Moradores de Cosme Velho e Laranjeiras, na Zona Sul, sofrem enorme cratera que foi aberta na Rua Cosme Velho, no bairro de mesmo nome, em frente à Praça São Judas Tadeu por conta do enorme derramamento na tubulação.Marcos Porto/Agência O Dia
Publicado 16/04/2022 16:40
As novas chuvas que caíram na manhã deste sábado (16) na África do Sul escureceram o céu e diminuíram as esperanças de progresso nos esforços de resgate após as trágicas inundações que deixaram quase 400 mortos e dezenas de desabrigados.

No total, há 398 mortos e 27 pessoas declaradas desaparecidas. A maior parte das vítimas das chuvas que começaram no fim de semana passado concentrou-se na região em torno de Durban, cidade portuária da província de KwaZulu-Natal (KZN), voltada para o Oceano Índico.

Após um breve respiro, "os danos continuam se acumulando coma chuva de hoje, que agrava a situação nas áreas afetadas", explicou à AFP Shawn Herbst, da empresa de primeiros socorros Netcare 911.

Puseletso Mofokeng, membro do Instituto Nacional de Meteorologia, explicou à AFP que "embora a chuva de hoje não seja tão forte como nos últimos dias, pois o solo já está saturado de água, pode haver muitas outras inundações".

As operações de resgate ainda estão ativas, disse um dos socorristas à AFP.

"Vamos nos concentrar em emergências médicas", explicou Garrith Jamieson, diretor das equipes.

Ainda há dezenas de pessoas desaparecidas. O exército mobilizou seus helicópteros e mais de 4.000 policiais estão no local. No entanto, no 6º dia desde o início da catástrofe, as esperanças de encontrar sobreviventes são escassas.

"Passamos da fase de emergência para a fase de recuperação focada na ajuda humanitária e no restabelecimento dos serviços", declarou à AFP Robert McKenzie, um dos socorristas.

As fortes chuvas arrastaram pedaços inteiras de estradas e várias infraestruturas desabaram. A operadora de transportes públicos tenta recuperar os eixos principais e a prioridade é reconstruir as pontes que deixaram isoladas algumas zonas da cidade de mais de 3,5 milhões de habitantes.

Os hospitais, saturados pelos atendimentos de emergência, foram danificados e ao menos 58 estabelecimentos de saúde foram "afetados gravamente pelas inundações", segundo o governo provincial.

Algo nunca visto
Quase 4.000 casas foram destruídas e mais de 13.500 pessoas ficaram desabrigadas.

As autoridades organizaram abrigos de emergência, mas faltam lugares e há pessoas dormindo em cadeiras ou em folhas de papelão no chão.

Em algumas áreas, a eletricidade e a água foram cortadas desde segunda-feira e há pessoas desesperadas tirando água de canos quebrados. Outros denunciam que seus poucos suprimentos estão podres.

O presidente Cyril Ramaphosa descreveu a tragédia como algo "nunca visto" no país e declarou estado de catástrofe.

O governo desbloqueou um pacote de emergência por 63 milhões de euros e o milionário sul-africano Patrice Motsepe doou 1,9 milhão de euros "ao povo que sofre".

As ONGs se mobilizaram com distribuição de alimentos e longas filas se formaram para conseguir um saco de arroz, macarrão e também garrafas de água e colchões.

No dia anterior, um grupo de voluntários começou a limpar as praias, que costumam estar cheias de famílias e turistas.

As chuvas também atingiram a província vizinha de Eastern Cape e houve inundações na área da cidade costeira de Port St Johns.

A ONG local Gift of the Givers registrou quatro mortes.

"O corpo de uma criança foi encontrado ontem", disse Corene Conradie, coordenador desta província, à AFP. “Há inúmeras casas destruídas e pelo menos uma centena de famílias estão atualmente desabrigadas”, disse ele.

A África do Sul geralmente escapa das tempestades que atingem países vizinhos como Moçambique e Madagascar todos os anos durante a temporada de ciclones, de novembro a abril.
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