Adílio e Lico no Mundial em TóquioTomikoshi Photography - Divulgação
Publicado 19/09/2024 10:26
Olá, torcedor. Bem-vindo ao Contra-Ataque O Dia. Esta é a 14ª edição do melhor pré-jogo do Rio. Aqui, você vai encontrar informações sobre o duelo desta noite, além de entrevistas exclusivas com o ex-ponta Lico, campeão do Carioca, do Brasileiro, da Libertadores e do Mundial pelo Fla, e com o zagueiro Bressan, que é um dos poucos jogadores que atuaram nos times que vão se enfrentar hoje.
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O Maracanã será o palco da partida entre dois gigantes do futebol mundial: Flamengo e Peñarol, do Uruguai, que, juntos, já conquistaram oito troféus da Libertadores. Com três títulos, a equipe carioca quer seguir viva para dominar a América do Sul pela quarta vez. Para isso, o time do técnico Tite terá que passar pelos uruguaios neste confronto das quartas de final. A bola rola para o enfrentamento de ida a partir das 19 horas.
O Rubro-Negro passa por um momento delicado de lesões. Seis jogadores estão fora da partida, são eles: Gabigol, por conta de uma fibrose no músculo da coxa direita, Michael, que enfrenta problemas também na coxa direita e por conta disso sequer foi inscrito, Luiz Araújo, com lesão no joelho, e Pedro, Matías Viña e Everton Cebolinha, que sofreram lesões mais graves e só retornarão aos gramados na próxima temporada.
Por outro lado, De La Cruz vai para o jogo. O meio-campista ficou de fora das últimas três partidas, mas retornou aos treinamentos no início da semana. Tite também vai poder contar com os recém-chegados Alex Sandro, Carlos Alcaraz e Gonzalo Plata, todos estão inscritos na competição continental.
Se tem desfalques dentro das quatro linhas, nas arquibancadas a torcida estará completa, e será com esse apoio massivo que o Flamengo vai tentar garantir um bom resultado neste primeiro jogo para levar uma vantagem para o Uruguai.
O confronto de volta acontece na próxima semana, na quinta-feira, 26 de setembro, às 19 horas, no Estádio Campeón del Siglo, em Montevidéu. Quem avançar enfrentará o vencedor do duelo entre Botafogo e São Paulo.
Campanhas
Na fase de grupos, o Mengão terminou como segundo colocado do Grupo E, com 10 pontos. Foram três vitórias, um empate e duas derrotas, com 11 gols marcados e quatro sofridos. O time ficou atrás do Bolívar, da Bolívia, que somou 13 pontos. Repetindo os confrontos da fase anterior, nas oitavas de final, o adversário do Fla foi o time boliviano. No primeiro jogo, no Maracanã, o Flamengo venceu por 2 a 0. Já na altitude de La Paz, foi derrotado por 1 a 0.
Aguirre, técnido do Penãrol - Divulgação
Aguirre, técnido do PenãrolDivulgação
Os uruguaios até aqui
O Peñarol ficou em segundo do Grupo G, com 12 pontos. Foram quatro vitórias e duas derrotas, com 12 gols feitos e cinco sofridos. A equipe ficou atrás do Atlético-MG, que liderou com 15. Nas oitavas, o Aurinegro passou pelo The Strongest. Em Montevidéu, o time fez 4 a 0. Na volta, em La Paz, perdeu por 1 a 0.
"Realização de um sonho", diz Lico sobre período no Flamengo
Aos 73 anos, ex-jogador relembra momentos em que fez história com a camisa rubro-negra na década de 1980
Multicampeão pelo Flamengo na década de 1980, Antônio Nunes, ou simplesmente Lico, era o camisa 11 daquele time do qual o torcedor rubro-negro sabe de cor e salteado a escalação: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Tita; Nunes, além do catarinense que hoje está com 73 anos.
De grande relevância ao melhor time da história do clube, o ex-ponta da Gávea deu uma entrevista exclusiva ao Contra-Ataque o Dia, onde falou da importância do Mengão na sua vida, lembrou momentos de sua carreira vestindo o manto e projetou o duelo de hoje.
"O Flamengo foi a realização de um sonho de garoto, de quando tinha meus 15 anos e sonhava em jogar numa grande equipe do futebol brasileiro", inicia Lico, que começou sua trajetória no América de Joinville. Antes de chegar ao time da Gávea, também passou pelo Grêmio, Figueirense, Marcílio Dias, Avaí e Joinville. Foi neste último clube que despertou interesse de Márcio Braga, presidente do Fla à época.
Lico conta que a ascensão foi rápida. Aos 28 anos, tudo mudou de um dia para o outro. "Fui pego de surpresa. Uma emoção grande. Só deu tempo de arrumar as malas e ir para o Rio. Cheguei e à tarde já fui participar de um treino ao lado do Zico. Ele era o maior jogador do mundo, então a minha realização era dobrada."
Meses depois, o ponta saiu do banco para decidir uma partida contra o Campo Grande. Era o começo da trajetória de sucesso com o manto. "O time estava perdendo por 1 a 0. Eu dei o passe para o Tita empatar e fiz o da vitória com uma meia-bicicleta. Depois veio aquele 6 a 0 contra o Botafogo. Esse me marcou muito por ser o troco, a revanche, e também por eu ter começado jogando. Foi um domingo inesquecível", lembra.
Segundo números do Flamengo, Lico atuou pelo Rubro-Negro de 1980 a 1984, ano em que pendurou as chuteiras por conta dos problemas no joelho. Ao todo, foram 129 jogos e 17 gols. Entre as principais conquistas, além da Libertadores e Mundial, estão os Brasileirões de 1982 e 1983 e o Cariocão de 1981.
Lico com o busto que recebeu de homenagem pelo FlamengoGilvan de Souza
Técnica e raça marcaram a equipe na conquista do primeiro título da Libertadores
Sem dúvidas, as duas maiores conquistas da carreira de Lico foram a Copa Libertadores, vencida sobre o Cobreloa, do Chile, e o Mundial, contra o Liverpool, onde a equipe carioca "colocou os ingleses na roda".
"Eu sinto o futebol hoje muito frio. A Libertadores antigamente era muito importante, existia mais gana para ganhar, era complicado. Tinha pedrada, torcida jogando objeto, eram guerras. Quando eu disputei pelo Flamengo, sentimos isso no segundo jogo contra o Cobreloa. Passamos por uma série de dificuldades. Tomamos pontapé, soco, fomos para o vestiário amedrontados por tudo que acontecia no Chile. No terceiro jogo, nós mudamos o jeito de encarar e precisávamos guerrear juntos. A técnica ia sobressair. Deu certo, fomos campeões. A emoção da conquista foi grande", relembra o ex-jogador
O regulamento da competição daquela época era diferente. Na decisão da Libertadores de 1981 foram realizados três jogos. O primeiro aconteceu no Maracanã e terminou com vitória do Mengão por 2 a 1 (os dois gols foram de Zico). O segundo foi no Estádio Nacional, em Santiago, e os chilenos levaram a melhor: 1 a 0. Como os dois jogos terminaram empatados, sendo uma vitória para cada lado, o terceiro e decisivo foi realizado no Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai, onde o Flamengo venceu por 2 a 0 (novamente com dois gols de Zico) e conquistou pela primeira vez a competição continental.
"O Flamengo tinha um time muito maduro. Sabia conduzir o jogo nos momentos difíceis. Foi assim naquele jogo e também contra o Grêmio no Brasileiro de 1982, que vencemos por 1 a 0, com gol de Nunes. Às vezes, só a técnica não era o bastante. Tínhamos que chegar juntos. A técnica aliada à experiência dos nossos jogadores deixavam o Flamengo com toda essa qualidade."
Ex-ponta fala do Peñarol e da temporada do Fla
Em 1982, Lico esteve em campo duas vezes contra o Peñarol no triangular semifinal da Libertadores. River Plate completou o trio. "Perdemos por 1 a 0 no Maracanã. Amassamos nos 90 minutos e eles fizeram um gol de falta", recorda. Um mês antes, o resultado havia sido de vitória simples para o Peñarol no Uruguai.
"Eles eram muito aguerridos. Não sei se ainda estão assim, porque o futebol sul-americano caiu em qualidade técnica. O Flamengo tem um time tecnicamente muito bom, com jogadores qualificados, mas não podemos prever nada. A situação parece estar boa e, de repente, o treinador faz uma mexida e desarruma tudo. A gente não entende o motivo de trocar quando as coisas estão dando certo. Mexer pra quê?", questiona. Ele também analisa o resto do ano do Fla.
"Mesmo faltando quase todo o segundo turno, acredito que o Brasileirão fique entre Botafogo e Palmeiras. Já a Libertadores é sempre difícil de saber o que pode acontecer. A Copa do Brasil eu acho que o Flamengo conquista. Passou pelo Bahia em uma situação difícil. Acredito que o Flamengo caminha bem nesta competição."
Geração de nível mundial
A cereja do bolo daquela equipe de 1981 foi a conquista do Mundial no Japão, com uma vitória convincente sobre o Liverpool por 3 a 0. Lico fala dos motivos que levaram o grupo ao sucesso.
"Foi um time, em sua grande maioria, de jogadores formados ali na Gávea, todos se conheciam muito bem, chegou um ou outro, e todos se propunham a querer vencer. O Zico, como líder, passava muito isso de estar ali para ganhar tudo. 'A carreira é curta e para ficar na história teríamos que ser vencedores', ele dizia", frisa. "Fizemos 3 a 0 e eu falo que foi a melhor partida da história do Flamengo, pois não cometemos erros", completa.
Além do título, o ex-jogador guarda uma lembrança muito especial daquele dia em solo japonês: uma foto segurando o troféu com Adílio.
"É uma das fotos mais lindas que tenho. O Adílio representou muito por ser uma pessoa querida, além de ser um craque, ídolo. Eu o tenho como o jogador mais habilidoso que já vi jogar futebol. Tivemos jogadores habilidosíssimos, mas o Adílio, mesmo com um espaço pequeno, sambava em cima da bola para poder tirar o adversário.
Bressan comemora o gol feito sobre o Madureira em 2015Gilvan de Souza
Bressan já defendeu o Flamengo e o Peñarol
Zagueiro é um dos poucos jogadores da história a atuar pelos dois clubes
Ao longo dos quase 130 anos de história do Flamengo e dos 134 do Peñarol, poucos jogadores tiveram a oportunidade de vestir as camisas dos dois clubes. Um deles foi o zagueiro Matheus Bressan. O defensor atuou no time carioca durante sete meses, na temporada de 2015. No ano seguinte, foi para a equipe uruguaia. Hoje, aos 31 anos e defendendo o OFI Crete F.C., da Grécia, o atleta analisa o confronto das quartas de final.
Mesmo de longe, o zagueiro revela que continua assistindo ao futebol sul-americano. "Acompanho bastante a Libertadores e o Campeonato Brasileiro, principalmente as equipes em que atuei", conta. Sobre o confronto entre o Rubro-Negro e o Aurinegro, Bressan imagina partidas muito disputadas.
"Vai ser um duelo difícil, equilibrado, apesar da força do Flamengo, que chegou longe nos últimos anos e foi campeão duas vezes. Do outro lado, o Peñarol é Rei de Copas também, é multicampeão. É um clube que está tentando voltar ao grande centro", diz, lembrando que os torcedores uruguaios valorizam muito a competição. "Tenho certeza de que eles estão tratando esse duelo com o jogo do século", completa Bressan.
"É um jogo que pode ser decidido no detalhe. O Peñarol, com a força que tem jogando dentro de casa, vai ter que fazer uma boa partida no Rio para estar vivo no duelo de volta", finaliza.
Campeão
De volta ao Brasil após jogar no Peñarol, Bressan foi campeão da Libertadores 2017 com o Grêmio, sendo titular na decisão contra o Lanús, da Argentina. "Eu tive a oportunidade de ser campeão pelo Grêmio. É uma competição muito difícil, o ambiente é diferente dependendo de onde vai jogar. A parte mental nesse tipo de jogo é muito importante", afirma.
Passagem curta, mas com momentos inesquecíveis
Nove anos após vestir o manto rubro-negro, o jogador fala dos momentos vividos no Rio com orgulho. "Avalio a minha passagem pelo Flamengo como positiva", inicia. "Eu tinha 22 anos na época. O Vanderlei Luxemburgo tinha sido meu treinador no Grêmio e me fez o convite para eu jogar no Flamengo. Eu aceitei. Foi algo muito positivo para mim. Profissionalmente, cresci muito também. O Flamengo me ajudou a chegar na Seleção Sub-23, a participar do Pan-Americano", lembra. Bressan também conta que tinha atuado pelo Grêmio no Brasileirão e não havia recebido o chamado da Seleção. Com poucos jogos no time do Rio, acabou sendo convocado. "Foi uma passagem que me ajudou a crescer."
Na equipe da Gávea, Bressan disputou 19 partidas e marcou um gol, contra o Madureira, no Carioca. "Guardo com muito carinho essa passagem. Pude viver a experiência de jogar com o Maracanã lotado em clássico contra o Vasco, onde minha família estava lá. O carinho e a atmosfera da torcida são diferentes. É uma torcida apaixonada. Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa história e acompanho o clube até hoje."
Outro momento que guarda como boa recordação foi a recepção do time que foi para o nordeste jogar pela Copa do Brasil. "Acredito que tinha três mil pessoas de moto esperando a gente, e eles foram seguindo o ônibus até o hotel. O Flamengo tem uma força muito grande no Brasil e uma representatividade gigante."
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