Fila no CRAS Nelson MandelaReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 11/10/2022 12:19
Dezenas de pessoas passaram esta terça-feira, 11, enfrentando as enormes filas que se formam em frente aos Centros de Referência da Assistência Social (Cras), no Rio de Janeiro. O motivo é a tentativa de atualização dos dados do CadÚnico. O prazo final para a regularização é esta sexta-feira, 14.
Atualmente, ele é o principal instrumento do governo federal para a concessão de auxílios e inclusão de famílias em programas sociais. Além do Auxílio Brasil, o CadÚnico também permite o acesso à Tarifa Social de Energia (TSEE), Benefício de Prestação Continuada (BPC), o antigo Auxílio Emergencial, e a ID Jovem.
Nos dias 17 e 24 de setembro a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS)  realizou mutirões de recadastramento. No entanto, nem eles foram suficientes para conter as filas que ainda se formam.
Com a filha de apenas seis meses no colo, Jocilma Viana, de 25 anos, chegou às 4h no Cras Nelson Mandela, que fica em Bonsucesso, Zona Norte do Rio. Às 9h, quando foi entrevistada pela equipe do O Dia, ainda aguardava atendimento, que não possui fila de prioridade. Jocilma tenta adicionar a bebê em seu cadastro desde janeiro. "Não tinha dinheiro para passagem pra vir hoje, pedi emprestado. Os 600 reais é um valor, mas tenho que gastar tudo com meus filhos", relatou. O mais velho ficou sob cuidados de uma vizinha.
Desempregada, ela ficou sozinha com dois filhos pequenos, após ser abandonada pelo marido, que saiu de casa com a mãe, que morava com o casal, após uma discussão entre as duas.
Ela explica que não consegue trabalho porque "as empresas não querem contratar quem tem filho pequeno". "Uma vez me perguntaram se a prioridade era os meus filhos ou a empresa. A prioridade sempre vai ser meus filhos", afirmou.
Aos 49 anos, a também desempregada Soraia Barbosa Bernardo, tentava novamente a atualização de cadastro. Ela conta que morava na Ilha e busca desde novembro atualizar o cadastro.
O recadastramento é obrigatório para aqueles que estão com cadastro desatualizado desde 2016 ou 2017 ou quem tenha passado por alguma mudança na situação familiar, como nascimentos, falecimentos ou ganho de renda.
Soraia conta que recebeu o auxílio emergencial durante a pandemia, mas não consegue receber o Auxílio Brasil. Segundo ela, o Cras alega que Soraia tem uma renda de R$ 2,4 mil. "Não tenho. Não tenho marido, não tenho filho, ele morreu mas não recebo pensão nenhuma. Por isso, registrei 800 reais", explicou. Atualmente, a mulher vive da reciclagem, e às vezes, faz unhas ou faxina. "Mas isso não da mais de 2 mil reais, as vezes não pego nem 500 reais. Às vezes pago só o aluguel e fico fome. Tenho que comer na casa dos outros", contou.
E não é só comida que falta para Soraia. Desde a morte do filho, ela entrou em depressão, mas também não consegue comprar os remédios por falta de dinheiro.
Cristiane da Silva Trindade, 51, chegou no local às 00h40 e reclamou do atendimento na unidade. "O tratamento é péssimo, trata a gente desumanamente", afimou a dona do lar que estava no local pela 4ª vez. "Sempre colocam algum impedimento pra gente ganhar o nosso dinheiro que é um direito nosso, né", lamentou.
A Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que o horário de funcionamento dos Cras é de 8h às 17h e que são feitos 90 atendimentos por dia em cada unidade. Não há previsão de aumento, mesmo com o prazo final para recadastramento nesta sexta-feira, 14. 
"Segundo a planilha atualizada em julho, 100.186 famílias estavam pendentes para realizar a atualização dos seus cadastros. A planilha de agosto e setembro será divulgada nos próximos dias", informou a pasta.
Aqueles que não conseguirem realizar o recadastramento poderão ter o benefício bloqueado temporariamente, até que atualizem seus dados e voltem a recebê-lo.
*Colaborou: Reginaldo Pimenta
 
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