Criminosos usam IA para aplicar golpes em vítimasMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Publicado 30/06/2024 05:00
O golpe de se passar por outra pessoa para extorquir dinheiro não é novo, mas com o avanço da Inteligência Artificial (IA) tornou-se possível criar vídeos e áudios que simulam a realidade. No início do mês, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontaram que 4.321 anúncios nas plataformas da Meta, como Instagram e Facebook, promoviam uma falsa indenização pela empresa Serasa. Os conteúdos apresentavam trechos de vídeos gerados por IA de políticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Nikolas Ferreira (PL-MG).
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O cofundador do Site Confiável, Alessandro Fontes, explica que esses vídeos gerados por IA são conhecidos como deepfakes. “Mesmo que [o vídeo] pareça real e a voz seja idêntica, ele é falso. Chama-se deepfake. Os criminosos usam recursos de Inteligência Artificial para fazerem você acreditar e confiar no que eles estão oferecendo”, afirma.
O golpe da Serasa não é o único. No dia 23 de junho, por exemplo, uma transmissão ao vivo no YouTube atraiu mais de 30 mil espectadores ao exibir um deepfake de Elon Musk. No vídeo, a imagem gerada por IA, que se apresentava como o bilionário, promoveu golpes envolvendo criptomoedas e solicitou depósitos em um site fraudulento.
Vídeo e canal foram excluídos após a denúncia - Reprodução/YouTube
Vídeo e canal foram excluídos após a denúnciaReprodução/YouTube
Além dos golpes envolvendo deepfakes de famosos, diz Alessandro Fontes, “criminosos têm usado o recurso para burlar tecnologias de identificação facial de grandes bancos. Outros têm criado falsos nudes de mulheres para assediá-las e extorqui-las”. A tecnologia também permite simular alguém da família para pedir dinheiro, por exemplo.
Como evitar golpes
De acordo com Daniel Blanck, advogado especialista em Direito Digital, uma das formas mais eficazes para evitar cair em golpes é conhecê-los. “Estar atento às novas modalidades de fraudes, acompanhar as notícias veiculadas na mídia a fim de estar apto a identificar possíveis tentativas é a melhor forma de reduzir a chance de virar uma vítima”, afirma.
Daniel Blanck, advogado especialista em direito digitalArquivo pessoal
Por outro lado, Blanck também defende medidas práticas para o dia a dia. Entre elas, a proteção de dados, o uso de senhas complexas com alterações regulares e, principalmente, não clicar em links suspeitos. Ele destaca a necessidade de “analisar o conteúdo detalhadamente antes de abrir ou clicar, verificando a autenticidade das informações e a origem das mensagens”.
O presidente da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), Daniel Marques, pontua que outro cuidado importante é não acreditar em promessas impossíveis e desconfiar de comportamentos que fogem do padrão. Marques também defende que é necessário manter o software de segurança, como antivírus e firewalls, atualizado. Por último, ele destaca que é importante evitar compartilhar informações pessoais sensíveis on-line.
Daniel Marques, presidente da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs)Arquivo pessoal
O Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança da Informação (CERT.br) disponibiliza uma cartilha de segurança na internet, conforme apontado por Rafael Torres, especialista em tecnologia da SM Holding. Para acessar, basta clicar no link: cartilha.cert.br. “É um conteúdo de fácil compreensão para todos os níveis de conhecimento e idade”, diz.
Rafael Torres, especialista em tecnologia da SM HoldingArquivo pessoal
É crime!
Apesar do Brasil não contar com uma legislação específica sobre o uso de Inteligência Artificial, Daniel Marques explica que há leis que abrangem esses casos, como, por exemplo, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Marco Civil da internet.
De acordo com ele, “a LGPD é fundamental para regular o uso e a proteção de dados pessoais, abrangendo também aqueles tratados por inteligência artificial”. Marques acrescenta que “o Marco Civil da Internet é outra peça chave na legislação brasileira”, por definir “princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no País”.
No Brasil, já há projetos de lei em trâmite para punir esses crimes de forma mais específica, aponta o advogado Daniel Blanck.
Caí no golpe. E agora?
Se você foi vítima de um golpe, ou conhece alguém que está passando pela situação, Blanck explica que é importante manter a calma e seguir alguns passos para se resguardar de forma rápida e eficiente.
De imediato, o advogado afirma que é necessário bloquear os cartões de crédito e débito para evitar o acesso dos criminosos. Também é importante “contatar as administradoras dos cartões, informando a ocorrência e requerendo o monitoramento de gastos que fujam ao seu perfil”, pontua. Outra dica do especialista é registrar um boletim de ocorrência junto à polícia.
Uma recomendação essencial, segundo Rafael Torres, é “fazer um registro detalhado de todo o ocorrido, transações e evidências relacionadas ao golpe”. Alterar todas as senhas e fazer um acompanhamento de como seus dados estão sendo utilizados também são medidas fundamentais. “Essa consulta pode ser feita de forma gratuita no Registrato, no site do Banco Central. Nesse serviço, é possível verificar todas as contas bancárias abertas em seu nome, todas as chaves Pix registradas com seus dados e seu histórico financeiro”, explica.
Em caso de chantagem, Alessandro Fontes defende que é importante não se assustar. “Procure a polícia e faça uma denúncia o mais rápido possível”, diz. Avisar amigos e familiares sobre o que está acontecendo também é necessário. “É importante ter uma rede de apoio emocional e digital”, afirma o especialista.
Matéria da estagiária Alexia Gomes, sob a supervisão de Marlucio Luna
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