Publicado 15/12/2023 14:29
Rio - Ter uma mesa farta no Natal está mais caro este ano. É o que revela a pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). De acordo com o levantamento, a ceia natalina com 10 itens custa, em média, R$ 294,75, sendo 8,9% mais cara que o valor do ano passado. Composta por aves natalinas, bacalhau, caixa de bombom, espumante, lombo e panetone, a ceia vem sendo alterada ou diminuída para caber no bolso dos consumidores.
A recepcionista Regina Pessoa, de 49 anos, optou por uma ceia mais simples este ano. "As coisas estão muito caras, eu nem compro ave porque está muito caro, eu vou no simples mesmo. E também nem peguei o azeite porque está muito demais, tudo da ceia de Natal está cara, a nossa vai ser bem simples, vou me adaptando para caber no bolso", disse.
O preço do azeite também impressionou a agente comunitária de saúde Viviane Araújo, de 46 anos. Ela não teve como escapar e precisou comprar o produto mesmo com o preço salgado. "Infelizmente, o azeite eu tive que comprar e pagar R$ 30. Tá tudo muito caro, a gente gasta no mínimo R$ 200 em uma ceia simples, pior ainda pra quem tem família grande. Comprei algumas coisas que estavam faltando em casa, mas estou esperando entrar o décimo terceiro para comprar as coisas mais caras do Natal", disse.
O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz, explicou que o aumento do preço do azeite se dá a partir de problemas de safra e desvalorização cambial. "O Brasil não é um grande produtor de azeite, boa parte do azeite que a gente usa no Brasil é importado de grandes países produtores como da Espanha, Portugal e Grécia. E especialmente a Espanha, que é o maior produtor mundial de azeite, passou por uma alteração climática grave, o verão deles foi muito seco e isso atrapalhou o cultivo das oliveiras. Como a gente não é autossuficiente, temos que importar e a nossa moeda também desvalorizou comparado ao ano passado. E vai continuar assim porque a medida que essas festas se aproximam, a demanda é mais forte e o preço não vai cair. Então, pela lei da oferta e da procura, tudo que você tá procurando mais, aumenta de preço. A saída é pesquisar, usar outros tipos de óleos temporariamente e economizar", explicou ao DIA.
Viviane Araújo é uma das pessoas que optou por trocar o peru pelo frango assado. "Eu faço isso há muito tempo, é mais barato e ainda fica mais molhadinho e mais gostoso. As coisas estão muito caras e meus filhos comem demais. Coloco uma farofa, uma maionese, legumes e tá pronto, contou.
O preço de cada carne pode variar de acordo com a marca e supermercado, entretanto, o preço do peru varia de R$ 26 a R$ 30 por kg. O chester, por sua vez, vai de R$ 26 a R$ 28 por kg. Por fim, com maior variação entre as carnes, o tender vai de R$53 a R$8 9 por kg.
Apesar da pesquisa da Abras apontar preços mais altos, 62% dos supermercadistas projetam alta no consumo em relação ao Natal de 2022. O setor também projeta crescimento de 12% do consumo de bebidas e de 10% no de carnes no Natal.
Mesmo com preços altos, além de produzir a ceia da família, a psicóloga Karen Martins, de 53 anos, monta e entrega cestas básicas para 10 famílias do centro espírita em que trabalha. "Hoje eu vim pra comprar os produtos e fazer as cestas básicas e com isso, eu vejo como as coisas estão caras e como a pobreza aumentou, porque muitas famílias procuram a gente para cadastrar e ganhar as cestas. Se cada um de nós fizesse um pouquinho, as coisas dariam certo para todos", ressaltou a psicóloga.
Mesmo com preços altos, além de produzir a ceia da família, a psicóloga Karen Martins, de 53 anos, monta e entrega cestas básicas para 10 famílias do centro espírita em que trabalha. "Hoje eu vim pra comprar os produtos e fazer as cestas básicas e com isso, eu vejo como as coisas estão caras e como a pobreza aumentou, porque muitas famílias procuram a gente para cadastrar e ganhar as cestas. Se cada um de nós fizesse um pouquinho, as coisas dariam certo para todos", ressaltou a psicóloga.
Já a militar do exército Kethlen Lote, de 53 anos, aproveitou o dia para comprar produtos para ceia de Natal e Revéillon. De acordo com ela, o dinheiro que recebe do ticket de alimentação não foi suficiente. "Eu tive que complementar com meu dinheiro porque não foi o suficiente e ainda tenho que voltar porque ficou faltando coisa. As coisas estão muito caras, mas eu quero fazer uma ceia bem bonita para a família toda", disse.
O economista André Braz deu algumas dicas para driblar a inflação e economizar na ceia de Natal. Fazer uma lista, tentar substituir produtos de marcas grandes por menos famosas, pesquisar para saber onde o produto está mais em conta e não deixar para comprar os itens muito perto do Natal são algumas sugestões.
"Às vezes você olha no rótulo e é exatamente o mesmo, mesmas propriedades nutricionais e até o fabricante. Se você faz um carrinho só com produtos famosos e outro com produtos não tão famosos, a diferença vai ser de 30 a 50%. A gente paga muito pela marca e o rótulo, e isso tem um peso muito grande no Natal, principalmente entre panetones, que tem vários níveis de preço. Você acaba pagando caro em uma marca e não em qualidade", explicou.
Como muitos dizem, o Natal é tempo para estar em família e compartilhar momentos. Que seja assim na ceia também. É o que explica o especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias. "Não precisamos manter essas tradições, como bacalhau e peru, para que a gente possa estar em comunhão pelo espírito do Natal. Uma maneira de se organizar é cada um leva seu prato, é importante entender que isso pode ser um diferencial muito grande em relação a união. Uma ótima alternativa também para quem está com o orçamento mais apertado nesse Natal é escolher outros tipos de carnes, os chamados produtos substitutos", completou.
Quem sabe neste Natal mais que dar presentes ou comer muito, possamos compartilhar verdadeiros momentos de amor com aqueles que realmente fazem parte de nossas vidas.
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