Publicado 28/10/2024 13:33
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que uma redução sustentável dos juros no Brasil provavelmente só será possível se for acompanhada de medidas vistas pelo mercado como um "choque fiscal positivo". Ele repetiu que quedas estruturais das taxas foram historicamente acompanhadas de medidas positivas no lado das contas públicas.
Publicidade"Quando olhamos para o prêmio na ponta longa e aí por diante, achamos que, se quisermos mesmo ser capazes de diminuir os juros e de viver com juros menores, provavelmente precisaremos estar dispostos a sinalizar para o mercado medidas que serão interpretadas como um choque positivo", afirmou o banqueiro central, em uma reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres.
Campos Neto disse que os números fiscais do Brasil, tanto no que diz respeito ao resultado primário, como na evolução prevista para a dívida, são similares aos de outros emergentes, embora o ponto de partida da dívida do País seja maior. Na avaliação dele, os prêmios cobrados parecem incompatíveis com os fundamentos fiscais, embora haja explicações em termos de risco
"Eu reconheço que tivemos algumas notícias desfavoráveis recentemente, especialmente quando olhamos para a percepção do mercado de que alguns números fiscais estão se tornando menos transparentes", ele disse.
Reuniões internacionais sobre questão fiscal
O presidente do Banco Central afirmou que a questão fiscal tem recebido cada vez mais atenção nos encontros internacionais dos quais ele participa. "Por muito tempo eu costumava falar sobre fiscal e você não tinha muito eco com outros bancos centrais ou formuladores de políticas. Cada vez mais vemos que há muitas dessas reuniões internacionais que são cada vez mais sobre fiscal. No caso da eleição nos Estados Unidos, acho que há uma questão fiscal que é muito relevante porque, independentemente de os democratas ou os republicanos vencerem, quando você olha e tenta decompor as diferentes propostas, ambas são expansionistas no fiscal", observou.
Ainda sobre as eleições norte-americanas e o campo fiscal, Campos Neto chamou a atenção para as discussões a respeito de tarifas, fragmentação e protecionismo, pelo potencial inflacionário, e as políticas de imigração.
Para ele, toda essa movimentação deve provocar reações no mercado e, por isso, há pontos de atenção para todos. Ele destacou como fatores importantes para se ficar de olho a transição verde e a fragmentação global.
No encontro, ele também repetiu um alerta sobre o cenário econômico mais apertado, em que governos e bancos centrais têm menos espaço para socorrer os países caso seja necessário, como ocorreu durante a pandemia.
Preocupação com trajetória da dívida global
O presidente do Banco Central afirmou que está preocupado com a trajetória da dívida global durante a reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres. "Estou preocupado com a trajetória da dívida pública global. Estamos vendo algumas rachaduras surgindo disso já. Novamente, muitos países deveriam estar pensando em ajustar os resultados primários para pagar pela pandemia, pagar pelo aumento da dívida e pagar por uma taxa de juros muito mais alta em termos de custo de rolagem, mas isso não está acontecendo", observou.
Ele alertou para a elevação dos gastos públicos, como com despesas para fazer frente às mudanças climáticas e também os programas de transferência de renda iniciados na pandemia. Em um cenário de juros mais elevados, o custo de rolagem das dívidas também cresce.
Para Campos Neto, com exceção dos Estados Unidos, a maior parte dos países está se tornando menos produtiva, o que é um risco.
Ele defendeu a necessidade de concentrar-se na elaboração de políticas públicas para oferta, para aumentar a produtividade da economia.
Juro neutro por crédito direcionado
O presidente do Banco Central ainda afirmou que não foi notada uma mudança forte no juro neutro por causa da oferta de crédito direcionado no Brasil. Ele ponderou sobre a importância de separar alguns conceitos, especialmente sobre o subsídio na oferta de crédito por bancos públicos, como o BNDES, ou nos investimentos realizados por companhias estatais, como a Petrobras.
Disse também que, caso o BNDES empreste mais, mas com taxas de juros de mercado, não impactará o juro neutro, mas pontuou que o crédito direcionado com taxas subsidiadas afeta a política monetária.
Campos Neto ainda foi questionado sobre os impactos da política fiscal e observou que as despesas parafiscais provavelmente têm impacto nas expectativas para a dívida pública.
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