Publicado 18/08/2021 08:56
Dois episódios marcaram nesta terça-feira, 17, o segundo dia de domínio completo do Talibã no Afeganistão. Primeiro, a ofensiva internacional de relações públicas do grupo, tentando passar uma imagem de moderação e pedindo que a vida volte ao normal. Segundo, as pessoas, principalmente as mulheres, não acreditando nas promessas dos extremistas e tentando escapar desesperadamente do país.
Membros do Talibã dizem que ainda é cedo para saber como será o próximo governo afegão. Mas o esforço para passar uma imagem de moderação marca uma diferença com relação ao primeiro regime extremista, entre 1996 e 2001. Ontem, líderes do grupo passaram o dia no Twitter, apareceram em redes de TV a cabo e deram uma coletiva para negar retaliações e oferecer garantias às mulheres "Dê-nos tempo", pediu Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, em coletiva, em Cabul.
Mujahid adotou um tom conciliador, repetindo as garantias de que o Talibã não planejavam vingança contra aqueles que se opuseram ao grupo, mesmo os afegãos que colaboraram com os americanos e seus aliados da Otan. Sem dar detalhes, eles disse que "negociações" estão em curso para definir como será o novo governo.
"Asseguramos que não haverá violência contra as mulheres. Nenhum preconceito contra elas será permitido. Os valores islâmicos são a nossa estrutura", disse o porta-voz. A linguagem vaga, no entanto, não ajudou a diminuir o pânico. As mulheres, segundo Mujahid, serão "ativas" na sociedade. "Elas terão permissão para trabalhar e estudar, mas sempre dentro dos limites da lei islâmica."
Em outra estratégia surpreendente, Suhail Shaheen, também porta-voz do grupo, telefonou para a apresentadora Yalda Hakim, da BBC, durante a apresentação do telejornal da emissora. Ela atendeu à ligação e os dois conversaram por alguns minutos. "Não queremos confusão. Garantimos ao povo do Afeganistão que suas propriedades e suas vidas estão seguras", disse Shaheen.
As promessas, no entanto, não convenceram a maioria dos afegãos, que continuam a fugir do país. No imaginário popular, o Talibã ficou conhecido por operar com brutalidade e há sinais de que o grupo não mudou. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse ter recebido relatos "assustadores" de violações dos direitos humanos. "Estou particularmente preocupado com mulheres e meninas", disse.
Em partes do país, as mulheres já foram orientadas a não sair de casa sem a companhia de um homem e as escolas para meninas foram fechadas. Por precaução, as vendas de burcas dispararam. O dono de uma loja de roupa contou à CNN que os homens estão comprando as peças por garantia, para as mulheres, filhas e idosas, porque a burca passou a ser considerada o melhor salvo-conduto para que elas caminhem com segurança nas ruas.
Pessoas que fugiram para Cabul antes da queda do governo afegão relataram que, no interior do Afeganistão, o Talibã já começou a aterrorizar as mulheres com ameaças de casamentos forçados, sequestro e violência física. Na Província de Takhar, garotas que voltavam para casa em um riquixá motorizado foram detidas e teriam sido chicoteadas por usarem "sandálias reveladoras".
Muitas afegãs ainda guardam na memória o tempo em que a educação era proibida para meninas e as mulheres eram excluídas da vida pública. Em 2001, após a invasão americana, havia apenas 900 mil alunos no país, e nenhum era menina. Duas décadas depois, são 9,5 milhões de estudantes - 39% garotas.
Nos 20 anos de ocupação, meninas e mulheres se juntaram às forças militares e policiais, ocuparam cargos políticos, competiram na Olimpíada e integraram equipes de robótica - o que era inimaginável sob o Talibã. Além disso, os EUA investiram US$ 780 milhões para promover os direitos das mulheres. Agora, muitas temem que a experiência ocidental de duas décadas esteja próxima do fim.
Em outra estratégia surpreendente, Suhail Shaheen, também porta-voz do grupo, telefonou para a apresentadora Yalda Hakim, da BBC, durante a apresentação do telejornal da emissora. Ela atendeu à ligação e os dois conversaram por alguns minutos. "Não queremos confusão. Garantimos ao povo do Afeganistão que suas propriedades e suas vidas estão seguras", disse Shaheen.
As promessas, no entanto, não convenceram a maioria dos afegãos, que continuam a fugir do país. No imaginário popular, o Talibã ficou conhecido por operar com brutalidade e há sinais de que o grupo não mudou. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse ter recebido relatos "assustadores" de violações dos direitos humanos. "Estou particularmente preocupado com mulheres e meninas", disse.
Em partes do país, as mulheres já foram orientadas a não sair de casa sem a companhia de um homem e as escolas para meninas foram fechadas. Por precaução, as vendas de burcas dispararam. O dono de uma loja de roupa contou à CNN que os homens estão comprando as peças por garantia, para as mulheres, filhas e idosas, porque a burca passou a ser considerada o melhor salvo-conduto para que elas caminhem com segurança nas ruas.
Pessoas que fugiram para Cabul antes da queda do governo afegão relataram que, no interior do Afeganistão, o Talibã já começou a aterrorizar as mulheres com ameaças de casamentos forçados, sequestro e violência física. Na Província de Takhar, garotas que voltavam para casa em um riquixá motorizado foram detidas e teriam sido chicoteadas por usarem "sandálias reveladoras".
Muitas afegãs ainda guardam na memória o tempo em que a educação era proibida para meninas e as mulheres eram excluídas da vida pública. Em 2001, após a invasão americana, havia apenas 900 mil alunos no país, e nenhum era menina. Duas décadas depois, são 9,5 milhões de estudantes - 39% garotas.
Nos 20 anos de ocupação, meninas e mulheres se juntaram às forças militares e policiais, ocuparam cargos políticos, competiram na Olimpíada e integraram equipes de robótica - o que era inimaginável sob o Talibã. Além disso, os EUA investiram US$ 780 milhões para promover os direitos das mulheres. Agora, muitas temem que a experiência ocidental de duas décadas esteja próxima do fim.
"O Emirado Islâmico do Afeganistão não quer que as mulheres sejam vítimas. Elas deveriam estar na estrutura governamental", afirmou Enamullah Samangani, membro da comissão cultural do Taleban. "Mas de acordo com a lei islâmica."
Presidente é enforcado
Quando entrou pela primeira vez em Cabul, em 27 de setembro de 1996, o Talibã mostrou que conduzirá uma vingança contra seus inimigos. Se agora o grupo emitiu um comunicado para dizer que "todos estavam perdoados", em 1996, enforcou um ex-presidente e seu irmão em um poste diante de centenas de moradores da capital
O ex-presidente pró-soviéticos Mohamed Najibullah (que governou de 1987 a 1992) e seu irmão Shahpur Ahmedzi, ex-chefe do Serviço de Segurança Nacional, estavam asilados em um escritório da ONU em Cabul. Sob o comando de um Conselho de Estado formado rapidamente pelo Talibã, os combatentes invadiram o local, arrastaram os dois amarrados em caminhonetes e os enforcaram.
"Najibullah era um assassino sanguinário, que já havia sido condenado pelo povo afegão", disse na época o mulá Mohamed Omar, que chefiava o grupo. O então presidente afegão, Burhanuddin Rabbani, havia deixado Cabul horas antes e se abrigara na base de Bagram. Na capital, a milícia instituiu a sharia (lei islâmica) e impôs uma série de restrições às mulheres.
s informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Presidente é enforcado
Quando entrou pela primeira vez em Cabul, em 27 de setembro de 1996, o Talibã mostrou que conduzirá uma vingança contra seus inimigos. Se agora o grupo emitiu um comunicado para dizer que "todos estavam perdoados", em 1996, enforcou um ex-presidente e seu irmão em um poste diante de centenas de moradores da capital
O ex-presidente pró-soviéticos Mohamed Najibullah (que governou de 1987 a 1992) e seu irmão Shahpur Ahmedzi, ex-chefe do Serviço de Segurança Nacional, estavam asilados em um escritório da ONU em Cabul. Sob o comando de um Conselho de Estado formado rapidamente pelo Talibã, os combatentes invadiram o local, arrastaram os dois amarrados em caminhonetes e os enforcaram.
"Najibullah era um assassino sanguinário, que já havia sido condenado pelo povo afegão", disse na época o mulá Mohamed Omar, que chefiava o grupo. O então presidente afegão, Burhanuddin Rabbani, havia deixado Cabul horas antes e se abrigara na base de Bagram. Na capital, a milícia instituiu a sharia (lei islâmica) e impôs uma série de restrições às mulheres.
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