Longa fila é registrada no Cras Nelson Mandela, em BonsucessoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 19/09/2022 12:19 | Atualizado 19/09/2022 15:49
Rio – Cariocas voltaram a enfrentar longas filas nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), em diversos bairros do Rio, na manhã desta segunda-feira (19), para conseguir atualizar o cadastro no CadÚnico. Mesmo após o mutirão feito pela prefeitura, no último sábado (17), a procura pelos serviços não diminuiu e beneficiários voltaram a passar a madrugada à espera de atendimento.

No Cras Nelson Mandela, em Bonsucesso, Zona Norte, houve registro de pessoas que tiveram de esperar por até 14 horas na fila. "Falta informação. Os números são poucos, só 90, enquanto devem ter umas 300 pessoas na fila. Estou desde ontem (domingo) aqui para conseguir ser atendida", contou Marcela Lopes, que chegou ao local às 22h.
"É um massacre, uma safadeza, uma pouca vergonha. Esse é um governo de safados. Isso aqui é desumano, não é coisa para gente, não. Nos tratam igual bicho. Muita gente com fome, cansada... muitos vão trabalhar depois daqui, super cansados e não vão ter produtividade no trabalho. É isso daí que sofremos. A dificuldade é total, todo mundo ao relento aqui fora. Tem gente que precisa deixar o filho com alguém cuidando para poder vir. Não tem organização, não tem fila de prioridade. Pode ser grávida, idoso, com criança, o que for, todo mundo na mesma fila. É só olhar em volta, tem senhora, tem mãe, tem doente e estão todos aqui. Eles deveriam ter prioridade", desabafou Marcela.
Iris Paixão, 23, tem uma filha de apenas cinco anos e está na fila desde às 22h, para fazer o cadastro. “Estou aqui para conseguir uma ajuda para me manter, porque tenho uma filha. Cheguei às 22h e a maior dificuldade é o frio e a fome. A gente veio despreparado, aí tenta dormir e não dá pra dormir. É uma fila imensa, maior sufoco pra gente tentar conseguir alguma coisa, isso se conseguir”, desabafa.

Houve, ainda, relatos de idosos que pernoitaram na fila. Margarida de Oliveira, 68, contou que esperava no local desde a tarde do dia anterior para atualizar seu cadastro. "Cheguei aqui às 18h de domingo. Trouxe roupa, comida, água e dormi aqui esperando. Eu já tenho o Cadastro Único, recebia auxílio emergencial e achei que, por receber essa ajuda, o Auxílio Brasil entrava direto. Aqui, me explicaram que não. Não recebo ajuda desde março, quando acabou o auxílio emergencial e vim hoje para fazer o novo cadastro para receber o Auxílio Brasil. Dependo desse cadastro para conseguir receber o benefício do Governo", explicou Margarida.
Alguns não conseguiram atendimento mesmo tendo chegado com antecedência ao centro, como foi o caso de Cilene Barros, 60. "Está brabo, mas isso aqui é Brasil. Tem que botar ordem na casa. A gente passa aperto, um sufoco, dorme aqui fora e a fila ainda está grande. Muita gente que chegou junto comigo está na mesma, dormindo na fila desde 1 hora da manhã. Já vim três vezes e não consegui, para você ver como a fila está grande", contou.
João Assis Padilha Filho, 57, que se encontra em condições de rua, conta que roubaram todos os meus documentos e que está na fila para realizar o cadastro do CadÚnico para tentar se tornar beneficiário do Auxílio Brasil.
“Estou passando por uma dificuldade tremenda e tô precisando de uma ajuda. (...) Vim no Cras em busca desse Auxílio Brasil, porque até para trabalhar em biscate é complicado. Eu cheguei ontem (domingo) aqui, dormi na fila, cheguei 17h da tarde, pra buscar esse atendimento. Lá dentro, como eu estou sem os meus documentos, a moça me mandou aguardar uma assistente social, pra ver o que ela pode decidir sobre se eu consigo receber esse auxílio ou não. Roubaram a minha identidade, mas na minha carteira profissional tem todos os meus dados é aí que ela vai ver como pode me ajudar”, explicou João.
O movimento também foi grande no Cras de Realengo, na Zona Oeste. No último sábado, a prefeitura realizou o primeiro dia de mutirão do CadÚnico, e foram atendidas 3.266 pessoas em oito polos especiais espalhados pela cidade. A ação é um medida do governo municipal em resposta às reclamações de longas filas e falta de atendimento nos Cras. O atendimento ficou paralisado durante 20 dias depois de um ataque hacker ao banco de dados da prefeitura ter inutilizado todos os computadores e causado instabilidade no sistema.
Por causa do problema, os centros passaram a atender apenas 60 pessoas por dia na volta do funcionamento, número que foi aumentando para 90 após a compra de novos equipamentos. O mutirão vai acontecer novamente no próximo sábado.

O horário de atendimento dos Centros de Referência de Assistência Social é de 8h às 17h, de segunda à sexta.
Reportagem de Jorge de Mello, sob supervisão de Raphael Perucci
Leia mais