Publicado 31/03/2023 13:59
O avanço da taxa de desemprego no Brasil mostra um retorno do mercado de trabalho ao padrão de sazonalidade, passado o período de excepcionalidade dos anos de pandemia de covid-19. No entanto, é possível que haja também em algumas atividades influência da desaceleração da atividade econômica. A avaliação é de Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desemprego no País subiu de 8,1% no trimestre terminado em novembro de 2022 para 8,6% no trimestre até fevereiro de 2023, mas ainda foi a mais baixa para esse período do ano desde fevereiro de 2015, quando estava em 7,5%.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE.
"De modo geral, mercado de trabalho responde a efeito sazonal", resumiu Adriana Beringuy. "Eu não saberia te dizer o quão é relevante já para esse dado essa desaceleração econômica", disse
No trimestre encerrado em fevereiro de 2023, 1,571 milhão de pessoas perderam o trabalho, enquanto 483 mil passaram a buscar uma vaga, fazendo o contingente de desempregados subir a 9,224 milhões.
"É um comportamento sazonal de mercado de trabalho haver aumento de desocupação e retração da população que está trabalhando", disse Adriana. "O mercado de trabalho não fica imune à conjuntura econômica, mas não podemos perder de vista o componente sazonal", ponderou.
Embora tenha havido aumento na procura por trabalho, a migração de 1,473 milhão de pessoas para a inatividade em apenas um trimestre impediu um avanço ainda maior na taxa de desemprego. Com redução nas vagas existentes, não fosse um aumento da inatividade, "certamente a população desocupada teria sido maior", confirmou Adriana. "Se há pessoas que vão pra fora da força, elas deixam de pressionar o mercado de trabalho", confirmou a coordenadora do IBGE.
A redução na população trabalhando foi puxada majoritariamente pela formalidade no trimestre terminado em fevereiro de 2023. Entre os 1,571 milhão de pessoas que deixaram de trabalhar, 596 mil atuavam como informais, o restante tinha ocupação formal.
A redução no emprego formal foi puxada pelo setor público, mas as demissões ocorridas na indústria também ajudaram a desacelerar a geração de vagas com carteira assinada no setor privado.
Segundo Adriana Beringuy, as dispensas na indústria podem ter influência da desaceleração econômica, mas também um efeito sazonal, uma vez que o setor costuma dar férias coletivas no início do ano, considerando um menor dinamismo da produção.
"Algumas indústrias dão férias coletivas. Não é um momento que a indústria está necessariamente aquecida", apontou Adriana. "Outros fatores podem estar ligados a isso (demissões)? Cadeia de suprimentos, expectativas de empresário? Pode ser que sim."
Oito das dez atividades econômicas registraram demissões no trimestre encerrado em fevereiro: indústria (-343 mil), informação, comunicação e atividades financeiras, profissionais e administrativas (-151 mil), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-471 mil), construção (-159 mil), outros serviços (-171 mil), comércio (-254 mil), serviços domésticos (-74 mil) e agricultura (-202 mil). Houve geração de vagas apenas em transporte e armazenagem (98 mil) e alojamento e alimentação (148 mil).
"Não estou dizendo que o mercado de trabalho está isolado nem blindado da atividade econômica. Esses efeitos econômicos podem ser potencializados por uma característica sazonal, que aqui não consigo isolar", justificou a coordenadora do IBGE.
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