Publicado 28/10/2022 15:45
Em 17 de outubro, o candidato ao governo de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) participava da inauguração de um polo universitário em Paraisópolis, na Zona Sul da capital paulista, quando sua agenda foi interrompida por um tiroteio nos arredores do local. Minutos depois, o Tarcísio foi às redes sociais esclarecer que ninguém de sua equipe havia ficado ferido. A princípio, ele usou a expressão "fomos atacados por criminosos", mas, em seguida, afirmou que a motivação dos disparos não estava elucidada e que poderia se tratar de uma "questão territorial".
No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou comentar o assunto e disse que seria "precipitado" tirar conclusões. Ainda assim, o episódio provocou uma guerra de versões nas redes sociais entre rivais e apoiadores de Tarcísio, que levaram o termo "atentado" aos mais citados do Twitter.
A troca de tiros resultou na morte de um homem identificado como Felipe Lima, de 27 anos. Ele tinha passagens criminais por roubo e tráfico de drogas, de acordo com a Polícia Civil. Um vídeo obtido pelo Estadão mostra Lima pilotando uma moto; segundo a polícia, ele estava com Rafael Araújo na garupa — até agora só os dois foram identificados pelas autoridades.
O Estadão também teve acesso a outras imagens de Lima no chão em uma poça de sangue. Nenhuma arma foi encontrada com ele, apenas um pente de balas. Segundo as autoridades, Araújo está foragido. A investigação tenta identificar os demais suspeitos que aparecem nas gravações.
Dia 17: Investigação preliminar
Horas após o tiroteio, a Secreta de Segurança Pública (SSP) convocou entrevista coletiva para informar as primeiras conclusões da investigação preliminar. Segundo a pasta, a troca de tiros ocorreu a cerca de 100 metros do prédio onde o ex-ministro estava, e não houve disparos diretamente contra o edifício. A polícia afirmou que investigava todas as hipóteses — inclusive a de ataque à equipe de Tarcísio. Contudo, passou a trabalhar com a tese de que os tiros foram motivados pela presença da polícia no local, já que oficiais faziam a segurança do candidato.
Dia 17: Campanha de Bolsonaro fala em 'ataque criminoso'
Ainda no dia 17, a campanha de Jair Bolsonaro contradisse o que o próprio presidente havia afirmado horas antes e explorou o episódio na propaganda eleitoral do candidato à reeleição. Na inserção noturna reservada ao chefe do Executivo na televisão, foi incluído um texto que afirmava que Tarcísio havia sido vítima de um "ataque criminoso", vinculando o ocorrido a outros episódios, como o ataque a faca sofrido por Bolsonaro em 2018. Por sua parte, o adversário de Tarcísio no segundo turno, Fernando Haddad (PT), se manifestou condenando qualquer ato de violência, em especial na política.
Dia 25: Pedido de exclusão dos vídeos
Alguns dias após o ocorrido, o jornal Folha de S.Paulo revelou áudio em que um suposto assessor de Tarcísio pede a um cinegrafista da Jovem Pan que exclua as imagens captadas do tiroteio. O suposto membro da equipe do ex-ministro argumenta que o pedido é para não expor as pessoas que estavam no local. Porém, as imagens já haviam sido enviadas à emissora, que diz tê-las exibido integralmente.
A partir de então, o episódio passou a ser explorado com destaque pelo adversário de Tarcísio na disputa pelo governo, o também ex-ministro Fernando Haddad (PT). Em entrevista ao Estadão e à Rádio Eldorado, o petista afirmou que o pedido para exclusão dos vídeos é típico de quem "não confia na apuração de crimes" e na segurança pública.
Dando prosseguimento à investigação, a Polícia Civil divulgou nota afirmando ter requisitado todas as imagens gravadas não apenas pela Jovem Pan, mas por todas as emissoras que cobriam o evento, assim como de câmeras de segurança do comércio local e dos uniformes dos policiais. A corporação explica que esse é o procedimento padrão adotado sempre que há morte decorrente de confronto com a polícia.
Dia 26: Cinegrafista relata pressão por demissão; campanha de Tarcísio nega
O cinegrafista, que no primeiro momento não teve seu nome revelado, passou a se identificar como o repórter-cinematográfico Marcos Andrade, de 49 anos, e concedeu entrevista à Folha no dia seguinte à divulgação do áudio. Segundo ele, a campanha de Tarcísio "ordenou" que ele excluísse as imagens e, após a publicação da primeira reportagem sobre o pedido, fez pressão para que ele fosse demitido da Jovem Pan. A equipe do candidato nega essas alegações.
Dia 27: Tarcísio diz que pedido partiu de ex-Abin
O candidato do PT levantou o tema do tiroteio ao debate promovido pela TV Globo na quinta-feira, 27. Em resposta ao petista, Tarcísio confirmou que o pedido ocorreu, de fato, e identificou o autor como um ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sem dar mais detalhes.
Segundo o candidato do Republicanos, os cinegrafistas de várias emissoras foram retirados do local do tiroteio na van de sua equipe, que é blindada, e levados ao escritório de sua campanha na Vila Mariana. Ele justificou que o procedimento foi para colocá-los em segurança e oferecer uma "água" para aliviar o estresse. "A gente não deixou ninguém ficar para trás (...) Quando chegou ao escritório, a gente trouxe ele para dentro para se recuperar, para tomar uma água, para sair daquela situação de estresse, assim como a gente fez com a equipe da (TV) Bandeirantes e com outros jornalistas", afirmou Tarcísio.
Ele prosseguiu: "Ele pediu o seguinte: 'olha, apaga isso, apaga aquilo', sabe por quê? Preocupação com as pessoas, porque lá tinha equipe de produção, lá tinha equipe de comunicação, lá tinha outros profissionais, porque a campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue, e a preocupação foi com a segurança"
Haddad, então, argumentou que seu rival não deveria apagar imagens que poderiam ser úteis para a investigação, mas levá-las às autoridades competentes. "Sabe o que isso gera? Suspeição. A sociedade paulista está se perguntando por que isso aconteceu", disse o petista.
Quem é o servidor da Abin citado por Tarcísio?
O servidor da Abin mencionado por Tarcísio é Fabrício Cardoso de Paiva, de 48 anos. Ele é formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Após passagem de 13 anos pelo Exército como oficial de artilharia, ele entrou para a agência de inteligência em 2009. Em 2019, foi cedido ao Ministério da Infraestrutura, à época chefiado por Tarcísio, e compõe até hoje a equipe do ex-ministro. Embora cedido à pasta, ele não foi desligado da agência.
A troca de tiros resultou na morte de um homem identificado como Felipe Lima, de 27 anos. Ele tinha passagens criminais por roubo e tráfico de drogas, de acordo com a Polícia Civil. Um vídeo obtido pelo Estadão mostra Lima pilotando uma moto; segundo a polícia, ele estava com Rafael Araújo na garupa — até agora só os dois foram identificados pelas autoridades.
O Estadão também teve acesso a outras imagens de Lima no chão em uma poça de sangue. Nenhuma arma foi encontrada com ele, apenas um pente de balas. Segundo as autoridades, Araújo está foragido. A investigação tenta identificar os demais suspeitos que aparecem nas gravações.
Dia 17: Investigação preliminar
Horas após o tiroteio, a Secreta de Segurança Pública (SSP) convocou entrevista coletiva para informar as primeiras conclusões da investigação preliminar. Segundo a pasta, a troca de tiros ocorreu a cerca de 100 metros do prédio onde o ex-ministro estava, e não houve disparos diretamente contra o edifício. A polícia afirmou que investigava todas as hipóteses — inclusive a de ataque à equipe de Tarcísio. Contudo, passou a trabalhar com a tese de que os tiros foram motivados pela presença da polícia no local, já que oficiais faziam a segurança do candidato.
Dia 17: Campanha de Bolsonaro fala em 'ataque criminoso'
Ainda no dia 17, a campanha de Jair Bolsonaro contradisse o que o próprio presidente havia afirmado horas antes e explorou o episódio na propaganda eleitoral do candidato à reeleição. Na inserção noturna reservada ao chefe do Executivo na televisão, foi incluído um texto que afirmava que Tarcísio havia sido vítima de um "ataque criminoso", vinculando o ocorrido a outros episódios, como o ataque a faca sofrido por Bolsonaro em 2018. Por sua parte, o adversário de Tarcísio no segundo turno, Fernando Haddad (PT), se manifestou condenando qualquer ato de violência, em especial na política.
Dia 25: Pedido de exclusão dos vídeos
Alguns dias após o ocorrido, o jornal Folha de S.Paulo revelou áudio em que um suposto assessor de Tarcísio pede a um cinegrafista da Jovem Pan que exclua as imagens captadas do tiroteio. O suposto membro da equipe do ex-ministro argumenta que o pedido é para não expor as pessoas que estavam no local. Porém, as imagens já haviam sido enviadas à emissora, que diz tê-las exibido integralmente.
A partir de então, o episódio passou a ser explorado com destaque pelo adversário de Tarcísio na disputa pelo governo, o também ex-ministro Fernando Haddad (PT). Em entrevista ao Estadão e à Rádio Eldorado, o petista afirmou que o pedido para exclusão dos vídeos é típico de quem "não confia na apuração de crimes" e na segurança pública.
Dando prosseguimento à investigação, a Polícia Civil divulgou nota afirmando ter requisitado todas as imagens gravadas não apenas pela Jovem Pan, mas por todas as emissoras que cobriam o evento, assim como de câmeras de segurança do comércio local e dos uniformes dos policiais. A corporação explica que esse é o procedimento padrão adotado sempre que há morte decorrente de confronto com a polícia.
Dia 26: Cinegrafista relata pressão por demissão; campanha de Tarcísio nega
O cinegrafista, que no primeiro momento não teve seu nome revelado, passou a se identificar como o repórter-cinematográfico Marcos Andrade, de 49 anos, e concedeu entrevista à Folha no dia seguinte à divulgação do áudio. Segundo ele, a campanha de Tarcísio "ordenou" que ele excluísse as imagens e, após a publicação da primeira reportagem sobre o pedido, fez pressão para que ele fosse demitido da Jovem Pan. A equipe do candidato nega essas alegações.
Dia 27: Tarcísio diz que pedido partiu de ex-Abin
O candidato do PT levantou o tema do tiroteio ao debate promovido pela TV Globo na quinta-feira, 27. Em resposta ao petista, Tarcísio confirmou que o pedido ocorreu, de fato, e identificou o autor como um ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sem dar mais detalhes.
Segundo o candidato do Republicanos, os cinegrafistas de várias emissoras foram retirados do local do tiroteio na van de sua equipe, que é blindada, e levados ao escritório de sua campanha na Vila Mariana. Ele justificou que o procedimento foi para colocá-los em segurança e oferecer uma "água" para aliviar o estresse. "A gente não deixou ninguém ficar para trás (...) Quando chegou ao escritório, a gente trouxe ele para dentro para se recuperar, para tomar uma água, para sair daquela situação de estresse, assim como a gente fez com a equipe da (TV) Bandeirantes e com outros jornalistas", afirmou Tarcísio.
Ele prosseguiu: "Ele pediu o seguinte: 'olha, apaga isso, apaga aquilo', sabe por quê? Preocupação com as pessoas, porque lá tinha equipe de produção, lá tinha equipe de comunicação, lá tinha outros profissionais, porque a campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue, e a preocupação foi com a segurança"
Haddad, então, argumentou que seu rival não deveria apagar imagens que poderiam ser úteis para a investigação, mas levá-las às autoridades competentes. "Sabe o que isso gera? Suspeição. A sociedade paulista está se perguntando por que isso aconteceu", disse o petista.
Quem é o servidor da Abin citado por Tarcísio?
O servidor da Abin mencionado por Tarcísio é Fabrício Cardoso de Paiva, de 48 anos. Ele é formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Após passagem de 13 anos pelo Exército como oficial de artilharia, ele entrou para a agência de inteligência em 2009. Em 2019, foi cedido ao Ministério da Infraestrutura, à época chefiado por Tarcísio, e compõe até hoje a equipe do ex-ministro. Embora cedido à pasta, ele não foi desligado da agência.
* Com informações de Estadão Conteúdo
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