Após horas de negociação, o petebista se entregou Valter Campanato/Agência Brasil
Publicado 23/10/2022 20:49 | Atualizado 23/10/2022 20:55
Aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) criticaram recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e relembraram uma ofensa de uma jornalista contra a filha do presidente para minimizar o ataque do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) a agentes da Polícia Federal (PF) neste domingo, 23.
No início da tarde, Jefferson lançou uma granada contra agentes da corporação que cumpriam mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra ele. Dois policiais ficaram feridos. Há pouco, após horas de negociação, o petebista se entregou.

Jefferson estava em prisão domiciliar em sua casa no município de Levy Gasparian, no interior do Rio de Janeiro, porque é réu em processo de ameaça contra os ministros do STF. A decisão de Moraes de mandá-lo de volta para cadeia foi proferida um dia após o ex-deputado federal chamar a ministra Cármen Lúcia, que atua no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de "prostituta arrombada", entre outros xingamentos.

Embora o próprio presidente Bolsonaro e a maioria dos seus apoiadores tenham repudiado a ação violenta de Jefferson, aproveitaram o episódio para criticar inquéritos e decisões judiciais contra atos antidemocráticos e disseminação de fake news. Nas redes sociais, Bolsonaro disse repudiar "as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP."

Em crítica mais indireta, o vice-presidente e senador eleito pelo Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão (Republicanos), criticou a resistência do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) à prisão por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e avaliou que o caso somente escalou porque o sistema de "freios e contrapesos" institucionais não está funcionando. "Lamento as falas e repudio o episódio envolvendo o Sr. Roberto Jefferson. Tal estado de coisas acontece porque o sistema de freios e contrapesos não está funcionando", escreveu Mourão.

Membros do governo e aliados de Bolsonaro no Legislativo, como o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), compartilharam a publicação do presidente nas redes com o repúdio à Jefferson e a crítica ao Judiciário. Carla ainda declarou lamentar e repudiar "as falas e ações de Roberto Jefferson", mas que vê "com muito mais preocupação as consequências dos atos inconstitucionais praticados por aqueles que deveriam proteger a Constituição".

Alguns apoiadores de Bolsonaro foram mais longe e tentaram tornar Jefferson a vítima do episódio, criticando o mandado de prisão contra o ex-deputado e justificando sua reação. Sob a narrativa de suposta perda de liberdade, o jornalista Guilherme Fiuza fez apologia a reações "fora da institucionalidade". "Ou as instituições reagem ao pacto covarde do vale-tudo, ou a reação virá de fora da institucionalidade, desordenada, por parte da imensa maioria que não quer entregar os seus direitos e a sua liberdade a meia-dúzia de malandros. Este caminho será bem mais doloroso para todos".

O também jornalista e neto do ex-presidente militar João Figueiredo, Paulo Figueiredo Filho, outra voz do bolsonarismo nas redes sociais, defendeu Jefferson e criticou a atuação da Polícia Federal, embora não haja nenhum indício que os agentes agiram com violência. "A situação com Roberto Jefferson escala a gravidade. É necessário que a população entenda que estamos em um estado policial real, estabelecido, com a Polícia disposta a prender e até matar senhores de idade que falam mal dos tiranos no poder. Não é brincadeira. Dia triste."

Bárbara Destefani, dona do canal e páginas Te Atualizei, que apoiam Bolsonaro, comparou a PF à Gestapo (polícia nazista) e criticou o mandado de prisão contra Jefferson. "2022, o ano que a Gestapo te prende num domingo por xingamentos na internet. Não concordo em absoluto com a forma que Roberto Jefferson se expressa, mas ser preso por isso, sem processo, de novo? É um conjunto de coisas lamentáveis em uma "dita democracia". Triste "

Comparação com ofensa à filha de Bolsonaro

Outra estratégia dos bolsonaristas para reduzir a gravidade do ato de Jefferson foi relembrar uma ofensa da jornalista Barbara Gancia à filha do presidente, Laura, de 11 anos. Após o episódio em que Bolsonaro disse ter "pintado um clima" com meninas venezuelanas de 14 a 15 anos e ter associado de forma mentirosa as adolescentes à prostituição infantil, a jornalista escreveu em suas redes sociais que "para bolsonarista imbrochável, quando a filha do presidente se arruma, ela parece puta".

O ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, Fábio Faria, relembrou o episódio durante live realizada com o presidente na tarde deste domingo. Após reforçarem o repúdio à ação de Jefferson, Faria releu o post da jornalista e disse que "não viu uma nota de repúdio na mídia contra essa jornalista que falou isso".

Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador pelo Rio, também relembrou o caso de forma irônica: "Ativista pro facção chamar a filha do presidente de 11 anos de puta: democracia! Falar algo na mesma linha de outros, manda a Polícia fazer você sabe o que! Viva a democracia!", postou ele em suas redes.

Os apoiadores do presidente tentaram, portanto, equiparar as ofensas de Jefferson à ministra Carmen Lúcia ao post da jornalista ofendendo a filha de Bolsonaro. Importante lembrar, porém, que Jefferson não teve mandado de prisão expedido somente por seus xingamentos à Carmen Lúcia — ele já é reú em inquérito do STF por ameaças contra ministros e atos antidemocráticos.

Lira condena ação violenta; Pacheco pede punição

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), condenou a ação violenta de Jefferson. "O Brasil assiste estarrecido fatos que, neste domingo, atingiram o pico do absurdo. Em nome da Câmara, repudio toda reação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra nossa democracia."

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criticou os ataques à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia e à deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). Na visão do senador, é obrigação moral das instituições punir quem proferiu as ofensas.

"As atitudes repugnantes que ofenderam a ministra Cármen Lúcia e a deputada Marina Silva, duas valorosas mulheres brasileiras, não representam a nossa sociedade, que busca um país com mais equilíbrio, serenidade e igualdade", escreveu Pacheco no Twitter, acrescentando: "Preocupa-nos quantos fatos desses, a todo instante, acontecem com as mulheres Brasil afora sem que tenhamos conhecimento. Puni-los e calá-los é obrigação moral das instituições, principalmente da Justiça Penal. O Estado democrático de Direito confere liberdades ao cidadão, jamais o direito de praticar crimes e violar direito alheio."

Em suas postagens, Pacheco não se referiu diretamente à resistência de Jefferson à prisão neste domingo, embora elas tenham sido publicadas após a notícia sobre o petebista circular na imprensa e nas redes sociais.

O ex-juiz e ministro da Justiça e senador eleito pelo Paraná Sérgio Moro demorou a se pronunciar sobre o episódio e declarou apenas solidariedade aos policiais atingidos no ataque, sem fazer crítica direta à ação de Jefferson, que classificou apenas como "sem noção". "Coisa mais sem noção esse ataque aos agentes da PF. Espero que estejam bem. Minha solidariedade."

Lula e aliados repudiam violência

Em sua rede social, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou solidariedade aos agentes da Polícia Federal que foram atingidos pelos estilhaços de granada arremessada por Jefferson.

Durante coletiva de imprensa em São Paulo, Lula defendeu que as ações de Jefferson são consequências de um comportamento incitado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). "Ele (Bolsonaro) conseguiu criar uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que espalha fake news o dia inteiro, sem se importar se o seu filho está vendo ou não. É um desrespeito com a população, gera comportamentos como o do ex-deputado Roberto Jefferson (PT) e de outras pessoas que seguem nosso adversário", afirmou o petista.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também defendeu a ideia de que a violência disseminada por Bolsonaro interfere no comportamento de outras pessoas e prestou solidariedade aos policiais atingidos. "A violência disseminada por Bolsonaro atinge o cúmulo, com Roberto Jefferson atirando contra agentes que cumpriam ordem da Justiça. Nossa solidariedade com o STF e os policiais atingidos. O Brasil precisa de paz e a vida do povo tem de ser a centralidade do nosso debate."

O ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) afirmou que atirar contra policial em serviço é "crime hediondo". O candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, também prestou solidariedade aos policiais feridos e aproveitou o momento para relacionar o ocorrido com o seu adversário na disputa, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O deputador federal André Janones (Avante-MG) criticou a postura de Bolsonaro de equiparar, em sua nota de repúdio, as ações de Jefferson e as decisões judiciais, classificando a postura como uma defesa do presidente a Jefferson. "Bolsonaro sai em defesa de Roberto Jeferson após ele atirar contra policiais e compara a ação de Jeferson com a atuação dos ministros do STF, dizendo que ambas devem ser igualmente repudiadas!", concluiu.

O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) publicou uma imagem de Jefferson e Bolsonaro se abraçando e lembrou de episódio em que ambos desrespeitaram decisões de órgãos federais: o primeiro com a PF e o segundo com o STF. Neste domingo, durante live, Bolsonaro afirmou que nunca tinha tirado uma foto com Jefferson.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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