Publicado 30/10/2022 06:00
Chegou o momento de definir quem ocupará o cargo de chefe do Executivo. Neste domingo (30), são aguardados mais de 156 milhões de eleitores em 5.570 cidades do Brasil e em 181 localidades no exterior. Nos últimos 27 dias, os presidenciáveis percorreram o país com foco principal no Sudeste e Nordeste buscando atrair os indecisos e estreitar relacionamentos com aliados. Para especialistas, essa será uma eleição decisiva e ódio e medo são as principais motivações dos brasileiros para decidir em quem votar.
Segundo Paulo Baía, sociólogo e professor da UFRJ, a democracia brasileira está em uma situação precária e insegura. "Ela se mostrou resiliente mas não com firmeza, tanto que um dos medos é o do retorno da ditadura e do Estado autoritário. Esse medo mostra uma insegurança democrática", comenta. Para o sociólogo, o temor ao oponente tem impulsionado o eleitor. "Só perceber que os dois foram rejeitados por uma parcela imensa de eleitores, que não apenas votaram nos demais candidatos mas também anularam, votaram branco ou não compareceram. Hoje o principal motor do voto é o medo, as pessoas estão com medo de Bolsonaro ou de Lula e esse medo está consolidando pelo menos 40% do eleitorado dos dois", declara.
Em seu plano de governo, Jair Bolsonaro (PL) coloca como foco principal a "liberdade". O chefe do Executivo defende a “liberdade econômica”, a “liberdade religiosa”, “liberdade de expressão”, a “liberdade para a defesa de direitos” e a “liberdade para o uso responsável dos recursos naturais”. Se reeleito, Bolsonaro pretende seguir com isenção de impostos federais sobre a gasolina, o álcool, o diesel e o gás de cozinha. Já o ex-presidente Lula (PT), nomeia o seu plano de governo como um “programa de reconstrução e transformação do Brasil” focado em um regime fiscal com previsibilidade, sustentabilidade e credibilidade, visando atrair investimentos.
No primeiro turno (2) Lula obteve 57.257.473 votos, o equivalente a 48,43% dos votos válidos. O atual presidente Bolsonaro alcançou 51.071.106 votos (43,20%). E como aumentar este número? Para relembrar o leitor, a equipe do DIA trouxe um resumo com os principais pontos das campanhas neste segundo turno. Confira:
Primeira semana: momento de estreitar relacionamentos e buscar aliados
Bolsonaro recebeu o apoio dos governadores reeleitos das principais zonas do sudeste: Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Também declararam voto, o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que não foi reeleito, e o ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil). Já Lula obteve o apoio da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno e de boa parte dos governadores eleitos do Nordeste. O senador e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também declararam voto no petista. Ciro Gomes (PDT), quarto colocado, anunciou apoio tímido a Lula com críticas e sem mencioná-lo diretamente.
Uma das estratégias dos presidenciáveis tem sido a de fragmentar a imagem do seu adversário e aumentar a rejeição dele. Assim, a pauta religiosa e o embate pela região Nordeste também tiveram força nesse período. O presidente viralizou após uma declaração, em transmissão ao vivo, que relacionou o bom desempenho de Lula ao analfabetismo no Nordeste. Em resposta, o petista chegou a dizer que os brasileiros com uma “gota de sangue nordestino” não deveriam votar no mandatário. Na mesma semana, outro vídeo ganhou destaque. Na imagem, o presidente estava em uma loja maçônica e bolsonaristas se manifestaram decepcionados no Twitter.
Segunda semana: focando em reverter a vantagem do adversário
A primeira-dama Michelle Bolsonaro concentrou sua agenda em regiões em que Lula teve vantagem no primeiro turno. Segundo o Globo, entre os dias 10 e 14 de outubro, Michelle esteve em nove estados e Bolsonaro esteve em sete. O presidente também viralizou nas redes sociais após declarar que "pintou um clima" com meninas venezuelanas de 14 e 15 anos. Bolsonaro fez uma live para se defender e disse que as declarações foram deturpadas.
Lula aproveitou a segunda semana para focar na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, buscando reverter a vantagem de seu adversário no estado. Seguindo a sugestão de Simone Tebet, para reduzir a rejeição associada ao partido, ninguém que estava no carro, durante o comício, estava usando tons de vermelho, cor característica do PT. Na quarta (12), o petista utilizou um boné com a sigla "CPX" em ato de campanha no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, e bolsonaristas associaram a sigla a grupos criminosos.
No domingo (16), aconteceu o primeiro debate do segundo turno entre os presidenciáveis. Temas como corrupção, pandemia, obras no Nordeste e crime organizado foram os destaques da noite. Bolsonaro focou em assuntos de corrupção e buscou associar Lula ao narcotráfico. Já o petista rebateu as acusações ligando o presidente a milicianos e afirmando que sua gestão foi "desastrosa" durante a pandemia.
Terceira semana: TSE em alta
Bolsonaro recebeu cantores sertanejos no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. Participaram do encontro os cantores Gusttavo Lima, Leonardo, Zezé Di Camargo, Chitãozinho entre outros. Lula deu uma entrevista na terça (18) ao canal Flow Podcast, no YouTube. O ex-presidente chegou a bater o recorde de audiência superando a marca de 1 milhão de visualizações simultâneas. Dois dias depois, Bolsonaro bateu o recorde no podcast Inteligência Ltda, também no YouTube, com mais de 1,1 milhão de internautas simultâneos.
Assim como na semana anterior, a primeira-dama foi peça-chave na campanha. No dia 20 de outubro, mesmo dia em que Lula cumpriu agenda no Rio de Janeiro, Michelle participou do "Mulheres com Bolsonaro", uma série de eventos em prol da reeleição do atual presidente. Em São Gonçalo, Luiz Inácio Lula da Silva pediu a eleitores evangélicos que não permitam que pastores mintam nas igrejas. No dia anterior, o petista apresentou uma carta aos evangélicos e afirmou que o governo dele "não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de culto e de pregação".
Na quarta(19), os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concederam os primeiros direitos de resposta na televisão aos presidenciáveis. O petista teve sete pedidos aprovados para rebater acusações e as respostas foram distribuídas em 184 inserções de 30 segundos cada. Já Bolsonaro vai responder em 14 inserções de 30 segundos à propaganda de seu adversário que o associava ao canibalismo.
Essa sem dúvida foi uma semana intensa para o TSE. O pastor André Valadão publicou um vídeo de retratação sobre as acusações feitas a Lula. Segundo Valadão, isso teria sido determinado por Alexandre de Moraes, presidente do TSE. O Tribunal declarou que desconhece essa determinação. Na mesma semana, o TSE puniu a emissora Jovem Pan por declarações de comentaristas que foram consideradas distorcidas ou ofensivas a Lula. Em um editorial, a emissora afirmou que a decisão da Corte Eleitoral era "censura".
Quarta semana: um chamado para as urnas
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou durante uma coletiva que a campanha de Bolsonaro teve 154.085 inserções a menos em rádios do Brasil do que a campanha de Lula, principalmente no Nordeste. Na mesma noite, o chefe do Executivo protocolou no TSE uma ação sobre emissoras de rádio que não estariam transmitindo a propaganda eleitoral gratuita. Segundo o presidente do Tribunal, a ação e o relatório não indicam quais as rádios, dias ou horários em que houve o descumprimento da lei eleitoral.
O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) foi preso pela Polícia Federal após determinação de Alexandre de Moraes do STF. Roberto reagiu à ordem judicial na sua casa lançando granadas e atirando, e feriu dois policiais. Apesar de ter fotos com ele, em live, em seu canal no Youtube, Bolsonaro disse não ter ligação com o ex-deputado.
Outro momento desgastante para a campanha foi o vazamento do plano econômico de Guedes em que prevê salário mínimo e aposentadoria sem correção pela inflação passada. Segundo o ministro, em caso de reeleição, uma PEC seria apresentada no dia seguinte. O PT tem afirmado frequentemente que Bolsonaro pretende conceder correções abaixo da inflação, segundo a Folha de São Paulo, aliados do presidente acreditam que o vazamento causou uma fisura maior, inclusive, do que a associação com pedofilia.
Lula, afirmou que nesta reta final o foco de sua campanha seria convencer as pessoas a irem às urnas, no domingo. O petista recebeu o apoio de duas das revistas mais importantes do mundo. O jornal The New York Times publicou um vídeo nesta quinta (27) em que afirmou que domingo (30), é o "dia mais importante do planeta". O vídeo de seis minutos de duração diz que um candidato é a favor da preservação da floresta e o outro, contra. Na quarta, (26) a revista britânica Nature, uma das principais publicações científicas do mundo, também declarou apoio expresso ao petista.
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