Irredutível, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não tem cedido à pressão internacional pelo fim do conflito na UcrâniaAFP
Publicado 03/03/2022 19:46
Moscou - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira (3) que a invasão da Ucrânia avança "como planejado", no oitavo dia de operações - marcado por um bombardeio que deixou 33 mortos e um acordo para a abertura de um "corredor humanitário" para evacuar civis.
Após a queda de Kherson (sul), a primeira grande cidade tomada pelos russos, Putin não demonstrou vontade de atender ao clamor global pelo fim da guerra, nem se mostrou afetado pelo arsenal de sanções ocidentais.
"A operação militar especial está ocorrendo dentro do cronograma, conforme planejado", disse o presidente na abertura de uma reunião do Conselho russo de Segurança, acrescentando que suas tropas estão lutando contra "neonazistas" e que "russos e ucranianos são um só povo".
Em uma conversa anterior com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, Putin prometeu continuar sua ofensiva "sem concessões". Após esse diálogo, Macron concluiu que "o pior ainda está por vir" no conflito na Ucrânia, informou a Presidência francesa.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu maior apoio das potências ocidentais, alertando que, se seu país for derrotado, a Rússia não hesitará em atacar os países bálticos e o resto da Europa. Em particular, pediu aos países ocidentais que "fechem o céu" ucraniano para os aviões russos ou entreguem aviões para a Ucrânia.
Até agora, os países ocidentais entregaram armas à Ucrânia, mas concentraram sua resposta em uma bateria de sanções para isolar a Rússia diplomática, econômica, cultural e esportivamente. O chefe dos serviços de inteligência russos (SVR) acusou os países ocidentais de buscar "destruir" a Rússia e de tentar "estabelecer um bloqueio econômico, informativo e humanitário" ao país.
A Rússia exige que a Ucrânia renuncie sua entrada na Otan e que a Aliança Transatlântica de Defesa se retire de suas fronteiras. A intervenção na Ucrânia disparou alarmes em outras ex-repúblicas soviéticas, como a Moldávia, que na quinta-feira oficializou sua candidatura à União Europeia (UE).
Ucrânia e Rússia concordaram em criar corredores humanitários para evacuar civis, sem conseguir definir um cessar-fogo, numa segunda ronda de conversações em Belarus. "A segunda rodada de negociações acabou. Infelizmente, a Ucrânia ainda não tem os resultados de que precisa. Há apenas decisões sobre a organização de corredores humanitários", disse o assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podolyak, no Twitter.
"Discutimos em detalhe os aspectos humanitários, pois muitas cidades estão atualmente cercadas" pelas forças russas e há uma "situação dramática de alimentos, remédios e possibilidades de evacuação", acrescentou.
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, assinalou que as conversas se concentraram em temas humanitários, militares e na "futura solução política do conflito". Um milhão de refugiados fugiram da Ucrânia para países vizinhos desde o início da invasão e milhões de outros ficaram deslocados internamente, informou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.
As tropas russas intensificaram nesta quinta-feira, após a captura de Kherson, seus bombardeios contra outros centros urbanos. Ao menos 33 pessoas morreram em um bombardeio contra áreas residenciais, inclusive escolas, de Chernigov (norte), informaram os serviços de emergência
Os serviços de emergência divulgaram também imagens da área, nas quais fumaça podia ser vista subindo dos apartamentos destruídos, com escombros espalhados por uma vasta zona e socorristas transportando corpos em macas.
Zelensky disse que a Rússia vai pagar por essas tragédias. "Vamos reconstruir cada edifício, cada rua, cada cidade, e dizemos à Rússia: aprendam a palavra 'reparação'", declarou.
Autoridades militares ucranianas alegaram que áreas residenciais na cidade oriental de Kharkov foram "bombardeadas a noite toda". A acusação da Corte Penal Internacional (CPI) informou na quarta-feira a abertura de uma investigação sobre supostos crimes de guerra cometidos por tropas russas na Ucrânia.
O assalto a Kiev parece paralisado neste momento. Segundo fontes do alto escalão do governo dos Estados Unidos, a imensa coluna de veículos militares que se dirigia rumo à capital está "parada" por falta de combustível e suprimentos.
As tropas que avançam da península da Crimeia - anexada por Moscou em 2014 - têm agora como alvo o porto de Mariupol. Os russos "querem impor um bloqueio como em Leningrado [atual São Petersburgo]", a cidade soviética cercada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, disse o prefeito Vadym Boichenko.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) exigiu que a Rússia "cesse imediatamente todas as ações" nas usinas nucleares da Ucrânia, incluindo Chernobyl, que foi cenário de uma catástrofe em 1986.
 
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