Publicado 06/08/2024 01:49
Quem caminha pela Rua Içá, no bairro Belo Horizonte, em Japeri, consegue ver, sob o chão de terra batida, canos de água e de esgoto improvisados pelos moradores. O resultado do “jeitinho” dado para conseguir sobreviver em uma região sem saneamento básico levou Cristina Oliveira, de 44 anos, e sua filha, de nove, a consumirem água contaminada. A criança passou semanas internada por conta de uma disenteria bacteriana. Para driblar as doenças, a mãe fez um novo improviso: começou a armazenar água de chuva. Não resolveu. O problema só chegou ao fim neste ano, quando a Águas do Rio implantou 15 quilômetros de tubulações de água e interligou as casas do bairro dela e de Santa Amélia e Engenheiro Pedreira.
Publicidade“Já faz cinco anos que minha filha ficou doente por conta de uma bactéria e até hoje não está 100% curada. Temos que acompanhar os exames de sangue para ver as taxas. Agora que tenho rede de água, estou mais tranquila e vou juntar um dinheirinho para colocar uma pia na cozinha”, afirma a dona de casa, uma das 1,5 mil pessoas beneficiadas pela obra.
Os problemas de saúde da família da Cristina infelizmente são comuns em um país que ainda tem 93 milhões de brasileiros sem acesso à coleta de esgoto e quase 32 milhões de pessoas sem água tratada. Antes da chegada das obras em Japeri, a história dela fazia parte de uma triste estatística brasileira que aponta que, só em 2022, o SUS registrou cerca de 191 mil internações por doenças de veiculação hídrica, aquelas com ligação direta com a falta de saneamento básico.
E são as crianças as mais afetadas pela falta de acesso à água e esgoto tratados, uma vez que os pequenos têm o hábito de colocar as mãos e objetos na boca e de andarem descalças. De acordo com o clínico geral e ginecologista Pedro Cunha, a água contaminada com esgoto é um dos principais motivos causadores de doenças digestivas, respiratórias e ginecológicas em crianças e meninas de todas as idades. “Do ponto de vista clínico, as crianças, por terem os sistemas neurológico, imunológico e digestivo em desenvolvimento, são mais suscetíveis que os adultos e com mais possibilidade de terem sequelas para a vida, o que torna as doenças mais graves e com mais riscos de morte”, explica.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada real investido em saneamento básico, os governos economizam nove reais em saúde.
“Quando fazemos o esforço de universalizar o saneamento básico, estamos levando saúde para a população. Para tornar isso realidade, vamos investir R$ 7,1 bilhões em melhorias e ampliação dos serviços de água e esgoto na Baixada Fluminense nos próximos anos, em um ritmo acelerado para que possamos atingir a meta do Marco Legal do Saneamento de levar esse direito básico para todos até 2033”, afirma o diretor Institucional da concessionária, Sinval Andrade.
Saneamento básico segue avançando na Baixada Fluminense
Só na Baixada Fluminense, em quase três anos de operação, a Águas do Rio implantou 367 km de rede, o que beneficiou 1,7 milhões de pessoas. Dessas, 133 mil receberam água tratada pela primeira vez.
Além de redes de abastecimento, os municípios de Japeri, Queimados e parte de Nova Iguaçu terão esgotamento sanitário, o que inclui, além de redes de coleta, uma Estação de Tratamento já em construção, que vai tratar o esgoto dessas cidades que hoje deságua no Rio Guandu. O manancial tem sofrido por décadas com a poluição e o descarte irregular de lixo e esgoto. Com a conclusão das obras, cerca de 51 milhões de litros de esgoto deixarão de ser lançados diariamente nesse ecossistema, que terá uma água com melhor qualidade para ser tratada e distribuída para 9 milhões de pessoas.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.