Fio Maravilha autografando uma bandeira fo FlamengoDivulgação Flamengo
Publicado 10/11/2024 08:00 | Atualizado 11/11/2024 10:22
Personagem icônico do Flamengo e dono de um carisma ímpar, o ex-atacante João Batista de Sales, ou simplesmente Fio Maravilha, concedeu entrevista exclusiva ao Contra-Ataque o Dia, onde relembrou do período em que vestiu o manto e falou da decisão de deste domingo. Direto dos Estados Unidos, onde mora há mais de 40 anos, o mineiro de Conselheiro Pena disse acreditar no título da Copa do Brasil, mas que não será uma partida fácil.
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"Melhor seria se o Flamengo tivesse ganhado de 3 a 0, deixaria realmente o adversário desanimado. Daí saiu aquele gol e deu um ânimo para eles. É um jogo arriscado. Eles vão jogar em casa, estão se dando bem também na Libertadores, dando sorte… Se o Flamengo tivesse segurado os 3 a 0, poderia dizer que estava ganho. Acredito que vai ser campeão, mas com sufoco. Será daqueles jogos que é melhor nem tentar imaginar", projeta Fio.
Sonho de infância
Acostumado a sacudir a torcida com suas jogadas celestiais, Fio atuou pelo Rubro-Negro em 289 partidas e marcou 79 gols. No entanto, o início no time da Gávea não foi fácil. O ex-atacante recorda da primeira vez que jogou no Maracanã.
"Tudo começou com meu irmão Germano. Eu só sonhava e levava o futebol na brincadeira. Jogar no Flamengo não era para qualquer um. Ele se saiu bem e eu tive uma oportunidade. Ao chegar no Rio, parecia que estava sonhando", inicia, contando sobre a estreia no Maracanã.
"No meu primeiro jogo pela categoria aspirante, eu estava dentro de campo parado olhando a partida acontecer. Parecia que eu estava em outro mundo. Estava acostumado a ouvir sobre o Maracanã e eu estava ali, impressionado. O treinador do time profissional foi ao vestiário e perguntou o que estava acontecendo. Ele me apoiou. Eu voltei para o segundo tempo bem, dei passe, fiz gol e deslanchei. Aí eu gostei e acostumei."
Acostumado com o calor da torcida nas décadas de 1960 e 1970, Fio deixou uma mensagem de agradecimento à nação. "Obrigado pelo carinho e um grande abraço. A torcida sempre foi carinhosa comigo. Às vezes me vaiavam um pouco, mas aplaudiam depois", brinca, dizendo que não gosta de ir ao Maracanã devido à grande saudade que sente.
Fio Maravilha com o manto rubro-negro no Maracanã - Reprodução
Fio Maravilha com o manto rubro-negro no MaracanãReprodução
Estadual, Gabi e atualidade
Fio foi campeão do Cariocão em duas oportunidades: 1965 e 1972. "Era uma disputa muito intensa. Além dos quatro grandes, tinha Madureira, Campo Grande, Bangu, São Cristóvão e outros clubes que brigavam bem. Não era fácil. Parece que hoje a competição não é levada a sério. Antigamente era o principal campeonato", lembra o ex-atacante, que tinha como características a velocidade e a raça.
"Eu gostava daquela maneira de jogar, de ser criativo. Quando pegava mal na bola, fazia feio, mas quando acertava, fazia bonito." Foi em um desses belos lances que ficou eternizado na música de Jorge Ben Jor.
Acompanhando de longe, Fio Maravilha analisa o momento de Gabigol. "Ele teve a fase dele. Quanto tempo ele ficou sem marcar um gol com a bola rolando. É bem verdade que ajudou bastante no último jogo. Espero que domingo possa repetir, mas não acredito que vá longe. Não só ele, mas também o Bruno Henrique. Acho que passou o tempo deles. Mas vamos ver, vamos torcer para eu estar enganado", diz.
Ele também lembra de outra dupla que o fazia feliz. "Gostava de ver o Arrascaeta e o Everton Ribeiro juntos. Eles não esperavam a bola chegar para pensar. Era bonito de assistir", revela, alfinetando a metodologia praticada atualmente.
"No meu tempo não tinha essa história de poupar. Onde já se viu um trabalhador pedir para ser poupado, é a profissão dele. Eu não concordo com isso. E digo mais: se os jogadores estão correndo mais hoje em dia, deve ser porque pensam pouco."
Muro do Estádio Municipal de Conselheiro Pena, em Minas, coma uma pintura em homenagem ao ex-atacante DivulgaçãoPrefeitura de Conselheiro Pena
Férias no Brasil e homenagens
Após a saída do Flamengo, em 1973, Fio foi para o Desportiva Ferroviária, de Cariacica, no Espírito Santo. Passou também pelo Paysandu, CEUB, Bangu e São Cristóvão antes de ir jogar nos Estados Unidos. No futebol norte-americano atuou no New York Eagles, de Nova Iorque, e Monte Belo Panthers e San Francisco Mercury, ambos na Califórnia, onde mora. Ele conta que vem para o Brasil com alguma frequência. Na última vez, no meio deste ano, passou quatro meses aqui.
"Fiquei a maior parte do tempo em Minas Gerais, fizeram um estádio com o meu nome na minha cidade natal. Passei alguns dias no Rio, mas confesso que fiquei com um pouco de medo. Até brinquei: 'antigamente eu conseguia correr se acontecesse alguma coisa, agora não consigo mais'. Fui ao museu do Flamengo, na Gávea, e achei bonito. Fiquei encantado. Também fui homenageado no Espírito Santo", conta.
"Legal também o reconhecimento. Sempre que as pessoas me reconhecem é motivo de festa, quem não gosta de ser reconhecido", completa. O Estádio Municipal de Conselheiro Pena recebeu pinturas com o rosto do ex-jogador, que hoje tem 79 anos.
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