Publicado 11/09/2023 08:00 | Atualizado 13/09/2023 11:10
Maior esperança de alegria numa temporada repleta de fracassos, a final da Copa do Brasil já rendeu uma nova decepção aos rubro-negros excluídos do primeiro jogo da decisão, domingo, contra o São Paulo, no Maracanã. Se o Flamengo é o clube mais amado do Brasil porque "se deixa amar à vontade", como dizia Mário Filho, assistir à partida no estádio que leva o nome do jornalista será privilégio de quem pode e está disposto a pagar caro. Com o ingresso entre R$ 400 e R$ 4.500 para o público geral (R$ 100 e R$2.287,50 para sócios, de acordo com o plano), torcedores que estiveram presentes em toda a campanha terão que se contentar em acompanhar pela televisão.
André Rezende, de 42 anos, que esteve no Maracanã em todos os jogos do Mais Querido na Copa do Brasil, quase sempre na companhia da filha Marya Eduarda, de 9, é um dos que vai perder justamente a cereja do bolo. Embora seja sócio-torcedor, o desconto não é suficiente para que o gerente de uma agência de automóveis mantenha a rotina, para tristeza da pequena rubro-negra.
"Estou muito indignado porque não vou poder curtir a final no Maracanã, indo a todos os jogos. Tenho como provar isso, tenho sócio-torcedor, os tickets, do ingresso. Tenho uma filha de 9 anos que ama ir ao Maracanã. Ela é fanática pelo Flamengo. Está chateadíssima. Estamos sendo impedidos de ir", desabafa André, que direciona as críticas, em sua maioria, aos dirigentes do clube.
"É uma covardia o que essa diretoria está fazendo com o torcedor. Não acho justo cobrar R$ 400 em um ingresso. Acho um absurdo, não tem cabimento. O Flamengo é um clube do povo, sempre foi. Já curti Geral a R$ 2, R$ 3", completa.
Uma torcida organizada, presente em todas as partidas do clube desde o ano passado, também vai deixar de comparecer ao Templo do Futebol no primeiro jogo da decisão. O setor Sul, onde a Fla Nova Geração costuma estender sua faixa, tem bilhetes vendidos a R$ 700 para o público geral, e por isso a associação optou por promover uma festa para assistir ao jogo na Praça Maracanã, em frente à Uerj, com telão de led, roda de samba, bateria e bandeiras.
O valor dos ingressos é justamente o que afasta o grupo da decisão. Embora boa parte seja formada por sócios, os preços continuam altos: de R$ 175 a R$ 350 para o setor Sul. Para ter direito ao desconto, ainda é necessário pagar mensalidade que pode custar de R$ 44,70 a R$ 325,40 para uma pessoa. Fundador da organizada, o microempresário Dário Loureiro, de 30 anos, revela o sentimento de exclusão.
"A gente está presente em todos os jogos. Neste específico, não estaremos. O ingresso está praticamente metade do salário mínimo. Fase ruim, fase boa, a gente está lá. Estamos apoiando. No momento de triunfar, apoiar o Flamengo em uma final de Copa do Brasil, não vamos estar presentes", lamentou.
Na mesma linha de André, Dário critica a diretoria pelos valores praticados para a final e pelo tratamento com os próprios torcedores.
Na mesma linha de André, Dário critica a diretoria pelos valores praticados para a final e pelo tratamento com os próprios torcedores.
"Acho que essa diretoria deveria aprender que o maior patrimônio do clube é a torcida. Nós vivemos o Flamengo grande parte dos nossos dias e de nossas vidas, e acho que a diretoria deveria entender que nem tudo é dinheiro", reforçou o torcedor.
Prova de que o valor foi um impeditivo para a ida de muitos rubro-negros ao estádio é que, mesmo após a abertura das vendas para o público geral, na última quarta-feira, era possível comprar ingressos para a maioria dos setores. Geralmente, os sócios-torcedores compram quase toda a carga com antecedência.
Também na última quarta, o Procon do Rio notificou o Flamengo após receber denúncias de torcedores e pediu que o clube apresentasse justificativas para o valor cobrado pelos ingressos para a decisão. No entanto, a autarquia ressaltou que "só poderá interferir, excepcionalmente, no caso de conduta abusiva do fornecedor diante de uma necessidade premente do consumidor, ou de um produto que possua a característica de essencialidade, como ocorreu nos casos de aumento injustificado nos preços do álcool gel e das máscaras durante a pandemia".
Também na última quarta, o Procon do Rio notificou o Flamengo após receber denúncias de torcedores e pediu que o clube apresentasse justificativas para o valor cobrado pelos ingressos para a decisão. No entanto, a autarquia ressaltou que "só poderá interferir, excepcionalmente, no caso de conduta abusiva do fornecedor diante de uma necessidade premente do consumidor, ou de um produto que possua a característica de essencialidade, como ocorreu nos casos de aumento injustificado nos preços do álcool gel e das máscaras durante a pandemia".
Pegos no pulo
Após o anúncio dos valores dos ingressos, rubro-negros resgataram declarações antigas de dirigentes que contrastam com os preços praticados para a final. O presidente Rodolfo Landim, por exemplo, criticou a elitização da torcida na arquibancada antes de ser eleito pela primeira vez, em 2018, quando o clube era administrado por Eduardo Bandeira de Mello.
"Você não pode elitizar o Flamengo, de jeito nenhum. É fato que a política de venda de ingresso durante um tempo foi voltada para pagar contas, mas agora podemos fazer diferente", disse o atual mandatário.
Já Marcos Braz, vice-presidente de futebol, foi o mais cobrado nas redes sociais pelo silêncio antes da final. Em publicações no Twitter até 2018, ele era defensor ferrenho de bilhetes a preços populares, utilizando frases como "ingresso caro é um absurdo com a torcida do Flamengo!".
Já Marcos Braz, vice-presidente de futebol, foi o mais cobrado nas redes sociais pelo silêncio antes da final. Em publicações no Twitter até 2018, ele era defensor ferrenho de bilhetes a preços populares, utilizando frases como "ingresso caro é um absurdo com a torcida do Flamengo!".
Diretor de Relações Externas, Cacau Cotta também foi criticado por torcedores que encontraram seus tweets antes da final da Copa do Brasil de 2017, contra o Cruzeiro. "Flamengo não tem superávits? Por que punir o torcedor numa final", escreveu à época. Na ocasião, o menor valor de inteira para a decisão custava R$ 240.
Vai ter volta
Indignados com o valor dos ingressos para a torcida visitante (R$ 700 a inteira e R$ 350 a meia-entrada), dirigentes do São Paulo trataram de retribuir o inconveniente no duelo de volta, dia 24, e quem vai pagar, literalmente, é a Nação Rubro-Negra. O preço será o mesmo para a torcida do Fla no Morumbi.
Para os são-paulinos, o valor também é salgado, mas ainda assim bem abaixo do que será cobrado no Maraca: de R$ 200 a R$ 1.500 para o público em geral. Já os sócios têm desconto que podem fazer a entrada mais barata custar de apenas 30 centavos no plano Diamante.
Preços dispararam
Preços dispararam
Até mesmo em relação à final da Copa do Brasil do ano passado, contra o Corinthians, os valores parecem exorbitantes. Para o setor Norte, tradicionalmente o mais barato nos jogos do Flamengo, o preço teve aumento de 42,8% para o público em geral: passou de R$ 280 para R$ 400. Já o menor valor possível para os sócios (plano Diamante) subiu de R$ 70 para R$ 100. Ainda havia a diferença de que a partida disputada no Maracanã foi a de volta.
A diferença fica ainda mais exorbitante se comparada a 19 anos atrás, quando o Rubro-Negro disputou a final da Copa do Brasil de 2004 e foi derrotado por 2 a 0 para o Santo André. Naquela ocasião, o ingresso mais barato era o da extinta Geral, que custava apenas R$ 5.
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