Publicado 11/12/2022 05:00 | Atualizado 11/12/2022 13:10
A movimentação de dinheiro no Brasil se transformou com a chegada do Pix — meio de pagamento eletrônico instantâneo e gratuito. Dados do Banco Central (BC) revelam que o sistema já superou a marca de 2 bilhões de transações e R$ 1 trilhão de reais por mês. O método de transferência idealizado em 2018 — e implementado dois anos depois — tem mensalmente batido recordes e se tornado uma referência mundial. Segundo o presidente do BC, Campos Neto, o interesse de outros países se dá pelo baixo custo: "O Pix é muito barato; custou R$ 5 milhões para o Banco Central".
O sistema foi lançado oficialmente em novembro de 2020. Ele é operado por mais de 770 instituições financeiras, de acordo com o BC. Por conta da facilidade de mandar e receber dinheiro, e também pelo fato de não ter taxas, a adesão dos brasileiros ao novo sistema foi expressiva. A quantidade de chaves do Pix cadastradas, mais de 523 milhões, é quase o dobro da do número de habitantes no país, de 215 milhões, segundo a estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a maior parcela (213,9 milhões) das chaves Pix cadastradas é formada pelas aleatórias, seguida por CPF's (114,2 milhões), celular (108,3 milhões), e e-mail (77,5 milhões). Até outubro, mais de 141 milhões de brasileiros já haviam utilizado o Pix. A Febraban ainda destaca que os bancos associados investem cerca de R$ 3 bilhões ao ano para tornar mais seguras as transações financeiras dos usuários.
O sistema também conta as modalidades Pix Saque e Pix Troco, lançadas no fim de 2021. Elas permitem que o usuário faça saques em lojas, não apenas em caixas eletrônicos. A oferta das duas modalidades é opcional e depende dos estabelecimentos.
Ao jornal O Dia, o Banco Central, por meio de nota, relevou que o meio de pagamento "ainda não atingiu seu pleno potencial", tendo espaço para crescimento com diversos produtos e novidades previstos em sua agenda evolutiva.
"Além de aperfeiçoamentos contínuos nos mecanismos de segurança, está priorizado (mas ainda sem data de lançamento definida) o desenvolvimento do serviço que viabilizará os pagamentos recorrentes de forma automática, mediante prévia autorização do usuário, produto similar ao débito em conta, mas que independe do estabelecimento de convênios entre usuários recebedores e instituições financeiras específicas", ressalta o Banco Central.
De acordo com a autoridade monetária, "a adoção massiva" da população está em linha com as expectativas do BC, porque ele "foi concebido para ser versátil, acessível e democrático".
"O Pix foi amplamente adotado pela população, empresas e instituições governamentais em um curtíssimo espaço de tempo e tem feito frente aos objetivos públicos ao qual foi desenhado, promovendo redução de custos, aumento de eficiência e de competitividade no setor de pagamentos, alavancando a digitalização e impulsionando a inclusão financeira e novos modelos de negócio", diz o BC.
Segundo o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes, um dos fatores que contribuíram para a rápida aceitação do Pix entre a população foi o fato de, pelo design do serviço, nenhum usuário ter que baixar aplicativos ou se registrar em sites para usá-lo. "O consumidor utiliza o Pix por meio do aplicativo do seu próprio banco, que já é conhecido e no qual ele confia. Ou seja, o Pix já nasceu integrado ao cotidiano das pessoas e das empresas", explica.
Dados do BC mostram que 29,9% das pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico) não faziam movimentação eletrônica antes do Pix e passaram a fazê-lo com a implementação do meio de pagamento, sendo que 22,6% usaram só o Pix. Para o mestre em economia Diego Vasconcelos, o principal ponto é a inclusão financeira. Ele acredita que o sistema traz para a economia um impacto muito forte na inclusão de formas eletrônicas, considerando a quantidade de pessoas que, antes, não tinham acesso a essas formas eletrônicas e que faziam pagamentos de formas tradicionais.
"A gente percebe a diminuição dos custos de transações, principalmente para a população de baixa renda. A quantidade de transações que são feitas em dinheiro, geralmente são feitas pela população de baixa renda, que não tem muito conhecimento tecnológico e digital. O Pix conseguiu alcançar essa população pelos custos. O valor das transações facilitaram muito, porque, para fazer uma transação nos bancos físicos, e até digitais, existe uma taxa, mesmo que seja miníma. O Pix reduz esse custo, porque não existe cobrança de taxa. Para transferências de valores pequenos, o sistema de pagamento avançou nesse quesito", disse.
"Além disso, antes, as pessoas enfrentavam filas, tinham sempre que estar fisicamente no banco, tentando pagar com o próprio dinheiro ou com o cheque, se arriscando. Existe um efeito de insegurança nisso. Hoje elas têm essa facilidade, de fazer os seus pagamentos de forma digital e dentro de casa", concluiu o especialista.
Em março deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), também conhecido como "banco central dos bancos centrais", elogiou o sistema brasileiro em um relatório sobre meios de pagamentos digitais. De acordo com o BIS, o Pix é um exemplo de como as autoridades monetárias do mundo podem apoiar a interoperabilidade e a concorrência entre sistemas de pagamento internacionais, além de servirem de facilitadores para que os países façam a transição de seus sistemas monetários rumo à adoção de moedas digitais.
Fato é que países como Colômbia e Canadá já demonstraram interesse em adotar o sistema de pagamento a partir da tecnologia do BC. Segundo a autarquia, "o Banco Central vem acompanhando as iniciativas para interligações de sistemas de pagamentos de diferentes países, o que, no futuro, viabilizará pagamentos transfronteiriços de forma mais ágil e prática", salienta o Banco Central.
A autarquia ainda explicou que tem atuado de forma colaborativa com toda a comunidade internacional para divulgar o sistema, se colocando a disposição de negociações:
"Já participamos de inúmeros eventos e realizamos diversas reuniões técnicas com bancos centrais de países de todos os continentes. No final de novembro, inclusive, o Banco Central promoveu um workshop internacional com a participação de mais de 25 países, em que foram detalhadas as regras e os aspectos operacionais e tecnológicos do Pix."
O diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC ressaltou que esse tipo de evento "abre as portas para o desenvolvimento de pagamentos transfronteiriços instantâneos". "Conectar sistemas domésticos de pagamento instantâneo é certamente um caminho possível para esse fim. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para harmonizar regulamentação, tecnologia e operações em diferentes sistemas de pagamento", acrescenta.
Porém, no mês passado, Breno Lobo, consultor no Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central afirmou, durante o Fórum Meios de Pagamento, que a implementação do Pix internacional deve ocorrer apenas em 2024. "Na melhor das hipóteses, muito provavelmente em 2025. O sistema não é um produto para o curto prazo, porque depende de integrações complexas de sistemas, dependendo do ritmo de cada país".
Pix lidera as operações
De acordo com dados das "Estatísticas de Pagamentos de Varejo e de Cartões no Brasil" divulgados pelo Banco Central, o Pix ultrapassou o cartão de crédito e de débito no quarto trimestre de 2021 e, depois disso, não parou de crescer, chegando a 5,469 bilhões no fim do segundo trimestre.
Nos pequenos negócios, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o sistema instantâneo também virou o principal meio de pagamento. No Estado, 40% dos consumidores utilizam essa forma de pagamento nos estabelecimentos. Já o cartão de crédito aparece em segundo, com 26% — dinheiro (13%); cartão de débito (6%); e outra forma de pagamento (14%) completam a lista. O levantamento contou com a participação de 336 empresas fluminenses.
"Os empreendedores precisam estar antenados às novas tendências. Hoje, 75% dos empreendedores fluminenses vendem por meio de redes sociais, aplicativos ou internet. A transformação digital foi a grande aliada para agilizar a gestão das empresas e aproximação com seu público-alvo. O consumidor está mais seletivo e criterioso em suas decisões, privilegiando um ambiente que favoreça a praticidade para tomada de decisão mais rápida sem gerar muito estresse, seja em supermercados, consultórios, instituições financeiras”, avalia Raquel Abrantes, gerente de Inovação e Soluções do Sebrae Rio.
Riscos
O método de transferência facilitou as transações, as tornando mais rápidas e efetivas. Porém, com o fácil acesso a informações bancárias dos usuários e a rapidez do pagamento, o Pix também virou uma via comum para os golpistas.
Para o mestre em economia Diego Vasconcelos, ações que promovam o desenvolvimento do conhecimento na educação digital, atrelado a educação financeira, é peça chave para que a população faça o uso consciente dessa ferramenta e diminua o risco de fraudes bancárias.
"Esse meio digital também vem muito atrelado a fraudes e a possíveis golpes. O Pix é muito fácil e muito simples, mas muitas pessoas não possuem tanta facilidade com essa questão do meio eletrônico e elas estão em um cenário de facilidade de sofrer com esse tipo de crime. Essa facilidade nas transações traz essa preocupação. Eu acho que é questão de uma educação digital, uma educação financeira, um ponto de relevância como política pública, como incentivo do próprio Banco Central de trazer conhecimento para melhorar a vida do usuário e diminuir a possibilidade desses delitos", avalia Vasconcelos.
Saiba como se proteger de golpes
As fraudes mais comuns são os perfis falsos, ligações de golpistas se passando por atendentes bancários, clonagem de WhatsApp, QR Codes — código de barras de escaneamento — falsos e até mesmo sequestros. O roubo de celulares também favorece a apropriação de dados, que são usados pelos criminosos para efetuar transferências.
Além de manter o controle de seus gastos e manter privados seus dados bancários, é importante estar por dentro de alguns métodos de proteção pessoal:
- Meu celular foi roubado: e agora?
O bloqueio imediato do telefone é essencial para prevenir o golpe. Ligue para o seu provedor de serviços móveis para pedir o bloqueio do chip, impedindo que o ladrão possa receber o código via SMS para recuperação de senhas.
Depois disso, ligue para o seu banco notificando que o telefone vinculado à sua conta foi roubado e peça o bloqueio de qualquer transação feita pelo dispositivo. É importante ressaltar que esta etapa é necessária para todas as suas contas bancárias, e logo após é possível realizar o boletim de ocorrência em uma delegacia.
- Cuidado ao acessar sites on-line
Quando acessar um site, verifique se o endereço foi redirecionado para outro ou se o mesmo é o verdadeiro. Por muitas vezes, golpistas utilizam de sites fachada "vestindo" a interface de lojas virtuais conhecidas.
Não clique em links enviados por e-mails, SMS, mensagens instantâneas em aplicativos ou em postagens em redes sociais de lojas ou pessoas desconhecidas, principalmente se as contas estiverem listadas em endereços suspeitos ou estranhos. Mesmo que comece com "https" é necessário checar, pois mesmo com essa chave de segurança muitos criminosos conseguem burlar o sistema e aplicar golpes por sites que parecem oficiais.
Preste atenção às URLs das páginas com formulários que solicitam dados confidenciais. Se o endereço consiste em um conjunto de caracteres aleatórios ou possui uma URL suspeita, não finalize o pagamento e fique fique atento a novos contatos dos golpistas.
Qualquer insegurança quanto à veracidade do site é sinal de alerta. Não insira nenhuma informação e procure o mesmo produto em sites conhecidos.
- Robô do Pix
Existe, em redes sociais, uma movimentação grande para pagamentos realizados pelo "rôbo do Pix" ou similares, por meio dos quais o usuário paga uma certa quantia de dinheiro por meio do pagamento virtual e espera receber o dobro ou o triplo do valor investido. Contudo, esse é um dos golpes mais frequentes e pode causar prejuízos.
Para se prevenir, sempre suspeite de ofertas exageradamente vantajosas. Como não há nenhuma forma de contrato ou agendamento prévio para o pagamento, não há como confiar no "robô".
Mudança de regras e limites de transações
O Banco Central alterou as regras de limites para transações no Pix e divulgou melhorias operacionais na ferramenta de pagamentos instantâneos. A autarquia desobrigou as instituições financeiras participantes do Pix de aceitarem solicitações de clientes para mudar o período do noturno e eliminou a obrigatoriedade de limite por transação, mantendo apenas o limite por período do dia. As novas regras entram em vigor no dia 2 de janeiro.
Em agosto de 2021, o BC estabeleceu um limite de mil reais para transferências noturnas, para tentar dificultar a ação de criminosos, como assaltos e sequestros relâmpagos. Mas permitiu que os usuários mudassem o horário de início desse período, assim como alterassem o valor total permitido por operação durante todo o dia. Essa flexibilidade foi considerada pouco demandada pelos usuários, com baixa efetividade para limitar os crimes, além de ser uma operação bastante complexa para as instituições financeiras.
Agora, a solicitação de aumento do limite poderá ser acatada a critério da instituição participante. Quanto ao período noturno, fica definido de 20h as 6h. Contudo os bancos e demais participantes podem ofertar, a seu critério, a possibilidade de mudar para entre 22h e 6h.
Além disso, o BC determinou que as instituições poderão definir os limites para pessoas jurídicas. Outra mudança foi a alteração do balizador para definição dos limites transacionais nas operações com finalidade de compra, que passa a ser por TED em vez do cartão de débito.
Segundo o BC, não sofreram alterações as regras para o pedido de alteração de limites. Foi mantida a exigência de que pedidos para redução — seja de transações de saque, pagamentos ou transferências — sejam acatados de forma imediata, enquanto pedidos para ampliação dos limites são processados e produzem efeitos, se acatados pelo participante, entre 24 e 48 horas após a solicitação do usuário.
Outra mudança referente a limites foi o aumento para a retirada de dinheiro por meio de transações de Pix Saque e Pix Troco. Atualmente, o maiorde saque com Pix é de R$ 500 durante o dia e de R$ 100 no período noturno. Agora, os limites passarão a ser de R$ 3 mil e R$ 1 mil, respectivamente.
O BC ainda fez mudanças operacionais no Pix, para facilitar o recebimento de recursos por correspondentes bancários, a exemplo do que já ocorre com as lotéricas, e viabilizar o pagamento de salários, aposentadorias e pensões pelo Tesouro Nacional por meio do Pix.
Outra mudança referente a limites foi o aumento para a retirada de dinheiro por meio de transações de Pix Saque e Pix Troco. Atualmente, o maiorde saque com Pix é de R$ 500 durante o dia e de R$ 100 no período noturno. Agora, os limites passarão a ser de R$ 3 mil e R$ 1 mil, respectivamente.
O BC ainda fez mudanças operacionais no Pix, para facilitar o recebimento de recursos por correspondentes bancários, a exemplo do que já ocorre com as lotéricas, e viabilizar o pagamento de salários, aposentadorias e pensões pelo Tesouro Nacional por meio do Pix.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.