Guerra na Ucrânia pode reduzir crescimento do comércio mundial pela metade, alerta a OMCDivulgação
Publicado 11/04/2022 16:53
Genebra, Suíça - A guerra na Ucrânia pode apagar metade do crescimento do comércio mundial esperado para 2022 e, no longo prazo, levar a uma "desintegração da economia mundial", alertou a Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta segunda-feira, 11.
A OMC deveria anunciar nesta terça-feira, 12, sua previsão anual para o comércio mundial de mercadorias, mas publicou uma análise inicial do impacto da crise na Ucrânia nesta segunda, mantendo a coletiva de imprensa para amanhã com sua diretora-geral, Ngozi Okonjo-Iweala.
Segundo este primeiro estudo, a crise deve reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial para um patamar entre 3,1% e 3,7% este ano, enquanto o do comércio mundial deve ficar entre 2,4% e 3%. Em outubro, a OMC esperava um aumento de 4,7%.
A guerra na Ucrânia não apenas criou uma crise humanitária de imensas proporções, mas também abalou severamente a economia mundial. Desde a invasão russa em 24 de fevereiro, toneladas de grãos permanecem bloqueados nos portos ucranianos como Mariupol, cidade bombardeada e sitiada pelo exército russo por sua posição estratégica.
De acordo com a análise realizada pelo Secretariado da OMC, "a maior parte do sofrimento e da destruição é sentida pelo povo da Ucrânia, mas os custos, em termos de comércio e produção reduzidos, provavelmente serão sentidos por pessoas de todo o mundo devido ao aumento dos preços dos alimentos e da energia, e a disponibilidade reduzida de bens exportados da Rússia e da Ucrânia".
Embora as participações da Rússia e da Ucrânia no total da produção e comércio mundiais sejam relativamente pequenas, ambos os países são importantes fornecedores de commodities essenciais, incluindo alimentos e energia.
Segundo a OMC, os dois países distribuíram em 2019 cerca de 25% do trigo mundial, 15% da cevada e 45% do óleo de girassol. A Rússia sozinha responde por 9,4% do comércio mundial de combustíveis, uma parcela que sobe para 20% em relação ao gás natural.
Moscou e Kiev também são "fornecedores-chave de insumos nas cadeias de valor industrial", diz a OMC em seu relatório. A Rússia é um dos principais fornecedores mundiais de paládio e ródio, usados na indústria automotiva, respondendo por 26% da demanda global de importação de paládio em 2019. Já a produção de semicondutores depende em grande medida do néon que é fornecido pela Ucrânia.
A Europa, principal destino das exportações russas e ucranianas, deve sofrer o maior impacto econômico, segundo a OMC. Mas a redução das exportações de cereais e outros alimentos fará subir os preços dos produtos agrícolas, com consequências negativas para a segurança alimentar das regiões mais pobres.
A África e o Oriente Médio são as regiões mais vulneráveis de acordo com a OMC, pois importam mais de 50% de suas necessidades de grãos da Ucrânia e da Rússia. Além disso, a entidade alerta: "Um dos riscos de longo prazo é que a guerra possa desencadear uma desintegração da economia global em blocos distintos", que seriam organizados de acordo com considerações geopolíticas.
Esse chamado cenário de "dissociação" seria "muito caro para a economia global, especialmente para as regiões menos desenvolvidas".
Globalmente, pode reduzir o PIB em cerca de 5% no longo prazo, afetando principalmente os países emergentes, segundo o relatório, que observa que a queda pode ser ainda maior.
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