Protestos vêm se espalhando desde que militares tomaram o poder e prenderam a cúpula do governoReprodução Internet
Por AFP
Publicado 28/02/2021 12:15 | Atualizado 28/02/2021 13:19
Mianmar - Oito manifestantes morreram e neste domingo em Mianmar em ações das forças de segurança, que dispersaram de maneira violenta vários atos e realizaram centenas de detenções, no dia mais violento dos protestos contra o golpe de Estado militar.
O país é cenário de uma onda de manifestações pró-democracia e de uma campanha de desobediência civil desde o golpe de Estado militar que derrubou o governo civil liderado por Aung San Suu Kyi no dia 1º de fevereiro.

Os protestos são reprimidos de forma cada vez mais violenta, com gás lacrimogêneo, jatos de água, balas de borracha e, em alguns casos, munição letal.

A ONU condenou a repressão em Mianmar e afirmou que recebeu informações confiáveis de que pelo menos 18 pessoas morreram nas manifestações. A AFP não conseguiu confirmar o balanço com fontes independentes.

"Condenamos com força a escalada da violência contra manifestantes em Mianmar e pedimos aos militares o fim imediato do uso da força contra manifestantes pacíficos", afirmou Ravina Shamdasani, porta-voz da Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, em um comunicado.

Neste domingo, três homens morreram em uma manifestação na cidade de Dawei, sul do país, onde 20 pessoas também foram feridas, de acordo com as equipes de emergência e a imprensa local.

As vítimas morreram depois que foram "atingidas por tiros de munição letal", disse à AFP Pyae Zaw Hein, um socorrista voluntário. Os feridos receberam impactos de balas de borracha, explicou, antes de alertar para a possibilidade de "mais vítimas porque continuamos recebendo feridos".

Outros dois jovens de 18 anos morreram na cidade de Bago, segundo as equipes de emergência. Os óbitos foram confirmados pela imprensa da localidade, que fica ao norte de Yangon.

Uma sexta pessoa faleceu em Yangon, informou no Facebook um ex-deputado do governo civil derrubado pelos militares, Nyi Nyi. A vítima era um jovem de 23 anos atingido por tiros.

Em Mandalay, um médico informou à AFP que dois homens morreram depois que foram feridos a tiros.

O comandante da junta militar, general Min Aung Hlaing, afirmou que as autoridades usaram o mínimo de força para dispersar as manifestações.

Mas com as oito vítimas fatais de domingo, o balanço de manifestantes mortos desde 1º de fevereiro subiu para 13. O exército afirma que um policial morreu quando tentava dispersar um protesto.

Detenções
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"A clara escalada do uso de força letal em várias cidades do país é escandalosa e inaceitável, e deve parar imediatamente", afirmou Phil Robertson, subdiretor da divisão Ásia na ONG Human Rights Watch.

Em Yangon, as forças de segurança dispersaram rapidamente um protesto neste domingo.

"A polícia começou a atirar assim que chegamos. Não anunciaram mensagens de advertência", declarou à AFP Amy Kyaw, uma professora de 29 anos.

Centenas de pessoas foram detidas na capital econômica do país, segundo a polícia, e levadas para a prisão de Insein.

As forças de segurança também atuaram contra a imprensa. Em Myityina (norte), um jornalista foi agredido e detido. Outro foi atingido por balas de borracha em uma cidade do centro do país. No sábado, três jornalistas foram detidos, incluindo um fotógrafo da agência americana Associated Press.

A polícia também prendeu socorristas que auxiliavam manifestantes feridos, segundo a HRW.

Mais de 850 pessoas foram detidas, acusadas ou condenadas, por participação nas manifestações, segundo a ONG de ajuda aos presos políticos AAPP.

Mas o ritmo de detenções aumentou nos últimos dias, e somente no sábado o número chegou a 479.

Condenação internacional
Nos últimos dias, Estados Unidos e União Europeia denunciaram a violência das forças de segurança e afirmaram que a junta militar deve deixar o poder.

"Temos o coração partido após a perda de tantas vidas humanas", tuitou neste domingo a embaixada dos Estados Unidos em Mianmar. "Apontar contra civis é algo horroroso".

Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde que foi detida.

Ela está em prisão domiciliar em Naypyidaw, a capital do país, acusada de ter importado walkie-talkies de maneira ilegal e de ter violado as restrições impostas pela pandemia de covid-19. Na segunda-feira ela vai comparecer a uma audiência para responder sobre estas acusações.

No sábado, a junta militar destituiu o embaixador do país na ONU, Kyaw Moe Tun, que, um dia antes, havia defendido o "fim do golpe militar" e solicitado "a ação enérgica da comunidade internacional para terminar com a opressão da população inocente e devolver o poder ao povo".

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