Publicado 03/08/2023 08:20 | Atualizado 03/08/2023 08:23
Ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo avalia como acertada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Na avaliação dele, havia espaço para um corte aplicado porque, desde a última ata do Copom, a inflação surpreendeu para baixo e as expectativas continuaram a cair.
"Achei positivo ter feito (o corte de) 0,50 ponto, porque ele (Copom) se mostrou flexível ao que está acontecendo. Gostei bastante da decisão", afirma Figueiredo, hoje presidente do conselho de administração da Jive Investments.
A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.
A maior parte do mercado esperava uma redução dos juros de 0,25 ponto porcentual. O corte de 0,50 surpreendeu?
Na verdade, quando você olha a curva de juros, ela já embutia uma chance de uma queda de 0,50. Os economistas é que, ainda em sua maioria, achavam que o corte seria de 0,25 ponto. Todo o mercado entende que essa é a primeira de uma série de quedas. Estamos falando de um início de um processo de distensão monetária, de redução da taxa de juros. O mercado projeta (a Selic) em torno de 11,50% para o final deste ano, e em torno de 9% para o fim do ano que vem.
O sr. acha que havia espaço para um corte de 0,50?
Eu achava que o mais adequado era um corte de 0,50 ponto por conta dos dados que saíram melhores depois da última ata do Copom. Achei positivo ter feito 0,50 ponto, porque ele (Copom) se mostrou flexível ao que está acontecendo. Gostei bastante da decisão.
Na próxima reunião o Copom repete o corte de 0,50?
É sempre dinâmico. Uma série de coisas deve ocorrer, dados vão sair. Eles podem sempre ser reavaliados. Mas é muito provável que ele continue neste ritmo de 0,50 ponto.
A previsão do sr. segue o mercado para a Selic ao fim de 2023 e 2024?
Deve ser isso que vai acontecer. É possível que, no final do ano que vem, a taxa final desse processo pode ir abaixo de 9%. Isso vai depender da política fiscal, de o governo conseguir cumprir a meta de déficit zero de primário no ano que vem. Na decisão desta quarta, o Copom se mostrou dividido para o tamanho do corte de juros.
Como o sr. avalia esse dissenso?
Não acho que dissenso é uma coisa ruim. Cada diretor tem o seu voto. Sempre foi assim, inclusive, na minha época. O que existe é uma tentativa de convergência de cada um dos votantes, mas, às vezes, é isso aí mesmo. Faz parte. Não teve nenhum voto para não haver redução (da Selic). Foram alguns votos para que a redução começasse um pouco menor.
E o que precisa acontecer na economia para que o País engate um ciclo de queda de juros e a Selic chegue a 9% ou até abaixo disso em 2024?
O que precisa é continuar com boas práticas de política econômica. Nos últimos seis anos, o Brasil fez um conjunto enorme de reformas, como da Previdência e trabalhista, e avançou num conjunto muito grande de reformas microeconômicas, como na lei do saneamento, na de óleo e gás, na revisão da lei de falências. Foram várias reformas que ampliaram a capacidade de o Brasil crescer. Isso quer dizer que o Brasil tende a crescer mais do que nos últimos anos. Neste ano, algumas reformas micro foram colocadas em xeque pelo governo atual, mas o Congresso não deixou que isso avançasse. Houve uma agenda de contrarreformas que não aconteceu e foi evitada, e uma agenda do lado macro que avançou. E podemos falar das duas principais: o arcabouço fiscal e a reforma tributária. O que prevaleceu foi agenda positiva.
O governo tem metas fiscais ambiciosas. Se elas não forem cumpridas, esse cenário de queda de juros pode ser interrompido?
Se o governo conseguir um resultado próximo, com um esforço muito grande nessa direção, vai prevalecer esse cenário mais positivo mesmo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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