Publicado 03/10/2024 12:15
O endividamento das famílias teve a terceira queda consecutiva em setembro, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) publicada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) nesta quinta-feira, 3. As dívidas em atraso, porém, aumentaram, piorando as condições de serem pagas.
PublicidadeO porcentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) reduziu para 77,2% em setembro de 2024, abaixo do resultado de agosto (78%) e do registrado em setembro de 2023 (77,4%). Esse terceiro recuo confirma a maior cautela das famílias com o crédito, afirmou a CNC.
Segundo a pesquisa, as famílias com maior renda, assim como o público masculino, foram as mais afetadas. A queda do nível de endividamento das mulheres apresentou retração de 0,8 ponto porcentual (p.p.) em relação ao mês anterior e os homens 0,7 p.p Enquanto as mulheres alcançaram nível abaixo do apresentado em setembro do ano passado (-1,1 p.p.), os homens permanecem em patamar de endividamento maior nesta comparação (+0,7 p.p.).
As projeções indicam que o endividamento das famílias pode voltar a crescer no último trimestre de 2024, impulsionado pelas compras de fim de ano e pelos efeitos das altas taxas de juros. O porcentual de famílias endividadas pode chegar a 78,6% até dezembro de 2024. Além disso, o porcentual de famílias com dívidas em atraso também pode aumentar, chegando a 29,4% até o fim do ano, tornando o cenário financeiro das famílias brasileiras ainda mais desafiador nos próximos meses, informou a CNC.
Cartão
O cartão de crédito continuou sendo o principal meio de pagamento entre as famílias brasileiras com dívidas, mesmo diante de uma maior cautela no uso do crédito. Um estudo inédito da CNC revelou que, entre os consumidores que relataram estar endividados no cartão de crédito, 30% utilizam essa modalidade para comprar alimentação, roupas e calçados.
"Esses números indicam que, apesar dos altos juros, o cartão de crédito ainda desempenha um papel importante no consumo cotidiano", explicou a CNC.
"A dependência crescente do cartão de crédito, especialmente para despesas cotidianas, como alimentação e vestuário, coloca as famílias em uma posição vulnerável devido aos altos juros. Isso pode aumentar o risco de inadimplência, mesmo com a diminuição do endividamento total", alertou em nota o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Ele ressaltou que o crédito tem um papel fundamental para impulsionar o varejo, mas que o aumento da taxa Selic tem encarecido o acesso, tanto para os consumidores quanto para as empresas.
Nível
A queda na percepção de endividamento em setembro foi acompanhada por movimento similar no nível de endividamento, com redução no porcentual de pessoas que se consideram "muito endividadas", alcançando 16,3%, o menor nível desde dezembro de 2021. Enquanto o daquelas que "não têm dívidas desse tipo" avançou, indo para 22,7%, o maior porcentual desde novembro do ano passado
"O alerta dos dados desse mês é que, mesmo com menor endividamento, houve crescimento no porcentual de famílias com dívidas em atraso, o primeiro após três meses de estabilidade, para 29,0%, ainda assim abaixo do resultado de setembro do ano passado. O porcentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso aumentou em maior intensidade, para 12,4%, também se mantendo em nível menor do que em igual mês de 2023. Esses foram os maiores porcentuais desde novembro de 2023", observou a pesquisa.
Inadimplência
O porcentual de famílias com dívidas em atraso subiu para 29%, interrompendo três meses de estabilidade. Além disso, o número de famílias que afirmam não ter condições de pagar suas dívidas atrasadas aumentou para 12,4%, o maior índice desde novembro de 2023.
"A queda no endividamento e o crescimento da inadimplência revelam que o peso das dívidas está cada vez mais difícil de ser administrado pelas famílias, principalmente devido aos juros elevados e à dificuldade de quitação das contas em atraso", explicou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.
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