Prédio em Kharkiv é atingido por exército russo e fica destruídoAFP
Publicado 02/03/2022 08:39 | Atualizado 02/03/2022 13:12
Kiev - Tropas russas desembarcaram nesta quarta-feira em Kharkiv (leste), a segunda maior cidade da Ucrânia. Ao menos 25 pessoas morreram em bombardeios realizados no local, segundo a imprensa ucraniana. O Ministério da Defesa da Rússia ainda anunciou que tomou o controle de Kherson (sul), no sétimo dia da invasão ordenada por Vladimir Putin. No entanto, o prefeito Igor Kolykhayev afirmou que a cidade ainda está sob controle ucraniano. 

"Tropas aéreas russas desembarcaram em Kharkiv e atacaram um hospital", informou o exército ucraniano em um comunicado divulgado no Telegram. "Há um combate em curso entre os invasores e os ucranianos", acrescenta a nota.

A cidade do leste do país, de 1,4 milhão de habitantes, próxima da fronteira e com uma grande população de língua russa, foi alvo de bombardeios na terça-feira que deixaram vítimas civis, no que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky descreveu como "crimes de guerra".

"Praticamente não restam áreas em Kharkiv que não foram atingidas por projéteis de artilharia", afirmou um assessor do ministério do Interior, Anton Gerashchenko.
 
Tomada de Kherson

No sul, o exército russo reivindicou a tomada de Kherson, cidade de 290 mil habitantes na foz do rio Dnieper, no Mar Negro, que já estava cercada. Entretanto, o prefeito negou a informação. Segundo autoridades ucranianas, o conflito continua no local e o governo municipal segue em vigor. De acordo com a prefeitura, comida e remédios estão acabando e há registro de "muitos civis feridos", escreveu Gennady Laguta, chefe do escritório regional de segurança, no Telegram.
Caso a informação sobre a tomada de território seja confirmada, Kherson seria a maior cidade da Ucrânia a ser controlada pela Rússia desde que Putin iniciou a invasão militar na última quinta-feira. No primeiro dia, as tropas russas conseguiram entrar na cidade, mas foram retiradas depois.
Negociações
Nesta quarta-feira, 2, o governo russo afirmou que seus representantes estão prontos para uma segunda conversa para firmar negociações com a delegação da Ucrânia, mas que ainda não está claro se os ucranianos vão aparecer. Entretanto, um assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelansky, confirmou na TV Ucrânia-24 que as negociações devem acontecer, sem dar mais detalhes.
Segundo Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, há informações contraditórias sobre as negociações. Um dia antes, o presidente Volodymyr Zelensky afirmara que a Rússia precisava parar de bombardear cidades para haver diálogo. "Primeiro precisamos tentar prever se os negociadores ucranianos vão aparecer ou não, vamos torcer para que isso aconteça", disse.
De acordo com informações do G1, a nova rodada do diálogo acontecerá em Belovezhskaya Puscha, na Bielorrússia, com as mesmas delegações que participaram do primeiro encontro.
Sanções

A ofensiva, que desde o início há sete dias provocou centenas de vítimas civis, provocou uma onda de sanções contra a Rússia em todas as frentes - financeira, esportiva, cultural ou empresarial -, o que abalou a economia do país mas não provocou o recuo do presidente Vladimir Putin.

"Um ditador russo, que invade um país estrangeiro, tem custos para todo o mundo", afirmou o presidente americano Joe Biden em seu primeiro discurso sobre o Estado da União, que abordou o conflito na Ucrânia.

O presidente democrata afirmou que Putin errou ao subestimar a resposta do Ocidente a sua invasão e que agora "está mais isolado do que nunca esteve".

Também anunciou que proibirá aviões russos no espaço aéreo americano e a criação de uma unidade especial para investigar os oligarcas russos, que segundo ele "ficarão sem seus iates, apartamentos de luxo e aviões privados".

Apesar de sua crítica ao que chamou de agressão "premeditada e totalmente não provocada", Biden insistiu que não enviará tropas à Ucrânia.

Temor em Kiev
Na capital ucraniana, Kiev, um ataque na terça-feira atingiu a torre de televisão e deixou cinco mortos e cinco feridos. As autoridades locais temem uma grande ofensiva após a divulgação de imagens de satélites de um comboio russo de mais de 60 quilômetros comprimento ao norte da cidade.

O presidente Zelensky, acusou Moscou de querer "apagar" seu país e sua história.

"Eles têm a ordem de apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós", afirmou em um vídeo, no qual pediu aos países que não permaneçam neutros no conflito.

Também fez um apelo aos judeus do mundo para que "não permaneçam em silêncio", após o ataque russo de terça-feira contra a torre de televisão de Kiev, construída no local de um massacre do Holocausto.

"Estou falando agora aos judeus do mundo inteiro. Não veem o que está acontecendo? É por isto que é muito importante que os judeus do mundo inteiro não permaneçam em silêncio agora", afirmou Zelensky.

O presidente ucraniano reclamou que, durante a era soviética, as autoridades construíram a torre de televisão e um complexo esportivo em um "local especial da Europa, um lugar de oração e memória".

Na ravina de Babi Yar foram massacrados 30 mil judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

"O nazismo nasce do silêncio. Então saiam e gritem sobre os assassinatos de civis. Gritem sobre os assassinatos de ucranianos", afirmou Zelensky.

A imprensa ucraniana informou novas explosões durante a noite na capital e em Bila Tserkva, 80 km ao sul. Além disso, o serviço de emergências informou sobre um bombardeio em áreas residenciais de Yitomir (266 mil habitantes), ao oeste de Kiev, com dois mortos e três feridos.

No sul, além de reivindicar o controle de Kherson, o exército russo afirmou que na terça-feira conseguiu estabelecer contato entre as tropas que avançam da anexada península da Crimeia e as milícias dos separatistas pró-Rússia da região de Donbass, uma informação que não foi possível confirmar, mas que representaria uma conquista estratégica para suas forças.

No meio dos dois territórios resiste a cidade portuária de Mariupol, que ficou sem energia elétrica após bombardeios que, segundo o prefeito, deixaram mais de 100 feridos.

Para Kiev, um novo perigo se aproxima do norte, em Belarus, aliada de Moscou, que ordenou a mobilização de tropas adicionais na fronteira com a Ucrânia. Segundo o ministério da Defesa ucraniano, estas tropas poderia "respaldar no futuro os invasores russos".

A Ucrânia denunciou a Rússia na Corte Internacional de Justiça, que convocou audiências em 7 e 8 de março para estudar as alegações de Kiev de supostos crimes de guerra. De acordo com as autoridades ucranianas, mais de 350 civis morreram no conflito, incluindo 14 crianças.

Mais de 670 mil pessoas fugiram e um milhão de moradores viraram deslocados dentro da Ucrânia, segundo a ONU, que pediu a arrecadação de 1,7 bilhão de dólares de forma urgente por considerar que nos próximos meses 16 milhões de pessoas precisarão de ajuda na Ucrânia e nos países vizinhos.

Sanções de todo tipo
Submetida a vetos em eventos esportivos, boicotes e sanções de todo tipo, a Rússia defende sua ofensiva como um movimento para proteger a população dos territórios rebeldes pró-Moscou do leste da Ucrânia e derrubar o governo pró-Ocidente de Kiev.

União Europeia, Estados Unidos e países aliados adotaram um arsenal sem precedentes de medidas contra Moscou: fechamento do espaço aéreo a suas aeronaves, exclusão do sistema financeiro internacional Swift, congelamento de ativos, restrições comerciais, entre outras.

Devido às medidas, o principal banco russo, o Sberbank, anunciou a saída do mercado europeu e afirmou que suas filiais enfrentam "saídas irregulares de fundos e ameaças à segurança de seus funcionários e agências".

As sanções também afetam o mundo do esporte, a cultura e as empresas.

Entre as últimas empresas que anunciaram o afastamento do mercado russo estão a Apple, as petroleiras ExxonMobil e Eni e a gigante da aviação Boeing, que suspendeu os serviços de apoio às companhias aéreas russas.

Mas o presidente Zelensky pediu mais aos países ocidentais. Em uma ligação para Biden, ele destacou a necessidade de frear o mais rápido possível a invasão e voltou a pedir à União Europeia que aceite a adesão imediata da Ucrânia.

A crise provocou uma forte desvalorização do rublo e quedas das Bolsas russas, assim como a disparada dos preços do petróleo, com o barril de Brent e de WTI acima dos 110 dólares.
*Com informações da AFP
Leia mais