Publicado 19/09/2022 01:00
A história recente da política brasileira tem mostrado que o vice é muito mais que um nome na urna. O Brasil acompanhou o companheiro de chapa de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB), tomar posse no Palácio do Planalto, após a presidente sofrer impeachment em 2016. E no Rio de Janeiro, os fluminenses presenciaram os três últimos governadores eleitos — Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel — se afastarem do cargo, passando adiante a responsabilidade de administrar o estado.
Esse movimento foi percebido pelo auxiliar de administração Luís Rosa: “Antes eu nem via o cargo com tanta importância, e sim como uma figura representativa para os momentos em que o governador não estivesse presente. Mas tendo em vista todo histórico recente de vários vices chegando ao poder, acho que está cada vez mais importante. Está muito inconstante a política brasileira neste sentido”, opina.
Não só pelo histórico recente, mas também como uma forma de ampliar a base eleitoral, os vices têm destaque especial na corrida pelo Governo do Rio. O primeiro escolhido de Cláudio Castro (PL) — ele mesmo um vice que ascendeu ao poder — foi o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB). Porém, o escolhido, que traria consigo o peso eleitoral da Baixada Fluminense, foi barrado pela Justiça Eleitoral por conta de uma condenação prévia. Ele foi substituído no posto de vice pelo deputado estadual Thiago Pampolha, em um aceno para o partido mais rico do pleito de 2022, o União Brasil. Sua presença na chapa do atual governador do Rio também aumenta a interlocução com o Poder Legislativo, além de levar à campanha as pautas ambientais e da juventude.
Marcelo Freixo (PSB), por outro lado, foi buscar na longa carreira política de Cesar Maia (PSDB) um vice que agrega à chapa a experiência de três mandatos à frente da Prefeitura do Rio. Além disso, a coligação revela uma aproximação do pessebista com o centro do espectro político — contribuindo para o político fortemente identificado com a esquerda atingir uma "gama maior do eleitorado". Já o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) selou a aliança com Eduardo Paes (PSD) por meio de seu vice, Felipe Santa Cruz (PSD). O filho de um desaparecido político e ex-presidente da OAB havia sido lançado anteriormente como o candidato do prefeito carioca.
O porteiro Vinicius Duarte demonstrou estar bastante ligado na composição das chapas para o governo do estado. Questionado sobre quem seria o vice do seu candidato a governador, acertou na mosca. Para ele “se tivermos um bom governador, logicamente teremos um vice bom também”. Já para Luiz Felipe, estudante de pós-graduação em Economia, a questão assume importância na medida em que muitas vezes eles assumem a titularidade do governo. “Irá influenciar meu voto, mas não é a questão principal”, garante.
Para o professor de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Uerj, João Feres, uma questão que dificulta os eleitores a se preocuparem com o cargo de vice é o fato de que as eleições no Brasil são simultâneas. “Se você pensar que de quatro em quatro anos as pessoas precisam votar para presidente, governador, senador, deputado federal e estadual, já são cinco cargos. Somando vice-presidente e vice-governador seriam sete. Isto faz com que o cargo muitas vezes acabe secundarizado”, analisa.
Ainda segundo o professor, a exceção a esta tendência se dá em casos em que os vices sejam muito influentes, resultando em mudanças do direcionamento da campanha, do posicionamento político do candidato ou de sua imagem.
A montanha-russa da política fluminense incomoda a assistente hospitalar Viviane Gomes: “Hoje em dia não tem nem o que falar, sai um entra o outro e nenhum resolve nada, é vergonhoso”, comenta.
A professora de Ciências Políticas do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ Daniela Mussi atribui o ceticismo da população em relação à formação das chapas para o Executivo estadual a uma crise mais ampla do próprio sistema democrático no Rio de Janeiro: “Eu não sei até que ponto o povo não se sente de tal forma desprezado pela classe política que isto gera algum nível de desinteresse”, afirma. No entanto, acredita que a situação não é estática, enfatizando não se pode naturalizar argumentos de que “o povo não sabe votar”, ou que “aceita qualquer um”. “Na verdade, já vimos em várias situações históricas que isto é um senso comum que não tem sustentação de longo prazo. Mas esses sentimentos podem alimentar equilíbrios conjunturais de curto prazo”, conclui.
Esse movimento foi percebido pelo auxiliar de administração Luís Rosa: “Antes eu nem via o cargo com tanta importância, e sim como uma figura representativa para os momentos em que o governador não estivesse presente. Mas tendo em vista todo histórico recente de vários vices chegando ao poder, acho que está cada vez mais importante. Está muito inconstante a política brasileira neste sentido”, opina.
Não só pelo histórico recente, mas também como uma forma de ampliar a base eleitoral, os vices têm destaque especial na corrida pelo Governo do Rio. O primeiro escolhido de Cláudio Castro (PL) — ele mesmo um vice que ascendeu ao poder — foi o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB). Porém, o escolhido, que traria consigo o peso eleitoral da Baixada Fluminense, foi barrado pela Justiça Eleitoral por conta de uma condenação prévia. Ele foi substituído no posto de vice pelo deputado estadual Thiago Pampolha, em um aceno para o partido mais rico do pleito de 2022, o União Brasil. Sua presença na chapa do atual governador do Rio também aumenta a interlocução com o Poder Legislativo, além de levar à campanha as pautas ambientais e da juventude.
Marcelo Freixo (PSB), por outro lado, foi buscar na longa carreira política de Cesar Maia (PSDB) um vice que agrega à chapa a experiência de três mandatos à frente da Prefeitura do Rio. Além disso, a coligação revela uma aproximação do pessebista com o centro do espectro político — contribuindo para o político fortemente identificado com a esquerda atingir uma "gama maior do eleitorado". Já o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) selou a aliança com Eduardo Paes (PSD) por meio de seu vice, Felipe Santa Cruz (PSD). O filho de um desaparecido político e ex-presidente da OAB havia sido lançado anteriormente como o candidato do prefeito carioca.
O porteiro Vinicius Duarte demonstrou estar bastante ligado na composição das chapas para o governo do estado. Questionado sobre quem seria o vice do seu candidato a governador, acertou na mosca. Para ele “se tivermos um bom governador, logicamente teremos um vice bom também”. Já para Luiz Felipe, estudante de pós-graduação em Economia, a questão assume importância na medida em que muitas vezes eles assumem a titularidade do governo. “Irá influenciar meu voto, mas não é a questão principal”, garante.
Para o professor de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Uerj, João Feres, uma questão que dificulta os eleitores a se preocuparem com o cargo de vice é o fato de que as eleições no Brasil são simultâneas. “Se você pensar que de quatro em quatro anos as pessoas precisam votar para presidente, governador, senador, deputado federal e estadual, já são cinco cargos. Somando vice-presidente e vice-governador seriam sete. Isto faz com que o cargo muitas vezes acabe secundarizado”, analisa.
Ainda segundo o professor, a exceção a esta tendência se dá em casos em que os vices sejam muito influentes, resultando em mudanças do direcionamento da campanha, do posicionamento político do candidato ou de sua imagem.
A montanha-russa da política fluminense incomoda a assistente hospitalar Viviane Gomes: “Hoje em dia não tem nem o que falar, sai um entra o outro e nenhum resolve nada, é vergonhoso”, comenta.
A professora de Ciências Políticas do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ Daniela Mussi atribui o ceticismo da população em relação à formação das chapas para o Executivo estadual a uma crise mais ampla do próprio sistema democrático no Rio de Janeiro: “Eu não sei até que ponto o povo não se sente de tal forma desprezado pela classe política que isto gera algum nível de desinteresse”, afirma. No entanto, acredita que a situação não é estática, enfatizando não se pode naturalizar argumentos de que “o povo não sabe votar”, ou que “aceita qualquer um”. “Na verdade, já vimos em várias situações históricas que isto é um senso comum que não tem sustentação de longo prazo. Mas esses sentimentos podem alimentar equilíbrios conjunturais de curto prazo”, conclui.
Histórico de vice-governadores que assumiram o Palácio Guanabara
Dos 12 chefes do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro em quase 40 anos, cinco foram vice-governadores que assumiram o Palácio Guanabara após o titular deixar o cargo antes do fim do mandato. A prática, que não era comum no início dos anos 90 tem se repetido nos últimos anos e, diferentemente de antes, por acusações de envolvimento em práticas criminosas, prisões e impeachment.
Em 1994, Nilo Batista (PDT), vice de Leonel Brizola (PDT), assumiu o governo após o pedetista renunciar ao cargo para se candidatar à Presidência da República. O mesmo aconteceu em 2002, quando Anthony Garotinho (PSB) entregou a faixa para Benedita da Silva (PT).
Em 2014, o governador Sérgio Cabral (PMDB) renunciou ao seu segundo mandato, após os intensos protestos de 2013. Luiz Fernando Pezão toma posse em um cenário de desgaste do antecessor, depois de denúncias que incluíram o uso de helicópteros em viagens pessoais, em um custo aos cofres públicos de mais de R$ 3 milhões ao ano.
Reeleito governador em 2014, Pezão foi diagnosticado com câncer em 2016 e se afastou para tratar da doença. Francisco Dornelles (PP) assumiu interinamente o governo por duas vezes. Em 2018, Pezão é preso por corrupção, cabendo ao vice encerrar o mandato.
Nas eleições de 2019, Wilson Witzel (PSC) é o novo escolhido para governar o estado. Já no ano seguinte, seu vice Cláudio Castro toma posse temporariamente, após o ex-juiz federal ser afastado do cargo por suspeita de envolvimento em um caso de corrupção. Castro se torna governador definitivamente em 2020, após o impeachment de Witzel.
Em 1994, Nilo Batista (PDT), vice de Leonel Brizola (PDT), assumiu o governo após o pedetista renunciar ao cargo para se candidatar à Presidência da República. O mesmo aconteceu em 2002, quando Anthony Garotinho (PSB) entregou a faixa para Benedita da Silva (PT).
Em 2014, o governador Sérgio Cabral (PMDB) renunciou ao seu segundo mandato, após os intensos protestos de 2013. Luiz Fernando Pezão toma posse em um cenário de desgaste do antecessor, depois de denúncias que incluíram o uso de helicópteros em viagens pessoais, em um custo aos cofres públicos de mais de R$ 3 milhões ao ano.
Reeleito governador em 2014, Pezão foi diagnosticado com câncer em 2016 e se afastou para tratar da doença. Francisco Dornelles (PP) assumiu interinamente o governo por duas vezes. Em 2018, Pezão é preso por corrupção, cabendo ao vice encerrar o mandato.
Nas eleições de 2019, Wilson Witzel (PSC) é o novo escolhido para governar o estado. Já no ano seguinte, seu vice Cláudio Castro toma posse temporariamente, após o ex-juiz federal ser afastado do cargo por suspeita de envolvimento em um caso de corrupção. Castro se torna governador definitivamente em 2020, após o impeachment de Witzel.
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