Publicado 10/10/2022 11:35
São Paulo - Após o presidente Jair Bolsonaro (PL) arregimentar apoios de governadores eleitos, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), diz confiar numa virada no segundo turno. Para ele, o presidente consegue avançar no Sudeste — região considerada prioritária —, mas também no Nordeste, onde, conforme sua avaliação, deputados que fizeram campanha colados no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agora poderão angariar votos para Bolsonaro, já que não são mais candidatos.
Embora tenha se mantido no governo, Faria integra um núcleo próximo de assessores do presidente na campanha. Ele aposta que Lula atingiu um teto e que ainda há votos úteis que caminham para Bolsonaro. O ministro se tornou um crítico dos institutos de pesquisa e pediu para que as pessoas não respondam levantamentos eleitorais. A seguir, os principais trechos:
O presidente relançou um programa que permite a renegociação de dívidas com a Caixa. A isso se somam o Auxílio Brasil durante o período eleitoral, um pacote de bondades, a redução do preço da gasolina. Adversários acusam o governo de atuar pela campanha Como o senhor vê isso?
A gasolina foi uma atuação do presidente com Arthur Lira (presidente da Câmara). Desde o começo da pandemia e depois, com a Guerra da Ucrânia, o governo tem trabalhado no combate à inflação. São quatro mil itens que reduziram impostos e isso tem dado certo. Por outro lado, muitos perderam emprego durante a pandemia. (Por isso) O governo fez o auxílio. Depois da guerra, com a inflação, teve que voltar para R$ 600 (o auxílio). O presidente já tinha falado de 13.º para o auxílio lá atrás, que não ia acabar. O presidente sempre faz a média ponderada. Conversa com a política, escuta o Paulo Guedes (ministro da Economia) e decide.
Também, por outro lado, há cortes no orçamento da Farmácia Popular e das universidades. Até que ponto o governo pode prejudicar a campanha?
Isso ficou sem explicação, foi um contingenciamento de R$ 57 milhões. Teve um aumento de R$ 900 milhões em relação aos outros anos. O presidente já disse que dezembro, quando libera o contingenciamento, ele vai garantir os R$ 57 milhões. É algo muito pequeno (em comparação ao orçamento total). Farmácia Popular é a mesma coisa. O presidente chamou o Paulo Guedes na hora. Guedes já ficou com dever de casa de cortar de outros lugares para repor. O que existe no governo muitas vezes é o seguinte, você tem que performar. Se você não executa até setembro, sofre um corte. Parece que foi corte do governo, mas é porque seria impossível executar até dezembro. Na campanha isso soa ‘parece que cortou algo’, mas não.
Que cálculos a campanha faz para reverter a desvantagem de 6 milhões de votos?
A gente terminou o primeiro turno com as pesquisas dando um resultado bem diferente, uma grande possibilidade de primeiro turno (para Lula). E os nossos (institutos de pesquisa) que estávamos nos baseando, cravando segundo turno com 6 pontos (de diferença). A gente ficava muito tranquilo que iria para o segundo turno com uma margem de 4 a 8 pontos. Esse é o cenário que dava para virar no segundo turno. Se o resultado fosse acima de 8, eu achava difícil a virada. Quando veio esse cenário de cinco pontos, a gente sabe fazer conta. Primeiro precisávamos ganhar no Sudeste e ganhar em São Paulo e o Tarcísio (de Freitas) ir para o segundo turno, para a gente ter um arranque. (Bolsonaro) Recebeu apoio do governador de Minas (Romeu Zema), que pode ajudar a virar Minas. Recebemos grandes apoios. A gente projeta mais de 60%, tanto ele quanto Tarcísio (dos votos em São Paulo). Goiás está com o presidente. No Nordeste é o voto de base, (o deputado) coloca o voto na urna.
Como assim?
Teve 82% de votos válidos para deputado federal. A cola desses deputados para sobreviver era com Lula. Se eles colocassem na colinha o nome de Bolsonaro no primeiro turno, eles perdiam voto E esses deputados que já estão eleitos foram ao Planalto, tiveram com o presidente e disseram: ‘Agora, no segundo turno, é só o presidente. Nossa base vai votar no presidente’. Ele vai ter aí 300 deputados que não trabalharam para ele e que agora vão trabalhar. Hoje vejo perspectiva total de vitória de Bolsonaro.
Lula conseguiu apoios ao centro, como Simone Tebet, enquanto Bolsonaro fechou com os governadores eleitos dos grandes colégios eleitorais. O que vale mais?
Os grandes apoios estão do lado do presidente. O voto da Simone Tebet que ia para o Lula a gente já mediu e foi no primeiro turno. Nas nossas pesquisas, Lula não teve aumento de votos. A gente acredita que ele chegou no teto. Ele recebeu todos os votos possíveis de Ciro Gomes e Simone. Ele perde em São Paulo, perde em Minas. O presidente vai converter votos até pela rejeição, que já diminuiu muito. Quem recebeu apoio foi Bolsonaro. A política sabe ler. O mercado cresceu na segunda-feira, 5,5%. Quem tem leitura política vê que um Congresso conservador assumiu o Senado e a Câmara. Bolsonaro teve um pouco menos votos que esse Congresso. Tem tudo para chegar a esse patamar. A leitura do mercado é: Se Lula for eleito nesse Congresso, o Brasil não vai se entender.
Em um eventual segundo mandato, o presidente conviverá com um Congresso teoricamente menos hostil. A possibilidade de investir no impeachment de ministros do Supremo é real?
O presidente me disse: ‘Fábio, você tem ideia do poder que tem um presidente da República? É maior do que você pensa. Se eu quisesse, estaria em lua de mel tal com os ministros do Supremo, com o Judiciário, com a imprensa, o problema é que eu estaria traindo o meu eleitor’. Ele tem uma crise de consciência. Quando viu esse resultado, disse: ‘Isso é um recado para todo mundo que achava que ia ser uma derrota geral’. Você vê a conversa dele com o (Sergio) Moro. Se chegar qualquer conversa que for com alguém e a pessoa falar: ‘Presidente, daqui para frente, o sr. se excedeu aqui, vamos conversar’. O presidente é zero revanchista.
O presidente insiste em colocar em dúvida o resultado das urnas. No pedido da Defesa, o TSE atestou que não houve fraude. O presidente não precisa se manifestar? É uma questão que tensiona o processo eleitoral.
A gente respeitou totalmente o resultado. O presidente disse: ‘Eu só quero que tenha mais transparência’. Acho que (o ministro) Alexandre (de Moraes) teve papel importante nisso. Depois que assumiu (o TSE), ele aceitou as Forças Armadas. Acho que diminuiu bem a tensão e foi quando a gente conseguiu prosseguir nesse assunto. Aqui e acolá pode ter alguém que fale alguma coisa, um fato isolado. Se você olhar para o fato central está pacificado, mas o presidente quer que as Forças continuem lá dentro, contribuindo.
Estimular as pessoas a não responder uma pesquisa eleitoral não é contribuir para um processo que pode virar desinformação?
Eu pedi para elas não responderem porque erraram no primeiro turno. Nossas pesquisas dando 2 ou 3 pontos e eles soltaram 17 de diferença. No outro dia começou uma campanha de voto útil, coincidentemente. E isso funcionou para o Lula. Uma boa parte da população vota em quem vai ganhar. Quando vejo que é fair play, eu aceito, mas quando a pesquisa vem, no outro dia vem um trabalho de voto útil e fica um trabalho de uma dando o mesmo resultado da outra enquanto todo mundo está caminhando para outro sentido… Vai induzir voto, vai interferir no regime democrático, a gente tem que reagir. Tem uma parcela do bolsonarismo que não responde pesquisa. Vão sempre errar, eu pedindo ou não.
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