, medida que está prevista em lei", explica George Souza, presidente Nacional do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Sindifisco).
"Inclusive o próprio Bolsonaro publicou um vídeo defendendo a categoria e acusando o Ministério da Economia de barrar a proposta. O que ele esqueceu é que desde setembro de 2021 está na mesa dele a proposta de decreto já avalizada pelo Paulo Guedes".
Souza ressalta o pedido feito para o governo recuar do corte de R$ 1,2 bilhão do orçamento da Receita Federal. Para o presidente do Sindifisco, o ministro da Economia, Paulo Guedes, é o culpado pelas promessas descumpridas de Bolsonaro.
"Guedes é o responsável por fazer a dotação orçamentária, ou seja, o Bolsonaro está cumprindo apenas o que ele manda. O Guedes é o responsável por colocar o Bolsonaro nessa sinuca de bico", disse.
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