Publicado 31/10/2022 19:20
No extremo oeste da Amazônia, mesma região onde foram assassinados em junho o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, os indígenas ticunas assistem à TV. Quando a vitória de Lula é anunciada, ouvem-se aplausos e começam os fogos de artifício.
O ex-presidente petista, 77, irá governar o país pela terceira vez, após derrotar o presidente de direita Jair Bolsonaro, 67, por uma margem estreita de 50,9% dos votos contra 49,1%. Mas na reserva Umariaçu 2, aldeia de casas majoritariamente de madeira e telhado de zinco no extenso estado do Amazonas, Lula venceu com folga.
No município de Tabatinga - que abrange essa reserva indígena - Lula venceu com 66,93% contra Bolsonaro, que ganhou a rejeição de comunidades da Amazônia por sua recusa a demarcar novos territórios originários para preservação.
"Estava muito nervosa aguardando o resultado, mas quando Lula ganhou, fiquei muito feliz, porque sei que ele dará resultados muito bons para o estado, porque é diferente de Bolsonaro", afirmou Nágela Araújo Elizardo, vereadora indígena de Tabatinga.
De Lula, Nágela espera melhorias nas 57 comunidades indígenas do município. "Mas a primeira coisa que precisa mudar é a presidência da Funai", diz, referindo-se à Fundação Nacional do Índio, enfraquecida por Bolsonaro, segundo críticos.
Nas aldeias Umariaçu 1 e 2, onde vivem cerca de 12 mil indígenas ticunas, os moradores acompanharam a apuração pela TV de suas casas, até ouvirem o anúncio da vitória de Lula. Nas ruas, motocicletas buzinavam, enquanto cruzavam a noite com bandeiras do PT. Crianças acompanhavam os pais nas comemorações, animadas pela música ticuna.
Luz Marina Honorato disse que se sente duplamente incluída nos planos de Lula. "Eu o acompanho há muito tempo. Sua principal proposta quando fala sobre os indígenas são os direitos das mulheres, porque não são apenas os homens que têm direitos, não é verdade?", argumentou a professora ticuna, 53 anos.
Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Lula prometeu combater o desmatamento, que disparou mais de 70% nos quatro anos de governo Bolsonaro, segundo dados oficiais. Não muito distante das aldeias Umariaçu, foram encontrados os corpos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, mortos neste ano, supostamente por pescadores ilegais em terras indígenas.
Em 2019, o chefe da luta contra a caça furtiva da Funai na região foi assassinado em Tabatinga.
"Sofremos durante quatro anos, e não tínhamos saída. Agora, minha comunidade está em festa", contou à AFP Sebastião Ramos Nogueira, presidente do Conselho Geral do Povo Ticuna do Rio Solimões. "Realmente conseguimos eleger nosso presidente, que já fez algo por nós em seu primeiro e segundo mandatos" (2003-2010), lembrou o dirigente, 57 anos, que vestia um cocar de penas amarelas e azuis.
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