Publicado 30/08/2022 16:41 | Atualizado 30/08/2022 16:41
Maricá - A Biofábrica e o programa Lagoa Viva, ambos com sede em São José do Imbassaí, completam neste mês um ano de criação. No período em que a técnica está sendo utilizada, foi possível observar o aumento de 200% das espécies da fauna e flora da Lagoa de Araçatiba, conectada aos rios Mumbuca e Ludgero, os canais Buris e Itapeba e os cursos d’água margeados pelas orlas do Marine e do Zé Garoto.
Estudos acadêmicos dos anos de 1950 mostravam a existência de 12 espécies da macrofauna bentônica na região. Depois desse período, o número de espécies caiu drasticamente, chegando a ter apenas quatro em meados de 2010. Com a aplicação dos bioinsumos, nos últimos 12 meses, os resultados são animadores: o monitoramento mensal feito pela Universidade Federal Fluminense (UFF) já aponta aumento de quatro para 12 espécies habitando o ecossistema lagunar. Número que só foi possível observar entre as décadas de 1930 e 1960, segundo estudos da mesma universidade. Os pesquisadores dizem que a tendência é melhorar.
“O Lagoa Viva mostrou um vigor enorme, trabalhando com tecnologia de ponta e formação acadêmica de alto nível internacional. Os resultados práticos não poderiam ser diferentes. Em um curto prazo, mas sem milagres, conseguimos atingir os objetivos almejados para essa etapa, já atendendo às necessidades da região. E não vai parar por aqui. O projeto faz parte do nosso eixo de desenvolvimento sustentável e segurança alimentar, em convênio com universidades, e a ideia é que possamos, com os resultados obtidos em Maricá, exportar e vender a tecnologia para outras cidades, em todo o país”, comemora Olavo Noleto, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar).
O produto utilizado no Lagoa Viva, o bioinsumo, surgiu da busca da equipe de pesquisadores por tecnologias financeiramente sustentáveis, de fácil aplicação e que funcionariam de forma plena no Brasil, tendo como matéria prima elementos encontrados no próprio país.
“Descobrimos, no Oriente, a técnica japonesa chamada ‘microrganismos eficazes’, que nada mais é do que o balanceamento do meio ambiente por si só. Nós costumamos falar, inclusive, que nosso processo não é de despoluição e sim de revitalização. Com essa nova técnica, entramos em contato com vários municípios e Maricá abriu as portas para nossa equipe. Nossas ideias foram abraçadas com muita confiança e sou grato por isso”, lembra Estefan Monteiro, professor da UFF e coordenador do Lagoa Viva.
A engenheira ambiental da Biofábrica, Danniela Scott, explica que a equipe recebe os insumos inativos e faz a ativação nos tanques. “Podemos adicionar melaço ou açúcar para ativá-los. Colocamos o microrganismo de acordo com a instrução do fabricante ou de acordo com nossa pesquisa. Entre cinco e dez dias, pegamos a amostra, levamos para o laboratório, fazemos a contagem de unidade de formadora de colônia e vemos se o produto está apto a ser aplicado”, explica.
Melhoria da qualidade das águas atrai banhistas
Os bioinsumos ajudam no processo de revitalização e melhoria da qualidade das águas de Maricá, ou qualquer outro ambiente em que haja alta concentração de matéria orgânica. A revitalização tem, inclusive, atraído banhistas e praticantes de esportes, como canoagem, Stand Up Paddle (SUP) e caiaque. Danniela Scott diz que os bioinsumos podem ser aplicados de duas maneiras: de forma sólida ou líquida. No primeiro caso, o bioinsumo é ativado em argila, formando pequenos tijolinhos, que são chamados de biotijolos – para aplicar nos fundos dos aquíferos. O tratamento é realizado do fundo até o espelho d’água.
“Em alguns canais, a gente pode aplicar só o líquido ou só o sólido, mas na maioria dos canais, em Maricá, a gente aplica os dois. Assim, a gente vai trabalhando, uma vez por semana, aplicando esse produto, para que ocorra a melhora da fauna e flora dos corpos hídricos”, esclarece a engenheira ambiental da Biofábrica.
A Biofábrica
O espaço é responsável pela produção de bioinsumos (microorganismos vivos), fruto de parceria da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) com a Universidade Federal Fluminense (UFF).
Lagoa de Araçatiba
Com área de 18,74 quilômetros quadrados, a Lagoa de Araçatiba é interligada com as Lagoas da Barra, Padre, Araçatiba e Guarapina, esta última ligando o complexo lacustre de Maricá ao oceano, na altura de Ponta Negra.
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