Candidatos à presidência participam de debate da BandReprodução / Band
Publicado 16/10/2022 23:50 | Atualizado 17/10/2022 00:10
Transmitido pela Band na noite deste domingo (16), o primeiro encontro entre os presidenciáveis que irão disputar o segundo turno começou com um clima tenso entre os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL), com troca de acusações entre os candidatos. Mas, ao longo do embate, o atual presidente procurou se aproximar do petista em uma tentativa de aliviar a tensão e demonstrar uma postura mais pacífica.
Promovido pelo grupo Bandeirantes com a TV Cultura, o jornal Folha de São Paulo e o portal Uol e intermediado por Adriana Araújo e Eduardo Oinegue, o primeiro tema abordado foi a reforma tributária. Ao ser questionado pela apresentadora Adriana Araújo de onde seria retirado o dinheiro para se fazer cumprir os planos de governo, o ex-presidente Lula disse ter certeza de que o Congresso votará em uma reforma tributária "para taxar menos os mais pobres trabalhadores".
O petista declarou ser ‘possível’ investir quando há planejamento e quando o dinheiro é colocado no ‘lugar certo’: "Se você souber trabalhar, planejar, você vai ter o dinheiro para fazer as coisas", disse.
Com um formato inédito e bem avaliado pelos participantes e pela mídia, no primeiro bloco ambos os candidatos tiveram 15 minutos cada para debaterem livremente sobre diversos temas. Lula perguntou a Bolsonaro sobre o número de universidades e escolas técnicas que foram criadas durante o atual governo. Se esquivando de responder e evitando olhar para o adversário, o presidente atribuiu à pandemia a falta de criação de instituições: "Não abrimos faculdades nem escolas técnicas, porque elas ficariam fechadas na pandemia. Não teria o porquê abrir mais", afirmou Bolsonaro que atacou Lula na sequência afirmando que o ex-presidente deixou ‘milhares de jovens endividados’ com o FIES. O presidente declarou que durante o atual governo foi possível anistiar até 90% da dívida: “O senhor mais endividou a garotada do que ajudou”, disse.
Por sua vez, o petista declarou que é candidato à presidência pois ‘deseja reconstruir o país’ e acrescentou que “é preciso trazer o povo mais pobre à cidadania outra vez. Geramos 22 milhões de empregos, somos o governo que mais fez escolas técnicas e universidades neste país”, afirmou antes de realizar a pergunta.
O Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil também foram abordados durante a discussão livre entre os presidenciáveis. O presidente Bolsonaro prometeu que, se reeleito, manterá o Auxílio Brasil de “forma permanente e vitalicia” com a verba da reforma tributária. Lula rebateu dizendo que a Lei de Diretrizes Orçamentárias prevê o pagamento do benefício só até dezembro deste ano. O ex-presidente também afirmou que a proposta do PT era dar um auxílio maior do que o atual presidente teria proposto no início da pandemia. Bolsonaro rebateu dizendo que o Bolsa Família pagava muito pouco e questionou o petista: "Se podia dar algo melhor, por que não deu lá atrás?", disse.
A pandemia do Covid-19 também foi abordada pelos candidatos ainda no início do debate. Lula acusou Bolsonaro de ser negligente durante a condução da pandemia, com a demora da vacina e com protocolos que não se aplicam a estudos científicos, como o uso do remédio cloroquina. Em resposta, o presidente disse que não foi leviano com o Covid, afirmou ter visitado hospitais e se solidarizado com as vítimas.
Ao ser acusado de debochar de pessoas com falta de ar, Bolsonaro chamou Lula de ‘mentiroso’ e acusou o petista de manipular o vídeo em que ele critica o protocolo do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O ex-presidente rebateu afirmando que suas declarações foram baseadas em ‘dados científicos’. O representante do PL também relembrou um vídeo em que o ex-presidente dá “graças a Deus que a natureza criou o covid".
No segundo bloco, os candidatos responderam perguntas feitas por jornalistas. Antes de responder a pergunta de Vera Magalhães sobre a ampliação dos ministros do Superior Tribunal Federal, Lula se dirigiu à jornalista dizendo: "Vou me aproximar da câmera, mas não vou te agredir, Vera", ironizando o comportamento agressivo de Bolsonaro com Vera Magalhães no debate do primeiro turno da emissora. Diferentemente da primeira vez, o atual presidente antes de responder o questionamento da jornalista, disse de forma cordial ser “um prazer reencontrá-la”.
Ambos os presidenciáveis responderam que são contra o aumento do número de ministros do STF. Para o petista, seria ‘um retrocesso’ modificar a composição da Alta Corte. Já Bolsonaro afirmou que de sua parte não haverá proposta para a mudança do STF, lembrando que a proposta de ampliar a corte foi feita pela ex-presidente Dilma Rousseff e é defendida pelos partidos dos trabalhadores.
O jornalista Josias de Souza perguntou sobre a relação entre os poderes Executivo e Legislativo sem a necessidade de comprar o apoio do Congresso, mencionando o petrolão, no governo do Lula, e o Orçamento Secreto, no governo de Bolsonaro. Sem mencionar o esquema de corrupção da Petrobras, o petista respondeu dizendo que um presidente quando é eleito “vai governar e lidar com o Congresso que ele foi eleito” e continuou afirmando que o povo tem responsabilidade pelo Congresso já que elege os deputados e senadores. Lula prometeu que, se eleito, irá tentar criar o ‘orçamento participativo’ onde a população poderá opinar sobre os gastos do Executivo.
O atual presidente rebateu o jornalista dizendo que não tem ‘nada a ver’ com o Orçamento Secreto e que se tivesse comprado o apoio de políticos ele teria mais votos no Congresso. O presidente disse ainda que ‘vetou’, mas que ‘derrubaram o veto’. Bolsonaro disse também que o criador das emendas de relator foi o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia.
Outro tema polêmico foi o ‘petrolão’, um dos casos de corrupção do governo Lula. Bolsonaro disse que esse foi “o maior esquema de corrupção da humanidade” e que endividou a Petrobrás. O ex-presidente rebateu afirmando que quem ‘roubou’ a petrolífera foi preso porque havia investigação no governo do PT e disse que foi o responsável por capitalizar R$ 70 bilhões da Petrobras e transformar a estatal "na segunda maior empresa de energia do mundo", o que de acordo com o petista fez com que o Brasil se tornasse um país "autossuficiente".
Foi também durante a discussão a respeito da Petrobras que o sigilo de cem anos foi abordado pelo petista. Lula disse que Bolsonaro “coloca tudo sob sigilo” e garantiu que, se eleito, vai acabar com o sigilo para que o povo descubra as ações do atual presidente. Sem falar sobre os sigilos do seu governo, Bolsonaro permaneceu criticando a corrupção na estatal e Lula admitiu a corrupção na Petrobras porque as pessoas confessaram seus crimes. O candidato ressaltou que para combater os atos ilícitos "não precisava quebrar a Petrobras" e mencionou outros países que tiveram casos semelhantes, mas não deixaram que os funcionários perdessem o emprego nas respectivas empresas.
O presidente Bolsonaro também questionou Lula sobre sua ‘amizade’ com o presidente da Nicarágua Daniel Ortega: “Ele te cumprimentou quando você foi para o segundo turno aqui.” Bolsonaro disse, ainda, que na Nicarágua padres estão sendo presos e freiras expulsas, e canais de televisão e rádios estão sendo fechados. “E você trata ele como amigo? Diz que a isso compete a ele e que nós não podemos fazer nada?”, questionou o presidente que também acusou o petista de querer ‘controlar a mídia’.
A recente polêmica envolvendo Bolsonaro e que viralizou neste último sábado nas redes sociais também foi utilizada por Lula para alfinetar o adversário. Fazendo referência à live realizada por Bolsonaro na madrugada deste domingo para explicar as acusações de pedofilia após a divulgação de um vídeo em que ele afirma ter pintado ‘um clima’ entre meninas venezuelanas de 14 e 15 anos em uma comunidade em Brasília, o petista disse que Bolsonaro “deve ter deitado com a consciência muito pesada pra fazer live 1h da manhã”.
O primeiro a chegar na sede da emissora, em São Paulo, foi o candidato Lula. Em uma rápida coletiva, o ex-presidente disse desejar que o próximo pleito tenha o menor número de ‘abstenção possível’ e comentou sobre a participação de apoiadores durante a campanha: "O povo está participando ativamente da campanha de rua. São pessoas que acreditam que o Brasil pode voltar a sorrir". O petista também declarou que deseja “mostrar que é possível acabar com a fome, [fazer] investimentos em educação e saúde."
Já Bolsonaro, ao chegar na emissora, foi questionado sobre um vídeo que circulou nas redes sociais onde ele fala que ‘pintou um clima’ entre meninas venezuelanas de 14 e 15 anos. Acusado por seus adversários de pedofilia, o atual presidente declarou que as últimas 24 horas foram as ‘mais terríveis’ de sua vida: "Tentaram me atingir naquilo que é mais sagrado para mim: a defesa da família e das crianças. Me acusam de genocida, miliciano, canibal e agora pedófilo. Lamento que não tenha nada de concreto contra mim. Esse nível da campanha é o pior possível", declarou Bolsonaro que também disse que já utilizou o termo ‘pintar um clima’ em outras situações.
O ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, proibiu a veiculação do vídeo pela campanha petista e declarou que a frase foi tirada de contexto: Tal contexto evidencia a divulgação de fato sabidamente inverídico e descontextualizado, que não pode ser tolerada por esta Corte, notadamente por se tratar de notícia falsa divulgada durante o 2º turno da eleição presidencial", disse.
O presidente do TSE também solicitou às redes sociais que apagassem as publicações sobre o caso. Caso a decisão seja descumprida, o que também vale para propagandas no rádio e na televisão, uma multa no valor de R$ 100 mil será cobrada por cada descumprimento.
O debate ficou em primeiro lugar no trending topics do Twitter e os termos Lula, Lulinha, Bozo, Amazônia, Google e Nicarágua também estavam entre os assuntos mais comentados da rede social.
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