Neste sábado (18), Portela dá início a escolha do samba-enredo de 2019 Paulo Carneiro/Parceiro/Agência O Dia
Por RENAN SCHUINDT
Publicado 17/08/2018 17:10 | Atualizado 17/08/2018 18:28

Rio - Quem disse que o cartão-postal do Rio se limita à imagem do Cristo Redentor e das praias da Zona Sul? Há uma outra região que transborda brasilidade, onde o gingado é de raiz e o samba rola até de manhã. Em Madureira, há uma ginga em cada andar. Em cada esquina um pagode num bar, como diz a letra 'O meu lugar', de Arlindo Cruz. O bairro passou a integrar o roteiro turístico do Rio para todos os visitantes. Do Rio, de outros estados e até para gringos de outros países.

A ideia da criação de um roteiro do samba passou a ser utilizada pelas agências de turismo. Cerca de 80% das agências de turismo da região, aliás, afirmam receber o público estrangeiro. O valor ideal para o roteiro costuma variar de R$ 150 a R$ 199. Um levantamento aponta que a criação desse roteiro, que inclui escolas de samba, o Viaduto, o Mercadão e o Parque de Madureira, é fundamental para 95% dos profissionais do setor. "Levamos os turistas para conhecer não apenas Madureira, mas outros bairros, como Oswaldo Cruz e Marechal Hermes. É uma região que respira cultura", conta o guia de turismo e coordenador do projeto Guiadas Urbanas, Vilson Luiz.

E a programação já é intensa. Amanhã, a escola de samba Portela dá início a uma disputa pela escolha do samba-enredo para o Carnaval de 2019, em evento aberto ao público. A agremiação, que conquistou o título do Carnaval de 2017, ficou em quarto lugar neste ano e quer retomar a hegemonia da maior manifestação cultural do mundo. Sábado também é dia do tradicional baile charme do Viaduto Negrão de Lima, que já contou até com uma apresentação da cantora Iza no aniversário de 28 anos do local, em maio deste ano.

Parque de Madureira virou um dos cartões-postais do RioAlexandre Macieira/Riotur

Reduto do gênero, o local recebeu o título de Patrimônio Imaterial em 2013. Já aos domingos, o público pode aproveitar uma das maiores rodas de samba do Rio, o Criolice, evento que a cada edição recebe cerca de 2,5 mil pessoas. 

A HISTÓRIA DA PORTELA

A Portela, aliás, é a escola de samba mais antiga em atividade. E a única a participar de todos os desfiles de Carnaval. Entre os momentos mais importantes para os portelenses, está a visita de Walt Disney, em 1941. “Ficamos felizes por saber que o samba é azul Portela. A questão do samba é muito forte”, disse o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães.

Segundo historiadores, Madureira virou sinônimo de carnaval em 1910, com o surgimento dos blocos de rua. Já na década de 1920, surgiu a Prazer da Serrinha, que se tornou a escola de samba Império Serrano em 1947. Outro local onde os turistas podem sambar até amanhecer.

Projeto Criolice recebe grandes nomes do samba aos domingos no ViadutoDivulgação / Criolice

A região ainda conta com o Mercadão de Madureira, que já é centenário. O local, que é um dos maiores centros comerciais do Rio, oferece produtos de todos os tipos. A Gastronomia também atrai o interesse de turistas com eventos como a Feira das Yabás, que conta com uma culinária africana aos visitantes. O Parque de Madureira é o segundo maior do Rio.

O BAIRRO NA TELONA

Com tantas histórias, Madureira começa a ganhar visibilidade também na grande tela. Mais de 20 alunos do projeto 'Por Telas', curso de audiovisual oferecido pela Portela em parceria com o cineasta André da Costa Pinto, finalizaram as gravações de três documentários sobre a região: 'Procuram-se Mulheres', de Rozzi Brasil, 'Um craque esquecido', de Ygor Lioli, e 'Do Sample ao Samba: Entre duas culturas', de Ruan Lucena.

Um dos alunos é o rapper Chico Tadeu, que é morador da região. Para ele, a participação no projeto aconteceu na hora certa. "Senti a necessidade de fazer o curso, pois quero criar uma conexão entre a música e o cinema para facilitar a comunicação", afirma o autor de 'Toda Malandragem', música em homenagem ao bairro. Chico está na equipe do terceiro filme, que traça um paralelo entre o rap e o samba, pela ótica de outro grande personagem de Madureira: Paulo da Portela.

"Cinema é algo caro de produzir e consumir no Brasil. Cursar, para muitas pessoas, é inacessível devido aos valores. Então, a perspectiva do projeto é democratizar o acesso, colocando nas mãos dos alunos todas as ferramentas necessárias para dar voz a comunidade e suas inquietações", diz o cineasta André da Costa Pinto. As exibições acontecem no dia 13 de setembro, às 20h, na quadra da Portela. A entrada é gratuita.

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