Mário Bittencourt disputa a reeleição contra os candidatos Rafael Rolim (à esquerda) e Marcelo Souto (à direita)Divulgação
Publicado 25/11/2022 17:25 | Atualizado 26/11/2022 20:02
Rio - O Fluminense realizará neste sábado (26), na sede das Laranjeiras, a eleição presidencial para definir o mandatário para o triênio entre 2023 e 2025. O atual presidente Mário Bittencourt, da chapa "Com Amor e Com Vigor", concorre contra dois candidatos da oposição: Marcelo Souto, do "Herdeiros de Oscar Cox", e Rafael Rolim, do "Meu Coração Acelera". Os três candidatos conversaram com O DIA e contaram seus projetos para o futuro tricolor.
Mário Bittencourt, de 44 anos, é advogado e o atual presidente do Fluminense desde 2019. Mário tem uma longa relação com o clube, onde começou como estagiário do departamento jurídico há 20 anos. Ele foi advogado do Tricolor nas gestões de David Fischel, Roberto Horcades e Peter Siemsen, além de gerente de futebol com Horcades e vice de futebol com Peter.
Do lado da oposição, Marcelo Souto, de 36 anos, é o candidato mais novo na disputa ao pleito. Ele foi pré-candidato em 2019, além de ter sido conselheiro na gestão de Pedro Abad. Já Rafael Rolim, de 43, nunca foi conselheiro ou teve cargo no clube. Mas fez parte da chapa de Ricardo Tenório em 2019, onde seria o vice-presidente jurídico. Ele é Subprocurador-Geral do Estado do Rio de Janeiro.
Confira abaixo a entrevista do O DIA com os candidatos:
SAF (Sociedade Anônima do Futebol)
Mário Bittencourt: "O Fluminense participou, desde o início, das discussões para a criação da lei da Sociedade Anônima do Futebol, em Brasília. Portanto, é algo que conhecemos bem. É um caminho que tem seus pontos positivos e alguns efeitos que ainda precisam ser entendidos. Todas as consequências. Hoje vemos grandes clubes que se tornaram SAF enfrentando problemas. Por isso fomos buscar o apoio do BTG para nos assessorar nesse processo de busca de um investidor. Se será SAF, e que modelo de SAF será, dependerá dessa análise. Caso o modelo da SAF for o mais adequado ao clube, será implementado."
Marcelo Souto: "Entendemos que a SAF é um dos caminhos para solucionar a questão financeira do clube, assim como levar a uma profissionalização da gestão. Em 2019, quando a lei da SAF sequer estava aprovada, fui o único candidato que procurei Pedro Trengrouse, pois gostaria que ele conduzisse essa discussão e um debate para migrarmos para clube-empresa. Historicamente eu não poderia pensar de maneira diferente. Eu sou favorável. Acredito que o sucesso de um clube passa pela gestão empresarial e por boas práticas de governança. Acredito em uma mudança significativa tanto na gestão e governança, como também na captação de recursos para o clube. Iremos colocar a previsibilidade no Estatuto do Clube. Nossa chapa estudou e tem profissionais que se dedicaram ao tema."
Rafael Rolim: "Sou a favor da entrada de investidores estratégicos no Fluminense. Hoje o instrumento legal que confere segurança jurídica ao mercado é a SAF. Sempre digo que a SAF não é a solução mágica para o mundo do futebol, mas representa um instrumento legal que permite a entrada de dinheiro novo no clube, sem contar o fim do amadorismo que impera no modelo associativo. Temos conversas adiantadas com investidores para fazermos a ruptura do modelo associativo, que tanto atrasa o nosso crescimento."
Dívidas
MB: "Recuperar o clube financeiramente sempre foi um dos principais objetivos da nossa gestão. Foi assim que conseguimos pagar mais de R$ 290 milhões em dívidas e estancar a sangria. O Fluminense vinha sofrendo com penhoras e bloqueios das contas, e isso dificulta muito a administração do clube. Tivemos avanços importantes nesses três anos e meio, que nos permitiram respirar e equacionar a dívida, que hoje está estabilizada em torno de R$ 740 milhões em função dos altos juros e correção monetário. O RCE (Regime Centralizado de Execuções) foi uma dessas grandes conquistas, que nos ajuda a honrar nossos compromissos sem o medo das penhoras. O próximo passo é encontrar um investidor para derrubar a dívida. É muito importante que a gente continue esse trabalho de recuperação financeira e mantenha o bom desempenho esportivo."
MS: "O Fluminense, assim como 99% dos clubes brasileiros, possuem uma dívida altíssima que não se paga num curto espaço de tempo, mas que tem que ser controlada para não aumentar e adequá-la a um controle de fluxo de caixa, para pagarmos gradativamente, até porque temos juros em cima dessas dívidas. O RCE, que foi uma ação acertada da atual diretoria, coloca essa dívida dentro de uma previsão orçamentária, dentro de um fluxo de caixa. Outro passo importante foram as CNDs. Temos que seguir honrando esses pagamentos e dar a devida transparência, que hoje não existe. O principal é ter o cuidado de não materializar num colapso econômico financeiro pela falta de fluxo de caixa, pois o clube segue com poucas receitas novas. Temos que ter profissionalismo, pleno e institucional, e estabelecer um modelo de gestão profissional, pautados por princípios de ética, transparência e integridade. O clube irá adotar um modelo de governança que se destacará por uma gestão responsável das finanças do clube, que passará a dimensionar seus gastos às suas expectativas de receita, priorizando a liquidação de dívidas existentes e especialmente em assumir compromissos que poderiam ser saudados. Precisamos de equilíbrio. Não adianta pagar dívidas e termos um time fraco, e não adianta termos um time forte e a dívida explodir. Temos que ter um perfil de equilíbrio."
RR: "Esse é o grande desafio que o modelo associativo atual não consegue enfrentar. Com uma dívida próxima de 1 bilhão de reais, o clube acaba pagando obrigações e, ainda assim, vê a sua dívida geral aumentar. Defendo a ruptura do modelo associativo com a entrada de investidores, por meio da SAF, permitindo o tratamento da dívida, a blindagem de Xerém e um futebol forte."
Reforma das Laranjeiras
MB: "Vamos conseguir realizar o sonho da torcida com um projeto viável e realista, através de lei de incentivo. O projeto já foi aprovado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac). Não vamos criar a ilusão de uma obra grandiosa, mas a realidade é que, com a revitalização, o Fluminense poderá voltar a receber jogos do time profissional em Laranjeiras, dentro de todos os limites legais e de segurança. Serão jogos de menor apelo, do Campeonato Carioca. Mas o projeto não se resume a isso. A restauração vai nos possibilitar sediar shows e eventos diversos, transformando Laranjeiras em mais uma fonte de renda para o clube."
MS: "Temos certeza que a nossa chapa tem as melhores condições para tratar desse assunto. Temos integrantes do grupo Laranjeiras XXI, inclusive o nosso candidato a vice-presidente geral, que é o Sergio Poggi. Queremos desenvolver completamente a proposta, que não trata apenas do estádio, mas também da nossa sede histórica, sendo este conjunto protegido por leis de tombamento, e com a previsão de construção de um prédio anexo, na esquina das ruas Álvaro Chaves e Pinheiro Machado, que vai valorizar o patrimônio do clube e abrigar diversas atividades que vão ajudar a trazer novas receitas para o clube. Transformaremos Laranjeiras em um polo turístico e gastronômico, além da volta do nosso alçapão. Temos a previsão de obter boa parte dos recursos com Leis de Incentivo ao Patrimônio Histórico, mas também atraindo parceiros, investidores e, logicamente, a participação dos torcedores."
RR: "O Estádio Presidente Manoel Schwartz (Laranjeiras) é um patrimônio nacional. Representa, antes de mais nada, a cultura do nosso clube. É fundamental a sua recuperação, até mesmo para a preservação da nossa identidade. O ideal é realizarmos essa recuperação com dinheiro incentivado e, de preferência, com projetos já existentes."
Futebol Feminino
MB: "Nosso primeiro desafio foi proporcionar dignidade ao Futebol Feminino do Fluminense. O primeiro passo foi levar todo departamento para treinar em Xerém, oferecendo às meninas toda a estrutura que nossa base masculina possui. Conseguimos captar, através do departamento comercial, patrocínios exclusivos para a modalidade. Assim, aumentamos o investimento e melhoramos a performance esportiva. Nos últimos anos, conquistamos os primeiros títulos do Futebol Feminino do clube, incluindo o Brasileirão Sub-17, em 2021. Agora, nosso projeto é ampliar a visibilidade, com cada vez mais jogos transmitidos pela FluTV, para buscarmos novos investimentos visando a profissionalização da modalidade."
MS: "O futebol feminino vem ganhando destaque no Brasil e no mundo nos últimos anos. Precisamos driblar a falta de oportunidades e o preconceito, objetivando profissionalizar e dar sustentabilidade orgânica a essa atividade. Existe ainda os desafios pela falta de investimentos, patrocínio, visibilidade e consumo do produto por parte dos stakeholders (parte interessada). Vamos buscar melhorar o produto e dar mais visibilidade a modalidade através de ações de marketing. Iremos estruturar uma divisão de base para o futebol feminino, com corpo técnico específico e programa de seleção de novos talentos, assegurando as condições necessárias para os desenvolvimentos das atividades, além da construção do alojamento para a equipe no Vale das Laranjeiras. Nosso planejamento estratégico prevê a captação de recursos via investidores, parceiros e linhas de crédito do Ministério do Esporte, da Educação e do BNDES, além da busca por parcerias e convênios com universidades para suporte profissional."
RR: "O futebol feminino vai crescer muito nos próximos anos e temos que planejar a modalidade sempre pensando em títulos. O grande desafio é a profissionalização da modalidade e a busca do equilíbrio econômico financeiro na sua operação, o que se pode fazer por meio de projetos incentivados. Precisamos focar também na vinda do público feminino ao estádio."
Xerém
MB: "Avançamos muito em Xerém nos últimos anos, com inúmeras melhorias que vão desde o campo principal, que recebeu a chancela da CBF para jogos oficiais, até outras obras importantes. Construímos o centro de recuperação de jogadores e o primeiro consultório odontológico aberto nas instalações do clube, além de novas salas admirativas e um espaço de jogos eletrônicos. Agora, queremos construir um prédio novo para abrigar toda a área de musculação, fisiologia e a parte técnica do futebol de base, que passaria a ficar ao lado do campo. Isso nos permitirá ampliar a parte de hotelaria para abrigarmos e revelarmos ainda mais jogadores. O projeto já está pronto e nossa ideia é melhorar ainda mais a estrutura de Xerém, pois entendemos que nossa base é um grande alicerce do Fluminense."
MS: "Vamos entrar pesado em Xerém. É inegável o avanço e o reconhecimento do trabalho em nossas divisões de base. Nos últimos anos, temos uma fonte inesgotável de bons atletas. Inúmeros atletas que compõem o time principal anualmente são de Xerém. E vem de Xerém a entrada de recursos financeiros através das vendas dos direitos econômicos. Precisamos melhorar a formação, estrutura, equipamentos, processos e protocolos internos. Tornar a gestão das categorias de base como parte da macrogestão do Fluminense. Formar equipes vencedores, ratificando a excelência do trabalho em títulos nacionais e internacionais, e convocações na seleção de base. Estancar perdas, melhorar o retorno esportivo e aumentar o retorno financeiro. Xerém é o passado, o presente e o futuro do Fluminense."
RR: "Na próxima década, teremos um investimento altíssimo no futebol de base brasileiro. Todos os clubes que recebem aportes de investidores, certamente investirão na formação de atletas e nos centros de formação. Não podemos ficar pra trás. A entrada de investidores será fundamental para investirmos pesado em Xerém, em infraestrutura e metodologia."
Esportes Olímpicos
MB: "Conquistamos recentemente uma vitória muito importante para o clube, que foi a emissão de duas certidões negativas de débito (CNDs), referentes aos débitos FGTS e aos tributos federais e à dívida ativa da União. Isso abre caminho para a estruturação da área de captação de projetos através de leis de incentivos, com o objetivo de tornar nossos Esportes Olímpicos autossustentáveis. O Fluminense é um clube com uma história riquíssima em diversas modalidades. Com essas verbas incentivadas, poderemos seguir crescendo cada vez mais."
MS: "Ao longo dos últimos anos chamei a atenção para atividades deficitárias. Lutei pela suspensão para acabar com essa sangria. Nenhum outro candidato nos últimos anos elevou tanto o tom quanto eu. Nos últimos seis anos, o prejuízo total ultrapassou R$ 60 milhões. A possibilidade de captar projetos incentivados passa pela vitória do clube na obtenção das CNDs divulgado há algumas semanas. É mérito da atual diretoria e melhora a situação para captação de recursos incentivados, além de acabar com prejuízos que são na faixa de R$ 15 milhões anuais, segundo os balanços, balancetes e DRES. Dentro do nosso time de executivos existe um profissional acordado conosco que há alguns anos está no COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e que possui know how (conhecimento de normas, métodos e procedimentos em atividades profissionais) referente à captação de verbas incentivadas. Ele será peça fundamental junto com o Sérgio Quiroga para conseguir incentivos, patrocínios e a autossustentabilidade, ou tornar uma unidade superavitária."
RR: "Os esportes olímpicos sofrem com os cortes no orçamento. Existem dificuldades na aquisição de equipamentos e perdemos vários atletas de destaque para outros clubes. Com a separação do futebol, por meio de uma futura SAF, será possível assegurar investimentos próprios para as modalidades olímpicas. É bom para o futebol e para o esportes olímpicos."
Sócio Futebol
MB: "Iniciamos a gestão com cerca de 11 mil sócios e hoje já são mais de 63 mil. Fizemos uma reformulação completa no Sócio Futebol, que teve início a partir de pesquisas que ouviram a opinião de mais de 12 mil torcedores. Esse entendimento da necessidade da torcida nos levou a um programa com diversos benefícios, como programa de fidelidade, produtos, experiências exclusivas, além de planos populares e familiares. Nossa arrecadação mensal com o programa saltou de cerca de R$ 300 mil para quase R$ 3 milhões. Daqui para frente, projetamos ampliar o programa, com plano internacional, mais benefícios e itens exclusivos para sócios de fora do Rio e a criação de um aplicativo integrando todos os serviços aos sócios e torcedores. Será muito importante o nosso projeto de Embaixadas, que vai dar suporte aos sócios de todo o Brasil."
MS: "A torcida do Fluminense deu um show e fez o próprio trabalho de marketing na campanha "É Pelo Flu". Fez mais que o próprio departamento do clube. Nós, torcedores, seguramos a onda e explodimos o número de sócios. O objetivo número um do plano de sócios e aumentar a conexão entre clube e torcida. Entendemos que a torcida é aqueles que frequentam e aqueles que não frequentam. O plano de sócios vem melhorando, mas segue pecando nos torcedores fora do Rio, e seguindo a receita de que o principal atrativo são os ingressos. Acreditamos que podemos mais, e trabalhamos com o número de 100 mil sócios. O foco será em parceiros regionais e o mercado digital. Com aumento do fomento das redes sociais, precisaremos de um novo garoto propaganda, novos ídolos para gerar consumo. Temos que potencializar jogadores como Cano e André, que a nossa torcida gosta, e atrelar à imagem deles. Precisamos trabalhar melhor com a torcida que não consome o carro-chefe do atual programa, que é o benefício do ingresso. Existem muito mais tricolores fora do que dentro dos estádios. Vamos trabalhar nisso, aprimorando o programa "Tricolor em Toda Terra", com eventos com ex-jogadores, quando possível atletas atuais do masculino ou feminino, em cidades importantes fora do Rio de Janeiro. Revista e produtos digitais, repaginação do aplicativo do Fluminense, com software de voto online para outras participações fora o voto, e da Flu TV."
RR: "Temos um número crescente de sócios torcedores, mas não temos a informação sobre grau de inadimplência e o que o clube faz para preservar a sua arrecadação. O que devemos fazer é identificar nossos torcedores, segmentá-los e compreender as suas reais necessidades. É fundamental uma política de busca ativa dos torcedores em todas as faixas de renda, aumentando a taxa de ocupação do Maracanã."
Por que merece ser o presidente do Fluminense no próximo triênio?
MB: "Costumo dizer que herdamos um clube na UTI. Eram mais de quatro meses de salários atrasados e diversos problemas graves, com um risco enorme de rebaixamento. Estancamos a sangria com medidas baseadas no trinômio credibilidade, estabilidade e austeridade. Assim conseguimos recuperar o Fluminense. Devolvemos protagonismo ao clube, que voltou à primeira prateleira do futebol brasileiro. Agora, já podemos sonhar mais alto, pois temos um projeto sólido. A Libertadores é, sim, uma meta que nós temos. Mas não é só isso. Nosso foco será fortalecer cada vez mais o futebol para conquistar títulos importantes enquanto seguimos arrumando a casa, reduzindo drasticamente a dívida."
MS: "Acredito que tenho muito para contribuir. O Fluminense é um amor, uma paixão. Depois da minha família, é aquilo que mais me emociona e mais me motiva. Eu entrei há mais de 10 anos no quadro societário do clube para tentar ajudar. Eu vejo uma oportunidade de poder utilizar muito daquilo que eu aprendi ao longo da minha vida. Dentro e fora do clube, dedicando o meu tempo, e tudo o que nós pensamos ao longo desses últimos anos para transformar o presente e construir um Fluminense ainda melhor."
RR: "Porque a nossa candidatura traz uma proposta de solução definitiva para a dívida praticamente bilionária do clube, rompendo o ciclo vicioso de vendas prematuras dos atletas da base por preço abaixo de mercado. Não faz sentido vender duas grandes promessas por ano, sem que o clube ganhe grandes títulos, somente para pagar a folha de futebol daquele ano. O desafio é enorme. Lutamos contra um sistema que tem o receio da mudança, o que é compreensível. Com muita comunicação e transparência, vamos promover as mudanças que o Fluminense tanto precisa."
*Com a colaboração do estagiário Leonardo Bessa, sob supervisão de Rodrigo Souza
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