Publicado 26/09/2022 05:00
Há menos de uma semana das Eleições 2022, não são poucos os eleitores que ainda se mostram indecisos sobre os números que irão digitar na urna eletrônica, principalmente acerca do próximo nome que irá governar o Estado do Rio. Para resolver a questão, alguns eleitores recorrem às pesquisas de intenção de votos, dando credibilidade aos números divulgados pelos institutos. Outros, mais incrédulos, preferem não acompanhar o sobe e desce dos candidatos e votar por convicção política e ideológica.
Marcos Anacleto da Silva, professor de química na Rede Estadual, destacou a importância de se votar de acordo com suas convicções. “Eu não cogito fazer voto útil nas próximas eleições e não me influencio pelas pesquisas, porque já tenho minha posição definida. Eu acredito na lisura do processo eleitoral”, afirma o professor.
A cuidadora de idosos Taisa de Oliveira também não pretende seguir o caminho do voto útil, mas faz questão de se manter informada sobre os números. “Eu estou acompanhando as pesquisas eleitorais através dos jornais. Como eu sigo o desempenho do governo, tanto o atual como o passado, voto de acordo com minha convicção; não cogito fazer voto útil”.
Rafael Souza, militar, também está ligado nas pesquisas. “Acompanho sim, influenciaram minha tomada de decisão”. Sobre o voto útil, ele afirma que “votar num candidato que tenha mais chances de vencer poderia até ser uma opção, mas meu voto já está definido”.
Já o advogado Roberto de Oliveira revela que, apesar de já ter feito sua escolha, pode mudar de opinião de acordo com a dinâmica da eleição. “Eu acompanho as pesquisas eleitorais, mas elas não influenciam meu voto. Eu não faço voto útil no primeiro turno, voto de acordo com as minhas convicções. Depois, no segundo turno, se o meu candidato não estiver na disputa e eu não gostar de nenhum dos dois candidatos, voto no menos pior”, conclui o advogado.
Divergência entre resultados
Realizadas por diferentes institutos de pesquisa e seguindo metodologias próprias, as pesquisas eleitorais, em alguns casos, podem acabar confundindo mais do que ajudando os indecisos. Para diferenciar o joio do trigo, Carlos Montenegro, acionista do Ipec e ex-diretor do antigo Ibope, recomenda verificar se a instituição responsável por um levantamento é filiada à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Outro ponto importante é a transparência em relação a quem pagou pelo estudo.
“É preciso ter em mente que a pesquisa já está velha quando é divulgada, afinal, os profissionais começaram a ir a campo três dias antes. E, no dia da publicação, algo pode alterar o humor dos eleitores, como uma grande gafe cometida por um candidato. A função da pesquisa não é fazer que alguém ganhe ou perca. Quem decide é o eleitor”, pontua o especialista.
Confira abaixo - e compare - o resultado das últimas pesquisas de intenção de voto para o cargo de governador do Rio de Janeiro.
Variações não impactam o resultado
O professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Joscimar Silva ressalta que a importância informativa das pesquisas eleitorais está na ajuda que presta ao eleitor em relação às campanhas. “Geralmente, o que se divulga na mídia são as intenções de voto, como o candidato está situado na disputa eleitoral e de alguma forma isso ajuda o eleitor, quer seja em quem votar ou até mesmo em acompanhar mais, se engajar quando um candidato que ele não quer que ganhe estiver com um bom desempenho nas pesquisas”, afirmou Silva.
Em relação às variações de resultado dos principais candidatos, a opinião do professor é que as pesquisas não expressam desvios acima do esperado, quando se trata dos maiores institutos de pesquisa. “Se a gente pega os principais institutos, Ipec, Datafolha, Quest, Ipespe, existem variações, mas em uma pequena margem. Estas variações não apontam para uma alteração do resultado das eleições, se ela vai ser decidida no primeiro ou no segundo turno e qual candidato é apontado como vencedor. Por outro lado, temos alguns institutos mais regionais que têm apontado diferenças muito maiores”, explica.
As variações nos resultados, segundo o professor, podem ocorrer por diversos fatores. “Existem, por exemplo, a variação regional e a mostra de cálculo estatístico padrão. A distribuição desta mostra em 2 mil entrevistas, por exemplo, às vezes, não é feita proporcionalmente ao eleitorado, ou não é feita em todas as regiões, ou é feita com algum grau de aleatoriedade que faz com que haja desvios nestes controles”, detalha.
Outros fatores que impactam o resultado das pesquisas são os critérios da amostragem. ”Há também os institutos que preferem fazer o controle por cotas, por sexo, idade, renda, religião. Sabe-se que os diversos estratos da população têm também comportamentos diferentes. E há uma particularidade no Brasil: o Superior Tribunal Eleitoral, no registro das pesquisas, não pede dados tão detalhados assim, se observada a documentação que fica dentro dos institutos e que não são divulgadas ao público”, continuou Joscimar.
O tipo de questionário aplicado também apresenta uma forte influência no resultado. Se a pesquisa se inicia com um questionamento muito intenso sobre o desempenho do governo e depois a pergunta é sobre o voto, o questionário pode, na opinião do professor, afetar a intenção do eleitor.
Carlos Montenegro também chama a atenção para alguns detalhes sobre as metodologias que precisam ser levados em conta. “Não pode comparar pesquisa presencial e telefônica, cerca de 7% da população não tem telefone. Às vezes, a pessoa não atende porque está trabalhando, ou pode estar numa área sem cobertura. Por causa disso, a amostra tende a ser de uma população mais rica e, numa eleição nacional, pode fazer 1 ou 2 pontos de diferença. Isso pode definir, por exemplo, se haverá segundo turno”, explica.
Em relação aos ataques que a credibilidade dos institutos vêm sofrendo, Joscimar aponta que um dos fatores é a cultura política brasileira. “Nós nunca tivemos no Brasil uma tradição de confiabilidade no processo político como um todo. O perfil do brasileiro é mais desconfiado. Mais recentemente, a gente tem grupos políticos fazendo uma campanha de desinformação para atacar, tanto o sistema eleitoral, o próprio TSE, as instituições políticas e também os partidos políticos e os institutos de pesquisa. Dentro desse cenário, aumenta ainda mais a desconfiança nos institutos”, adverte.
Neste ponto, Montenegro ainda acrescenta o trauma da população do Rio por ter tido vários ex-governadores presos, o que, para ele, justifica o fato de 35% da população do Rio ainda não ter definido o seu voto. “Por isso, os eleitores estão com medo de errar de novo, enquanto outras pessoas estão desencantadas. É um estado muito sofrido com os últimos 20 anos de política".
Por fim, em relação ao fenômeno do voto útil, o professor da UFPI opina que pode haver, a partir do resultado dos levantamentos, uma tendência neste sentido. “As pessoas usam o resultado das pesquisas para se informar e tomar sua decisão. Já foram feitos estudos em alguns países que apontam que este fenômeno tende a atingir de 4 a 6% dos votos. Se você não gosta do candidato que está em primeiro ou segundo lugar nas pesquisas e o seu candidato está em quarto lugar, por exemplo, existe esta tendência de migração do voto para o primeiro ou segundo colocado.” Tal tendência, de acordo com Silva, é mais fortemente verificada em eleições muito polarizadas, nas quais os candidatos são muito conhecidos pelos eleitores. “Nestes casos, o voto útil tende a se fortalecer na reta final e começa a fazer parte da estratégia das próprias equipes de campanha”, conclui.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.