Muitas pessoas utilizam consórcios para a compra de imóveisFreepik
Publicado 01/09/2024 05:00
Nos últimos anos, a modalidade de compra por consórcio tem ganhado popularidade como uma alternativa ao financiamento convencional para a aquisição de bens, como imóveis e veículos. Essa é uma forma de compra na qual um grupo de pessoas se reúne com o objetivo de adquirir um bem específico. A principal característica do modelo é a ausência de juros, o que atrai muitos participantes.

O primeiro passo para participar de um consórcio é se associar a um grupo, geralmente organizado por uma administradora. Ele é formado por um número fixo de participantes, que contribuem com parcelas mensais.

A partir daí, cada participante paga uma parcela fixa mensal ao fundo comum do consórcio. Essas parcelas são usadas para formar o montante necessário para a aquisição dos bens. O acesso ao bem desejado pode ocorrer de duas formas principais: sorteio e lance.

Na primeira forma, os participantes podem ser contemplados aleatoriamente através de sorteios realizados periodicamente. Eles geralmente ocorrem uma vez por mês, e a contemplação dá o direito de adquirir o bem.

Já a outra forma são os lances. Os participantes podem oferecer um valor adicional, que é adicionado ao fundo do consórcio. Com isso, o participante passa a ter uma chance maior de ser contemplado.

Uma vez contemplado, o participante pode utilizar o crédito do consórcio para comprar o bem desejado, dentro dos limites e regras estabelecidos pelo grupo e pela administradora. O crédito corresponde ao valor total do bem, descontadas as taxas administrativas.

O DIA procurou experts no tema para avaliar a questão. O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias, por exemplo, acredita que as compras em consórcios não são uma vantagem para todos.

"Apesar de não cobrar juros, as taxas de administração do consórcio podem ser bastante elevadas, reduzindo qualquer vantagem financeira. Além disso, o consórcio depende da sorte para a contemplação, o que significa que o comprador pode acabar esperando anos para adquirir o bem, enquanto no financiamento o bem é adquirido na hora. Para quem não tem pressa de ter o bem, o consórcio pode fazer mais sentido devido ao fato de todos os meses ir se criando a reserva para a compra futura", avalia.
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No entanto, ele esclarece que outra escolha pode ser feita para quem não tem pressa de adquirir um bem. "Ao invés de participar de um consórcio, direcionar os recursos para investimentos que geram rentabilidade pode ser uma escolha mais inteligente", explica.

Já a CEO da Double Check Consultoria, Daniela Pederneiras, acredita que a opção tem mais pontos positivos do que negativos, mas depende das características do comprador.

"O consórcio é um dos meios que existe para se conseguir um determinado bem, muitas vezes de valor alto. É uma boa opção para quem tem paciência, disciplina financeira, um perfil mais conservador e prefere evitar os custos adicionais dos juros. Se o objetivo da pessoa é conseguir um bem sem pressa e de forma planejada, esse modelo de compra é a melhor opção", explica.

"A escolha entre consórcio e financiamento depende muito das suas necessidades e situação financeira. O consórcio pode ser vantajoso por não ter juros, mas o comprador precisa esperar ser contemplado. Já o financiamento tradicional oferece o bem de forma imediata, mas inclui juros", ressalta.

Comparativo de compras e valores

Daniela exemplificou como seria uma diferença de uma compra de um automóvel de R$ 100 mil por meio de um consórcio ou um financiamento convencional de 60 meses:

"Sem dúvidas a compra por consórcio será mais vantajosa por não conter juros e sim taxa de administração que é muito mais barata. Se considerarmos a compra por financiamento de um carro de R$ 100 mil, com 60 meses, a uma taxa de juros de 1,5% a.m, no final vamos ter pago um valor total de R$ 152mil. Se formos fazer um exercício para comprar esse mesmo carro, via consórcio, com a taxa de administração de 15%, diluída ao longo do período de 60 meses, no final vamos ter o valor pago R$ 115 mil".

Satisfação de quem escolhe o modelo

O empresário Jurandy Oliveira, de 57 anos, contou que conseguiu adquirir um carro elétrico, que possui um valor elevado, através do consórcio. Ele disse que começou a pagar em 2018 e foi contemplado em 2020, dois anos depois de começar a pagar.

"Era uma forma de fazer um investimento no longo prazo. Era como se eu fosse fazer uma poupança, no jargão popular. Fui pagando as prestações e depois de dois anos fui contemplado com um sorteio", relatou.

Ele conta que, por ter tido uma experiência positiva, faria outro consórcio: "Faria outro consórcio, sim. Foi o único meio de conseguir um bem de grande valor. O único problema é que você não pode se desfazer do bem da mesma forma que seria um financiamento. É bom para você adquirir, mas não para se desfazer dele no decorrer do caminho", alerta.

Já a corretora de seguros Cristiane Carvalho, de 49 anos, contou que já adquiriu diversos bens por meio de consórcios, desde eletrodomésticos até um automóvel.

"Me interessei por essa opção por não ter juros. É uma forma de poupar, na minha maneira de ver. Vi muita vantagem ao fim de tudo. Se você não tem pressa de adquirir os bens, o consórcio acaba sendo uma opção mais barata que o financiamento", conta.


O que é possível comprar e como?

Para ficar mais claro sobre como fazer parte de um grupo e iniciar os pagamentos de um bem em um consórcio, O DIA conversou com Stéfanie Fulaneto, gerente de relacionamento de um importante banco que atua no país, e especialista em consórcios.

Ela conta que é possível fazer consórcios de diversos bens diferentes, "desde smartphones a placas fotovoltaicas e embarcações". Mas como? "É possível verificar no aplicativo de diversos bancos quais consórcios estão disponíveis", explica.
Mas e se o bem que eu quiser não estiver previamente descrito pelo banco? "Neste caso, é possível ir à sua agência bancária e conversar com o gerente de pessoa física, apresentando seu plano e bem de interesse para ver se é possível a realização do consórcio ou de um ponto em comum entre o banco e o cliente", explica a especialista.
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