Publicado 23/11/2025 07:31
A mesma bandeira, o mesmo trajeto e o mesmo sonho de conquistar a Glória Eterna. Desde que o Flamengo confirmou a classificação para a final da Libertadores, Renê Souza, de 65 anos, não teve dúvidas: assim como em 2019, botaria o pé na estrada para assistir à decisão no Estádio Monumental de Lima, no Peru, palco da vitória por 2 a 1 sobre o River Plate e da partida do próximo sábado (29), contra o Palmeiras, às 18h (de Brasília). Bastou conseguir o ingresso para sair de Rio das Ostras (RJ) e iniciar a jornada de mais de 6.000km rumo à capital peruana.
PublicidadeAposentado, Seu Renê viaja sozinho - mas não solitário - e sem pressa. Pai de dois filhos já adultos, que dão o maior incentivo, ele saiu do Rio de Janeiro no dia 10 e pretende chegar a Lima no dia 25, aproveitando para visitar amigos espalhados pelo Brasil ao longo do caminho. Além, claro, de fazer paradas para assistir aos jogos do Mais Querido. Ao todo, serão sete estados percorridos: Rio, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, tanto na ida quanto na volta. A chegada ao Peru está projetada para hoje, e a dúvida é sobre como terminar o trajeto.
"Atravessando Assis Brasil (na fronteira do Acre com o Peru), ali vou decidir o que eu faço. Se vou de ônibus, de avião... Acredito que vou pegar um voozinho em Puerto Maldonado, que é mais tranquilo", conta Renê, que em 2019 foi de carro até Lima, mas, desta vez, tem receio por causa da crise política no país vizinho. Ainda assim, prefere a viagem no volante: "o lance do carro não é só o preço, é a gente aproveitar a vida".
Na comparação com 2019, a vida na estrada ficou até mais prazerosa, já que o aposentado trocou o carro de passeio pelo conforto de uma caminhonete. Mas, mesmo com as limitações, nunca faltou disposição. No ano do bi, inclusive, Renê iria com um grupo de amigos para Lima, mas viu todos desistirem de última hora. Isso não o impediu de realizar o sonho de ver o Rubro-Negro ser campeão no estádio, o que só foi possível por causa da mudança de sede de última hora - por causa de uma crise política, a final foi retirada de Santiago, no Chile.
"No Chile, estava difícil de conseguir ingresso porque o estádio era menor. Aí teve aquele problema político e jogaram pra Lima. Ali, eu pensei: 'é minha oportunidade de ver a final da Libertadores'. Fui ver Flamengo e Bahia, no Maracanã, e botei as malas no carro. Uns amigos falaram que iam. Na hora, todo mundo desistiu. Falei assim: 'bom, eu nasci sozinho. Vamos nessa!'. Aí, eu peguei estrada. E cheguei! Lima, Cusco, Ica... (cidades turísticas peruanas). Rodei tudo lá", revela Renê.
Desta vez, assim que Lima foi confirmada novamente como sede, o rubro-negro teve certeza de que repetiria a aventura. Com antecedência de meses, reservou hotel. Só faltava o Flamengo fazer a parte dele. Deu tudo certo. Falta somente voltar como primeiro brasileiro tetracampeão da Libertadores. O roteiro dos sonhos já está pronto.
"Estou sonhando com vitória por 2 a 0, com pênalti aos 42 minutos do segundo tempo a favor do Flamengo. Adivinha quem comete o pênalti... aquele que entregou o ouro anos atrás", projeta Renê, que também foi de carro a Montevidéu, no Uruguai, para a final da Libertadores de 2021, vencida pelo Palmeiras por 2 a 1 após falha crucial de Andreas Pereira, hoje jogador do Alviverde.
Aventura em família
Já Eliel Nogueira, de 50 anos, empresário, tem a companhia da esposa, Renilda Sales, 42, e da filha, Evillyn Sales, 15, no trajeto de Manaus até Lima, que está sendo feito de carro. No entanto, nem todo o caminho será por terra. No início da viagem, o trio precisou pegar uma balsa da capital amazonense ao município de Careiro da Várzea, no mesmo estado, antes de seguir na estrada. A travessia dura cerca de uma hora, passando pelos rios Negro e Solimões, seguida por cerca de 600km em uma estrada de barro - a distância total é superior a 3.500 km.
A beleza da paisagem na região Norte do país se une ao vermelho e preto da bandeira estendida no teto do carro. A paixão pelo Flamengo já levou pai, mãe e filha a duas finais de Libertadores (2019 e 2021). Só em 2022 (Guayaquil-EUA) que Eliel precisou ir sozinho. Quando o assunto é jogo importante do Mengão, eles sempre fazem de tudo para comparecer, seja de avião, de ônibus ou de carro.
Em 2019, a gente foi para o Acre de avião, de carro do Acre até Puerto Maldonado (PER) e pegamos um voo de Puerto Maldonado a Lima. Na de Montevidéu (2021), saímos do Rio. A gente foi de ônibus com a torcida, 'perrengão' danado. Em Guayaquil, eu fui só. E de avião, porque sair de carro pra lá é mais complicado", conta Eliel.
No caminho de ida pra Lima, a família de paraenses, que mora em Manaus, ainda passará por Rondônia e Acre antes de cruzar a fronteira. O trajeto não é novidade pra eles, que costumam voltar por lá de viagens por outros países. Nesta Libertadores, por exemplo, estiveram em Quito para assistir ao empate em 0 a 0 com a LDU, pela fase de grupos, mas foram por outra rota, cortando Venezuela e Colômbia antes de chegar ao Equador.
Assim como em Renê, eles projetam chegada em Lima na próxima terça (25), com uma longa parada em Cusco para passear. Depois, a única preocupação será ver o Flamengo erguer o troféu." Acredito que será 3 a 1 Flamengo. Sem emoção, não é Flamengo", projeta o empresário.
Maior viagem de ônibus do mundo
Há também quem vá se aventurar na linha de ônibus mais longa do mundo - reconhecida pelo Guinness Book - para ver o Flamengo em campo. Um busão da rota Rio de Janeiro-Lima, operada pela empresa TransAcreana, sai hoje da Rodoviária do Rio, às 13h, e terá rubro-negros a caminho da final da Libertadores. Um deles é Thalisson Neves, de 20 anos, morador de Paracambi, na Baixada Fluminense. Figurinha carimbada no Maracanã, o jovem vai sair do estado do Rio para um jogo do Mengão pela primeira vez e, mesmo assim, se mostra disposto a encarar os pelo menos cinco dias na estrada.
O coletivo vai percorrer mais de 6.000km, com paradas em São Paulo, Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), e tem previsão de chegada a Lima na próxima sexta (28), véspera da final. Pode ser até que o desembarque aconteça poucas horas antes da partida. A volta está marcada para o dia seguinte à decisão (30), às 15h (de Brasília). O que alguns veem como perrengue, para Thalisson, é motivo de empolgação.
"Está difícil de dormir. Não estou conseguindo dormir direito tem uns 10 dias. Na verdade, desde que comprei o ingresso, dia 8. Dali pra frente, não estou conseguindo dormir legal. Fico pensando: 'como vai ser essa viagem?'. Eu já sou ansioso, e isso piorou. Está difícil, mas entendo que dormir é um método pra fazer com que os dias passem mais rápido e fique mais perto da viagem", revela.
Pra financiar a viagem, contando as passagens de ida e volta (R$ 2.600), custos de alimentação, hospedagem e ingresso, Thalisson contou com a ajuda de muitos. A aventura só será possível graças a uma rifa virtual, que levantou dinheiro suficiente para realizar o sonho.
"Comecei a vender na rua, vender para parentes, para tentar arrecadar pelo menos o valor do ônibus. No início, achei que não ia dar, porque o valor era muito alto. Era o único jeito, porque eu não tinha condição de pagar uma passagem de avião. Graças a Deus, está tudo muito bem encaminhado. Já consegui o ingresso, o ônibus, e agora estou só na expectativa da viagem", relata.
Sobre a final, o rubro-negro é mais um que está otimista, apesar de reconhecer a qualidade do adversário.
"Entendo que vai ser um jogo difícil, até pela qualidade dos jogadores do Palmeiras. Eles eram uma pedra no nosso sapato, mas, nos últimos anos, não têm sido. Sem tirar a qualidade dos jogadores deles, mas acho que será uns 2 a 1 ou 3 a 1 pro Flamengo, com uma vacilada do Andreas Pereira, porque ele está devendo para a gente", espera Thalisson, que já prometeu fazer uma tatuagem em caso de título: "já separei o modelo e falei com o tatuador".
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