Funcionária interrompeu telejornal russo e pediu fim da guerra na UcrâniaReprodução de vídeo
Publicado 15/03/2022 15:23 | Atualizado 15/03/2022 20:13
Kiev - O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu a funcionária que invadiu um telejornal de uma TV russa para protestar contra a guerra na Ucrânia. Na noite de segunda-feira, Marina Ovsiannikova irrompeu o noticiário e ficou atrás da apresentadora com um cartaz que dizia: "Não à guerra, não acredite na propaganda. Aqui eles estão mentindo para você".
"Sou grato aos russos que não param de tentar transmitir a verdade… e pessoalmente à mulher que entrou no estúdio do Canal Um com um pôster contra a guerra", declarou Zelensky por meio de um pronunciamento em vídeo. Ele também manifestou gratidão aos russos que não têm medo de protestar: "Enquanto seu país não se fechar completamente do mundo inteiro, transformando-se em uma Coreia do Norte muito grande, você deve lutar. Você não deve perder sua chance".
Multa
Um tribunal de Moscou multou a funcionária nesta terça-feira, mas não a prendeu. Considerada culpada de cometer uma "ofensa administrativa", Ovsiannikova terá que pagar uma multa de 30 mil rublos (cerca de 250 euros ou 275 dólares em taxas de câmbio atuais), disse um jornalista da AFP presente na audiência. A mulher foi libertada, mas ainda enfrenta acusações criminais que podem levar a pesadas penas de prisão. 
Ovsiannikova foi julgada nesta terça-feira por ter se manifestado ilegalmente, de acordo com um tribunal de Moscou. A acusada poderia ter sido condenada a 10 dias de detenção. No julgamento, Ovsiannikova se declarou inocente.
"Não reconheço minha culpa", disse Ovsiannikova no tribunal, segundo um jornalista da AFP. "Continuo convencida de que a Rússia está cometendo um crime... e que é o invasor da Ucrânia", acrescentou.
Até o momento, não foi acusada pelo crime de publicação de "informações falsas" sobre o exército russo, que pode levar a 15 anos de prisão.
Mais cedo, seu advogado Daniil Berman chegou a considerar que sua cliente corria o risco de ser condenada no âmbito dessa nova lei. "Há uma boa chance de que as autoridades decidam dar o exemplo para que outros críticos se calem", afirmou o advogado.
No início de março, as autoridades russas aprovaram uma lei que pune a publicação de "informações caluniosas" sobre os militares russos com pena prevista de até 15 anos de prisão. Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamou o ato de "vandalismo".
Em um vídeo gravado antes de entrar no noticiário, Ovsiannikova explicou que seu pai é ucraniano, e sua mãe, russa, e que ela não suporta a disseminação de "mentiras" que transformam russos em "zumbis".
Desde então, sua conta no Facebook recebeu dezenas de milhares de mensagens de apoio. Hoje, um porta-voz do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, elogiou seu gesto. "Ela assumiu uma postura moral corajosa e ousou se opor às mentiras e propagandas do Kremlin ao vivo e na televisão controlada pelo Estado", disse Peter Stano.
Também nesta terça, o governo francês declarou estar disposto a oferecer "proteção consular" à jornalista russa, anunciou o presidente Emmanuel Macron, que pediu que a Rússia esclareça sua situação.

"Vamos iniciar medidas para oferecer proteção a ela, na embaixada, ou de asilo", disse Macron à imprensa, garantindo que vai propor isso a seu homólogo russo, Vladimir Putin, em sua próxima conversa por telefone.

Há semanas, o presidente francês vem tentando fazer uma mediação entre Putin e seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky: em um primeiro momento, para evitar o conflito; e agora, para pôr fim a esta guerra.

A menos de um mês da eleição presidencial na França, Macron declarou hoje que não descarta viajar para Moscou, ou Kiev, mas que ainda não há "condições" para fazer essas viagens "nos próximos dias".
*Com informações da AFP
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