Publicado 28/10/2024 05:00 | Atualizado 28/10/2024 10:49
A proposta de um imposto mínimo sobre os super-ricos tem ganhado cada vez mais espaço no debate econômico no Brasil. A medida pode gerar uma arrecadação de US$ 47,5 bilhões, cerca de R$ 260 bilhões na cotação atual, segundo um estudo da organização britânica Tax Justice Network. Atualmente, os assalariados pagam proporcionalmente mais impostos do que os grandes milionários.
PublicidadeO aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para R$ 5 mil, uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pode ser viabilizado por meio da taxação das grandes fortunas. Em entrevista no dia 10 de outubro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou que o governo estuda maneiras de implementar essa mudança e que o imposto sobre os super-ricos pode ser uma opção.
O ministro também defendeu, durante discurso no G20, na última quinta-feira (24), que a taxação seja usada para diminuir as desigualdades sociais.
"O Brasil considera esse um tópico particularmente importante. Por isso, defendemos que o G20 assuma uma nova e ambiciosa agenda de tributação. Devemos agir juntos para garantir que os super-ricos paguem sua cota justa em impostos, de modo a combater a desigualdade", afirmou Haddad.
De acordo com a proposta brasileira para o G20 sobre a tributação dos super-ricos, o modelo de taxação progressiva atingiria, inicialmente, cerca de 3 mil pessoas. Esses indivíduos possuem mais de US$ 1 bilhão de riqueza, abrangendo ativos, imóveis, ações e participações em empresas.
Entenda a proposta
O professor de Direito Tributário da USP e advogado tributarista, André Mendes Moreira, explica que hoje um dos principais responsáveis pela grande desproporcionalidade na carga tributária são os impostos indiretos.
"Na atual conjuntura, a carga desses impostos tem aumentado significativamente, uma vez que são os mais acessíveis para os estados, tanto em termos de cobrança quanto de fiscalização. Nesse contexto, observou-se uma migração da base tributária para esses impostos, o que contribui para a desigualdade tributária no país como um todo", indica o professor.
Segundo a Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) e a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Febafisco), 49,7% dos impostos do País são arrecadados dessa forma.
Igor Lucena, advogado especialista em Direito Tributário e sócio da TT & Co., ressalta que o problema não é recente. "A desigualdade social surgiu a partir da alta carga tributária brasileira, desde o período colonial até a promulgação da Constituição Federal de 1988, ampliando o sistema de arrecadação e da consequente complexidade do sistema tributário brasileiro", pontua o advogado.
O especialista também destaca os argumentos a favor e contra o imposto mínimo sobre os super-ricos. Lucena aponta que os apoiadores da medida defendem que a taxação é necessária para corrigir a disparidade na carga tributária e promover uma sociedade mais justa e equitativa, gerando uma fonte significativa de receita que poderá ser direcionada para financiar programas sociais importantes, como educação, saúde, assistência social e habilitação. Isso ajudaria a garantir que todos tenham acesso a serviços essenciais, reduzindo as disparidades econômicas.
Já os críticos, afirmam que a falta de competitividade internacional e a possível fuga de capitais, que tornariam o País menos competitivo em relação a outras jurisdições com impostos mais baixos, o que reduziria a disponibilidade de investimentos, prejudicaria o empreendedorismo e aumentaria a complexidade do sistema tributário.
Posicionamento dos parlamentares fluminenses
A reportagem entrou em contato com a toda a bancada do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados para saber a opinião dos parlamentares acerca da proposta de taxação dos super-ricos. Poucos optaram por se posicionar.
Os deputados Sargento Portugal (PODE) e Pastor Henrique Vieira (PSOL) se mostraram a favor da medida.
"Super-ricos não significam, em hipótese alguma, classe média ou classe média alta. O primeiro ponto é definir que, quando falamos de super-ricos, estamos nos referindo a bilionários. Vários países do mundo, desenvolvidos e democráticos, inclusive capitalistas, taxam mais os super-ricos para aumentar a capacidade do Estado de garantir serviços, direitos e melhorar a vida do conjunto da população", defende Vieira.
O parlamentar também argumenta que a proposta não gera desinvestimento. "Essa taxação não muda substancialmente a riqueza dos super-ricos, nem perto disso, e ajuda a reduzir desigualdades e a melhorar a condição de vida para o povo. Parece-me uma medida absolutamente justa, que não gera desinvestimento ou desemprego", avalia.
O deputado Roberto Monteiro Pai (PL) se posicionou contra a medida. Em nota, o parlamentar afirmou que a taxação dos super-ricos pode gerar consequências negativas, como a "diminuição da riqueza, a perda de empregos, a redução da competitividade internacional, a inibição de investimentos e até mesmo a fuga de capitais".
O parlamentar Hugo Leal (PSD) disse que prefere não comentar o assunto. Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ) pontuou que aguarda a posição do ministério da Fazenda.
"Qualquer iniciativa de criação de novos impostos deve ser precedida de um estudo para avaliação do potencial de arrecadação e dos mecanismos possíveis para coibir a evasão fiscal. No caso do imposto sobre os super-ricos, em vista da globalização dos mercados e dos fluxos de investimentos, é importante que haja um entendimento em nível internacional, o que já começou a ser discutido no âmbito do G20", explica o deputado.
* Matéria da repórter Alexia Gomes
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