Publicado 03/10/2022 21:59
Uma parcela do Produto Interno Bruto (PIB) que apostou até o fim suas fichas na terceira via, representada pela candidata Simone Tebet (MDB), percebeu que agora terá de escolher um lado da polarização, já que os votos dos eleitores se concentraram nos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). A resistência maior nesse grupo a Bolsonaro, especialmente pela condução da crise da pandemia de covid-19, não quer dizer, porém, apoio automático a Lula no segundo turno, conforme apurou o Estadão com várias fontes do empresariado e do mercado financeiro ontem. E isso apesar das expectativas de que a própria Simone anuncie apoio a Lula nos próximos dias.
A posição de João Nogueira, conselheiro de diversas empresas, entre elas a petroquímica Braskem e a Wiz (de soluções para seguros), resume bem o humor dos apoiadores da candidata. "Antes de mais nada, Lula precisa explicitar e construir um programa negociado com o centro democrático. Precisa ter uma âncora fiscal clara (para conter os gastos públicos), apoio à reforma tributária que está no Senado e (dizer) quais são os programas sociais e educacionais que serão levados adiante", diz Nogueira. "O que a gente quer ver é um programa moderno e direcionado para combater as desigualdades, mas com responsabilidade."
CARTAS NA MESA
Antes de qualquer declaração favorável definitiva ao petista, eles querem do candidato algo que ele não deu até agora nem ao mercado financeiro nem aos eleitores: clareza nas suas propostas para a política econômica. Apesar de apoios importantes - como o de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central -, Lula tem evitado mostrar as cartas de como conduzirá a economia se for o eleito. A leitura, agora, é de que não basta ter o ex-tucano Geraldo Alckmin como vice em sua chapa para atrair adesões no mercado financeiro.
Em geral, os empresários do "time Simone Tebet" resistiram à tentação do voto útil no primeiro turno e se comprometeram até o fim com a candidata escolhida. Entre os nomes que formaram o "pelotão de choque" e advogaram pela escolha da emedebista, estão Candido Bracher (ex-presidente do Itaú Unibanco), Walter Schalka (presidente da Suzano), Fábio Barbosa (presidente da Natura & Co), Pedro Passos (um dos fundadores da Natura) e Horácio Lafer Piva (sócio e conselheiro da gigante de papel e celulose Klabin).
A sinalização mais aguardada seria o anúncio de um nome para o comando da Economia a partir de 2023, em uma eventual eleição. "O bolsonarismo é uma força política que veio para ficar. Elegeu quem quis. O PL tem 20% da Câmara agora. Lula terá de buscar apoios de Tebet e de Ciro se quiser ganhar. Não se pode subestimar a força do Bolsonaro", diz um executivo do alto escalão de uma grande instituição financeira.
LADO POSITIVO
Segundo um dos empresários, a ida para o segundo turno não é necessariamente um fator negativo, pois dará mais chances para Lula ser mais transparente sobre suas propostas para a economia - pressão que não existia antes, já que os institutos de pesquisa apontavam boa chance de vitória de Lula ainda no domingo. Uma maior clareza, agora, seria uma forma de atrair os pouco mais de 7% de votos que se dividiram entre Simone e Ciro Gomes (PDT).
Vaivém de declarações realimenta a incerteza
Uma das questões que têm assustado empresários é o vaivém das declarações de Lula sobre a política econômica: para cada apoio de Henrique Meirelles, há uma "demonização" do teto de gastos, o que deixa uma sinalização turva sobre o que seria um governo petista. Por isso, o banqueiro Ricardo Lacerda, do BR Partners, diz que, se quiser angariar os votos de empresários e da classe média, Lula terá de se comprometer com nomes e políticas. "Lula passou a campanha toda sem se comprometer", afirma o empresário, que no primeiro turno apoiou Luiz Felipe d’Avila, do Novo.
Outro fator que incomoda parte do empresariado, e é destacado por Lacerda, é o fato de o candidato do PT aparecer constantemente ao lado de nomes a que o mercado tem resistência, como a ex-presidente Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann (presidente do PT) e Aloizio Mercadante (coordenador de seu programa de governo). "Ele vai ter de abandonar os ícones do petismo que o acompanharam recentemente", diz o banqueiro.
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